Papa Francisco na canonização de 10 santos: ‘Santidade não é heroísmo pessoal’

Vatican Media

Na primeira cerimônia de canonização desde o início da pandemia de COVID-19, realizada no domingo, 15, o Papa Francisco incluiu dez nomes na lista das pessoas que a Igreja reconhece como santos. Entre eles, dois conhecidos mártires do século XX: o sacerdote, eremita e escritor espiritual Charles de Foucauld, morto por assaltantes na Argélia, em 1916, e o padre carmelita, jornalista e professor Tito Brandsma, assassinado no campo nazista de Dachau, na Alemanha, em 1942. 

Além deles, foram canonizados Lázaro Devasahayam, César de Bus, Luís Maria Palazzolo, Giustino Maria Russolillo, Marie Rivier, Maria Francisca de Jesus Rubatto, Maria de Jesus Santocanale e Maria Domenica Mantovani (leia mais sobre os novos santos). 

O Papa Francisco recordou, em sua pregação, que a santidade é um caminho para todos, e que não depende apenas de méritos pessoais – em vez disso, afirmou, nasce do amor de Deus que, ao ser reconhecido, se manifesta em forma de serviço aos outros. 

“Criamos um ideal de santidade fundado demais sobre nós mesmos, sobre heroísmo pessoal, capacidade de renúncia, sacrificar-se para conquistar um prêmio”, disse o Pontífice na homilia, alertando que essa visão distorcida separou a ideia de santidade da vida comum. “Temos que abraçá-la no cotidiano, na poeira da estrada, na vida concreta”, declarou. Citando Santa Teresa D’Ávila, ele notou que a santidade se encontra “entre as panelas da cozinha”. 

Isso para dizer que “a vida cristã é algo muito simples, que às vezes complicamos demais”. Nas palavras do Papa Francisco, a santidade só é uma meta alcançável porque “Deus nos amou primeiro”, algo que “não podemos esquecer nunca”. Ou seja, “ao centro [da nossa fé] não está nossa capacidade, os nossos méritos, mas o amor incondicional e gratuito de Deus, o qual não fizemos por merecer”. 

‘SOMOS AMADOS’ 

Deus nos ama primeiro que nós o amemos, acrescentou o Papa. “Somos amado por Ele antes mesmo que alguém nos ouvisse chorar ou sorrir. Ele nos esperava e nos ama”, disse. “Esta é a nossa identidade, nossa força: amados por Deus!” 

Os santos são aqueles que escutaram as palavras de Jesus e as colocaram em prática, disse o Pontífice. Referindo-se à leitura do Evangelho segundo São João (13,34), o testamento que Cristo deixou é muito claro e muito simples: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. 

“Jesus nos ama até o fim, até o dom total de si mesmo”, comentou o Papa. Portanto, servir e dar a vida aos irmãos e irmãs é a verdadeira santidade: “Ou seja, não se trata de colocar em primeiro lugar os próprios interesses”, tampouco mera- mente oferecer alguma coisa concreta aos que precisam, mas, em vez disso, a santidade é “doar a si mesmo”. 

E acrescentou: “Não existe santidade de fotocópia. Ela é original, e cada um a realiza do seu jeito”. Na base do nosso “ser cristão” não estão doutrinas e as obras, mas “o estupor de descobrir-se amados, antes de qualquer resposta. Enquanto o mundo tenta nos convencer, muitas vezes, de que temos valor somente se produzimos resultados, o Evangelho nos recorda a verdade da vida: somos amados”, completou o Pontífice. 

UMA FAMÍLIA HUMANA 

Por causa das dores no joelho, causadas por problemas nos ligamentos, o Papa Francisco chegou de carro à missa, celebrada na Praça São Pedro. Paramentou-se próximo do altar e passou a maior parte do tempo sentado, levantando-se apenas durante momentos essenciais, como a liturgia eucarística. 

Durante a oração do Regina Coeli, rezada logo após a missa, ele refletiu brevemente sobre como os novos santos podem inspirar nossas sociedades. “É bonito constatar que, no testemunho que deram do Evangelho, esses santos favoreceram o crescimento espiritual e social de suas respectivas nações e da inteira família humana”, disse. 

“Enquanto no mundo crescem, tristemente, as distâncias e aumentam as tensões e as guerras, os novos santos inspiram soluções de conjunto, caminhos de diálogo, especialmente nos corações e nas mentes daqueles que ocupam cargos de grande responsabilidade e são chamados a ser protagonistas de paz, e não de guerra”, exortou o Papa Francisco. 

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