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Santa Sé divulga relatórios preliminares dos grupos de estudos sobre temas tratados no Sínodo universal

Instituídos por Francisco em março de 2024, os grupos entregaram os relatórios do trabalho realizado até agora, a respeito de temas como a missão digital, o papel das mulheres, escolha dos bispos, ecumenismo e a liturgia na vida sinodal missionária da Igreja

Fotos: Vatican News/Arquivo

Vinte meses após sua criação por vontade do Papa Francisco – que desejava uma colaboração mais estreita entre os Dicastérios da Cúria Romana e a Secretaria Geral do Sínodo –, os dez grupos de estudo chamados a aprofundar as questões emergentes na dupla sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade divulgaram, na segunda-feira, 17, seus relatórios preliminares. Um passo adiante, após a apresentação dos primeiros relatórios durante a segunda sessão da assembleia, em outubro de 2024.

DOIS NOVOS GRUPOS

Vários temas: da missão no mundo digital aos ministérios e à participação feminina na Igreja; das relações com as Igrejas Orientais ao papel dos núncios e à escolha dos bispos; depois, o ecumenismo, as Igrejas Orientais, questões doutrinárias “controversas”, melhor definidas como “emergentes”, como, por exemplo, a violência contra as mulheres em contextos de guerra.

Juntamente com os relatórios, foram também apresentado o documento da Comissão Canônica e do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar (Secam) sobre o desafio da poligamia e, pela primeira vez, o do Grupo sobre A liturgia numa perspectiva sinodal. Este é um dos dois novos grupos que o Papa Leão XIV quis acrescentar à luz do Documento final, e que começou a trabalhar no final de julho de 2025.

O outro grupo, por sua vez, ainda está em constituição e diz respeito ao Estatuto das Conferências Episcopais, das Assembleias Eclesiais e dos Concílios Particulares.

PRORROGAÇÃO DA ENTREGA

Todos os Grupos foram convidados a entregar ao Papa as suas reflexões no final de junho de 2025. A morte de Francisco, a eleição de Leão XIV e a necessidade de mais tempo para os trabalhos tornaram necessário prolongar a data de entrega.

Leão XIV, em julho passado, concedeu a prorrogação e solicitou que os relatórios finais lhe fossem entregues, “na medida do possível”, até 31 de dezembro de 2025.

“Alguns grupos estão prestes a concluir seu trabalho, outros continuarão ainda nos próximos meses”, escreve o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral do Sínodo, em uma nota que acompanha o relatório preliminar.

LEIA A ÍNTEGRA DO RELATÓRIO (EM INGLÊS E EM ITALIANO)

OS RELATOS DOS GRUPOS

As relações com as Igrejas orientais: o primeiro relatório é sobre as relações entre as Igrejas católicas orientais e a Igreja latina, elaborado pelo Grupo de Estudo 1. Entre os temas que o Grupo se propõe desenvolver, está a possível revisão das normas do Direito canônico oriental.

O clamor dos pobres e da terra: o Grupo de Estudo 2 trabalhou sobre o tema da escuta do clamor dos pobres e da terra, entrando em contato com várias redes e Igrejas locais. O Grupo também recolheu mais de 200 contribuições de institutos religiosos femininos.

A missão no ambiente digital: o Grupo de Estudo 3 aprofundou a questão da missão da Igreja no ambiente digital, lançando a iniciativa “A Igreja te escuta” com as experiências de acompanhamento digital por parte de 1.618 missionários digitais de 67 países com jovens e pessoas que vivem à margem. Também foi importante o diálogo com a Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, cujos membros destacaram as questões éticas e de proteção nos contextos digitais.

A revisão da “Ratio” sobre os sacerdotes: um longo caminho é traçado no relatório do Grupo de Estudo 4, dedicado à Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, o documento de 2016 sobre a formação sacerdotal. A perspectiva é a de uma revisão da Ratio em chave sinodal, que possa acolher também a necessidade de “uma formação mais inserida na experiência do Povo de Deus”; momentos compartilhados entre leigos, consagrados, seminaristas; uma maior participação das mulheres e das famílias.

A participação das mulheres na vida da Igreja: o Grupo 5 abordou o tema da participação das mulheres na vida e na liderança da Igreja com referências às tensões críticas em relação ao clericalismo e ao machismo e às contribuições de Francisco e Leão XIV sobre este assunto. Quanto à questão do acesso das mulheres ao diaconato, tema para o qual o Papa Francisco “reativou” os trabalhos da Segunda Comissão de Estudo, o relatório preliminar explica que “foram enviados a esta Comissão todos os contributos emergentes dos trabalhos sinodais e relativos à questão em causa”. Os resultados do trabalho da Comissão serão divulgados em breve.

Relações entre bispos, vida consagrada, agregações eclesiais: o trabalho do Grupo de Estudo 6 analisou as relações entre bispos e consagrados, a colaboração entre Conferências Episcopais e Conferências dos Superiores Maiores, as relações entre agregações eclesiais e Igrejas locais.

Figura e ministério do Bispo: os critérios de seleção dos candidatos ao episcopado, com a participação dos bispos do território e dos fiéis; a formação inicial e permanente dos bispos; a função judicial do pastor; a natureza e o desenrolar das visitas ad limina são as diretrizes que orientaram o trabalho do Grupo de Estudo 7, que ouviu cerca de 200 pessoas nestes meses. Sobre o tema da seleção dos candidatos ao episcopado, o Grupo obteve do Papa Francisco, por meio do então Cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, “a faculdade de examinar as Instruções confidenciais” enviadas às Nunciaturas “sobre o procedimento para as nomeações episcopais nos territórios de competência” do Dicastério para os Bispos e para a Evangelização. Entre as necessidades que surgiram, está a de promover “um envolvimento mais incisivo dos bispos do território” nas Igrejas locais.

O papel dos Núncios: ao Grupo de Estudo 8 foi confiada a tarefa de “examinar” como o ministério dos representantes pontifícios “pode se desenvolver em uma perspectiva mais missionária e sinodal”. Entre os temas a serem aprofundados: o processo de seleção dos candidatos para a Academia e sua formação; a assistência aos membros do Serviço Diplomático nos primeiros anos de atividade; encontros regionais entre núncios; cuidados após a aposentadoria.

Questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”: destes aspectos tratou o Grupo de Estudo 9, partindo da reflexão sobre “uma conversão do pensamento e uma transformação das práticas em fidelidade contextual ao Evangelho de Jesus”. E também sobre questões que parecia adequado definir como “emergentes” mais do que controversas, tais como homossexualidade, conflitos e prática não violenta do Evangelho, violência contra as mulheres em situações de conflito armado. Sobre elas, especifica-se no relatório, o objetivo não é “dar soluções que sirvam para todos, mas fornecer alguns critérios de referência”. O horizonte é o “princípio da pastoralidade”, ou seja, a lógica pela qual “não há anúncio do Evangelho de Deus sem o reconhecimento e a promoção da subjetividade do outro”.

O caminho ecumênico: sinodalidade e unidade dos cristãos, dois temas interdependentes. Partindo desse princípio, o Grupo 10 aprofundou os frutos do caminho ecumênico em relação a três questões: sinodalidade e primado petrino; hospitalidade eucarística, com especial atenção aos casais e famílias interconfessionais; o fenômeno das comunidades “não denominacionais” e os movimentos de “despertar” de inspiração cristã.

A LITURGIA EM UMA PERSPECTIVA SINODAL

Outro Grupo de Estudo – desejado, como já foi dito, pelo Papa Leão XIV – é o da liturgia que, pela primeira vez, apresenta o seu trabalho. Coordenado pelo Dicastério para o Culto Divino, em colaboração com a Secretaria Geral do Sínodo, a equipe cumprirá o seu mandato a partir da reflexão sobre a ligação entre a celebração eucarística e a vida sinodal missionária da Igreja. Entre os temas em análise, está também o de “como promover, em particular, o reconhecimento do papel das mulheres, sobretudo onde estas continuam a sofrer formas de discriminação, também através da valorização, nos lecionários litúrgicos, dos testemunhos bíblicos sobre o papel das mulheres na história da salvação”.

COMISSÃO CANÔNICA

Aos relatórios preliminares dos vários Grupos de Estudo, acrescenta-se o da Comissão Canônica, instituída durante a primeira Sessão do Sínodo em 2023. Desde então, a Comissão reuniu-se oito vezes e abordou os temas do laicato/mulher; Conferências Episcopais/Concílios particulares; organismos de participação. Sobre estes temas, avalia-se a possibilidade de revisões na normativa atual.

POLIGAMIA

Sobre o tema da poligamia, a Igreja na África constituiu um grupo de especialistas no seio da Secam. Doze especialistas provenientes de ilhas e regiões, especialistas em direito canônico, antropologia, estudos bíblicos e pastoral, refletem sobre como “promover um discernimento teológico e pastoral sobre a poligamia” e como acompanhar as “pessoas em uniões poligâmicas que se aproximam da fé”.

Fonte: Vatican News

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