Participantes do Sínodo enfatizam ‘experiência sem precedentes’ e pedem continuidade de amplo processo de escuta

‘Carta ao Povo de Deus’ foi publicada pelos participantes da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que ocorre até o dia 29, no Vaticano

Fotos: Vatican Media

“Queridas irmãs e irmãos, ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vós, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vós. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e, também, os vossos receios”.

Assim é iniciada a “Carta ao Povo de Deus”, lançada na quarta-feira, 25, pelos participantes da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que será concluída no domingo, 29, no Vaticano, fruto de um pedido do Papa Francisco e cujo itinerário se deu por “um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para ‘caminhar juntos’, sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo”, também consta no parágrafo inicial da carta.

CLIQUE E LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA

UMA EXPERIÊNCIA SEM PRECEDENTES

Na carta, os participantes da assembleia sinodal afirmam que esta foi uma experiência sem precedentes na história da Igreja, e listam alguns motivos para tal conclusão, entre os quais o fato de pela primeira vez um papa ter convidado homens e mulheres para sentar-se à mesma mesa “para participarem não só nos debates, mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros”.

Também é destacada a utilização do método do diálogo no Espírito, por meio do qual “partilhamos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentamos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates”.

EM COMUNHÃO COM AS VÍTIMAS DAS GUERRAS E MIGRANTES

Os participantes  recordam que a assembleia transcorreu em meio a um momento de conflitos e desigualdades em diferentes partes do planeta, os quais “ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que alguns de nós provinham de países onde a guerra deflagra. Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz”.

ESCUTA AO ESPÍRITO SANTO

“A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecumênica de abertura, experimentamos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. ‘A cruz é, de fato, a única cátedra Daquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que todos sejam um (Jo 17,21)’. Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiamo-Lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: Laudate Deum!’, recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos”, consta em outro trecho da carta.

CONVERSÃO PASTORAL E MISSIONÁRIA

Os participantes recordaram, ainda, que ao longo da assembleia sinodal sentiram o apelo premente à conversão pastoral e missionária.

“Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, alguns sem-teto que vivem perto da Praça São Pedro responderam: ‘Amor!’. Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus em 15 de outubro, no meio da nossa assembleia”, lê-se em outro trecho da carta.

Ao recordarem que daqui um ano, eles voltarão ao Vaticano para a segunda sessão desta assembleia sinodal, os participantes fazem votos de que neste período, todos na Igreja possam “participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra ‘sínodo’. Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, ‘Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abstratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (…), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um’ (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos”.

ESCUTA AOS EXCLUÍDOS E ÀS VÍTIMAS DE ABUSO

Os participantes ressaltam, também, que para progredir neste caminho, a Igreja precisa escutar a todos, começando pelos mais pobres. “Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: ‘Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos’ (Lc 10,21)!”.

De igual modo, ressaltam os participantes, é preciso que haja a escuta aos que “são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente, em algumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer”.

LEIGOS, FAMÍLIAS, MINISTROS ORDENADOS E CONSAGRADOS

Também é pedido que haja um amplo processo de escuta aos leigos, “mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória”.

De igual modo,  a escuta às famílias é apresentada como indispensável: “as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões”.

Igualmente as vozes dos ministros ordenados e dos religiosos consagrados são apresentadas como fundamentais para que progrida o discernimento vocacional: “os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que ‘a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido’ (Gaudium et spes 22), também está presente e atua”.

CHAMADOS A AMAR E SERVIR

A carta é concluída com os participantes reforçando o compromisso cristão de amor e serviço ao próximo, como ensinado e testemunhado por Cristo e a Virgem Maria:

“‘O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e a servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todos os âmbitos da sua missão. É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milénio’ (Papa Francisco, 17 de outubro de 2015). Não tenhamos medo de responder a este apelo. A Virgem Maria, a primeira no caminho, nos acompanha em nossa peregrinação. Nas alegrias e nas fadigas, ela mostra-nos o seu Filho que nos convida à confiança. É Ele, Jesus, a nossa única esperança!”

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários