Cardeal Hollerich abriu a quarta Congregação geral da assembleia sinodal. Trabalhos nos círculos menores prosseguem na terça-feira, 10

Aquele “todos, todos, todos” expresso pelo Papa Francisco, em Lisboa, para indicar a abertura total das portas da Igreja a cada pessoa, o relator geral do Sínodo, Cardeal Jean-Claude Hollerich, o reiterou na assembleia sinodal: “Todos.. .Todos…”. Mesmo quem “incomoda” porque com o seu jeito de ser parece “ameaçar a nossa identidade”.
“Se nos comportarmos como Jesus, daremos testemunho do amor de Deus pelo mundo. Se não conseguirmos, seremos parecidos com um clube com uma identidade.”, disse o Cardeal.
SEGUNDA FASE DOS TRABALHOS
Depois da pausa dominical, o Cardeal Hollerich, Relator geral do Sínodo sobre a Sinodalidade, abriu na segunda-feira, 9, os trabalhos da quarta Congregação Geral dedicada ao segundo módulo do Instrumentum laboris, documento que serve de esboço para os trabalhos.
“Uma comunhão que se irradia. Como ser mais plenamente sinal e instrumento de união com Deus e de unidade do gênero humano?”, é o tema do módulo em questão, o B1, sobre o qual se concentram os Círculos Menores e as reflexões, tanto na segunda quanto na terça-feira, 10.
Além do discurso do relator, a segunda-feira foi marcada pela leitura do Evangelho segundo São João (4,7-30), uma meditação do Padre Timothy Radcliffe e a apresentação dos “elementos teológicos” da professora Anna Rowlands. Depois, houve quatro testemunhos de três membros da Assembleia, que partilharam a experiência da sua Igreja local em relação aos temas do B1.
PASSAR DO ‘EU’ AO ‘NÓS’
Ilustrando o método de trabalho e as mudanças na composição dos Círculos Menores, o Cardeal Hollerich sublinhou que, se com o trabalho do primeiro Módulo a assembleia “recuperou o contato com a experiência de caminhar juntos do Povo de Deus, nestes dois anos”, com esta segunda parte se entra no cerne da questão com o exame da primeira das três questões que surgiram da fase consultiva, ou seja, a da escuta do Povo de Deus.
Os participantes do Sínodo deverão então confrontar-se nos próximos dias “com questões oportunas e concretas”, também graças ao “clima de colaboração” construído na semana passada em que “começamos a tecer relações e a construir laços, começamos a passar do eu ao nós”, disse ele.
Hollerich concentrou-se então no tema da “comunhão”, no centro desta segunda parte do Instrumentum laboris: “O Deus uno e trino criou a humanidade, cada ser humano; e este Deus, que é amor, ama toda a criação, cada criatura e cada ser humano de modo especial. O amor de Deus é tão grande que o seu poder salvífico está na forma como ele se manifesta. Como Igreja, como Povo de Deus, estamos nesta dinâmica de salvação. Nesta dinâmica estão os fundamentos da unidade do gênero humano”, afirmou o cardeal.
UM TESTEMUNHO
O Cardeal narrou uma experiência pessoal. É a história de uma família que se mudou da África para um país europeu: os membros desta família “lutaram para encontrar uma paróquia onde viver a sua fé. A paróquia católica que frequentavam inicialmente era uma paróquia de praticantes que vão à missa, mas a comunidade não oferecia um sentido mais profundo de comunhão. Eles se sentiram olhados de cima para baixo porque tinham hábitos religiosos diferentes. Eles se sentiram completamente excluídos”, disse o Cardeal Hollerich.
A família foi acolhida numa comunidade metodista onde recebeu “ajuda concreta para dar os primeiros passos no novo país”. “Acima de tudo, sublinhou o Cardeal, foram acolhidos como irmãos e irmãs, não como objetos de caridade, não eram simplesmente um meio para as pessoas que queriam fazer o bem. Eles foram recebidos como seres humanos que caminham juntos.”
“Quando ouvi este testemunho, veio-me à mente o meu país e a minha Igreja. Provavelmente, o mesmo teria acontecido ali, com a diferença de que não temos uma Igreja Metodista para acolhê-los”, confessou o Relator geral.
Em seguida, relançou a mensagem do Papa durante a JMJ, reiterada também durante a Missa de abertura do Sínodo, no dia 4 de outubro: “Todos estão convidados a fazer parte da Igreja”. “Todos… todos… todos Jesus estendeu esta comunhão a todos os pecadores. Estamos prontos para fazer o mesmo? Estamos prontos para fazer isso com grupos que podem nos incomodar porque o seu modo de ser parece ameaçar a nossa identidade?”, perguntou o cardeal.
DIÁLOGO ECUMÊNICO
Esta comunhão reflete-se também no ecumenismo. Outras perguntas foram feitas pelo relator geral do Sínodo: “Como podemos viver profundamente a nossa fé na nossa cultura sem excluir as pessoas de outras culturas? Como podemos nos comprometer com as mulheres e os homens de outras tradições religiosas em prol da justiça, da paz e da ecologia integral?”
NÃO A REFLEXÕES COMO TRATADOS TEOLÓGICOS
A reflexão sobre estas questões é o “que está em jogo” nesta segunda semana de trabalhos sinodais, sublinhou o Cardeal Hollerich. “Devemos pensar, devemos refletir, mas a nossa reflexão não deve assumir a forma de um tratado teológico ou sociológico. Devemos partir das experiências concretas, disse ele, das nossas pessoais e sobretudo da experiência coletiva do Povo de Deus que falou durante a fase de escuta”.
Os participantes do Sínodo trabalham nestes dois dias nos Círculos Menores. A composição mudou: não mais dividida por preferências linguísticas, mas também “temáticas”. “De qualquer forma, não estaremos em planetas diferentes… A peculiaridade de cada grupo tornará a conversa no plenário mais ampla”, disse o Cardeal Hollerich.
“Alguém me disse que as tensões vão aumentar com o B1. Não tenhamos medo das tensões – foi a sua recomendação final -, as tensões fazem parte do processo desde que nos consideremos irmãos e irmãs que caminham juntos”, enfatizou.
Fonte: Vatican News