São João Batista prepara o povo para acolher o Salvador

A solenidade daquele que veio para ‘dar testemunho da Luz’ é celebrada por toda a Igreja em 24 de junho

‘O Batismo de Cristo’, obra de Andrea Del Verrocchio e Leonardo da Vinci, do século XV
Reprodução

“Não tenha medo, Zacarias! Deus ouviu o seu pedido e a sua esposa Isabel vai ter um filho, e você lhe dará o nome de João. Você ficará alegre e feliz, e muita gente se alegrará com o nascimento do menino, porque ele vai ser grande diante do Senhor. Ele não beberá vinho, nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará cheio do Espírito Santo. Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor, seu Deus. Caminhará à frente deles, com o Espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto” (Lc 1,13-17).

Assim anunciou o Anjo do Senhor a Zacarias sobre o filho que ele e sua esposa Isabel – já idosa e considerada estéril – teriam: João, cujo nome significa “Deus dá a graça”.

E a São João Batista, o Senhor concedeu a graça de “dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas apenas a testemunha da luz” (Jo 1,6-8).

“Em 24 de junho, celebramos a solenidade do Nascimento de São João Batista. Com exceção da Virgem Maria, o Batista é o único santo do qual a liturgia festeja o nascimento, e isso porque ele está estreitamente relacionado com o mistério da Encarnação do Filho de Deus”, explicou o Papa Bento XVI, no Angelus de 24 de junho de 2012.

O PRECURSOR

Na juventude, João Batista retirou-se para o deserto para uma vida ascética, amadurecendo a graça de Deus que lhe foi conferida. Iniciou a pregação sobre a vinda do Senhor nas margens do Rio Jordão, por volta dos anos 27 e 28 d.C. Ele realizava o batismo de conversão para o perdão dos pecados. Enviados pelas autoridades dos judeus, sacerdotes e levitas foram até o Batista para saber se ele era o Messias ou algum profeta. “Eu sou uma voz gritando no deserto: ‘Aplainem o caminho do Senhor’, como diz o profeta Isaías” (Jo 1,23), respondeu-lhes.

“Eu batizo com água, mas no meio de vós existe alguém que não conheceis, e quem vem depois de mim. Eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele’” (Jo 1, 26-27), dizia João às multidões.

Ao ver Jesus de perto pela primeira vez, o Batista exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Este é aquele de quem eu falei: ‘Depois de mim, vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim’. Eu também não o conhecia, mas vim batizar com água, a fim de que Ele se manifeste a Israel” (Jo 1,29-31).

Ao batizar o Cristo, viu o Espírito Santo descer do céu e pousar como uma pomba sobre o Salvador. O Batista, a propósito, ciente de estar perante o Filho de Deus, até teria relutado em batizá-lo: “Jesus foi para da Galileia para o Rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou” (Lc 3,13-17).

MODELO DE CRISTÃO

No evangelho segundo São Mateus, há uma passagem em que o próprio Cristo fala sobre o papel de João Batista na história da salvação. “É de João que a Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o Teu caminho diante de Ti’. Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino do Céu é maior do que ele” (Mt 11,10-11).

“Os quatro Evangelhos dão grande realce à figura de João Batista, como profeta que conclui o Antigo Testamento e inaugura o Novo, indicando em Jesus de Nazaré o Messias, o Ungido do Senhor”, disse o Papa Bento XVI no Angelus de 24 de junho de 2012.

O Papa Francisco, na audiência geral de 23 de junho de 2021, destacou que a festa da Natividade de São João Batista “nos ajuda a aprender do Precursor de Jesus a capacidade de testemunhar o Evangelho com coragem, para além das diferenças, conservando a concórdia e a amizade que fundamentam a credibilidade de qualquer anúncio de fé”.

EVANGELIZADOR COERENTE E EXIGENTE

“João Batista dizia às multidões que iam para ser batizadas por ele: ‘Raça de cobras venenosas, quem lhes ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas para provar que vocês se converteram, e não comecem a pensar: Abraão é nosso pai. Porque eu lhes digo: até destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão. O machado já está posto na raiz das árvores. E toda a árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo’” (Lc 3,7-9).

Também exortava que as pessoas partilhassem o que tinham. “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem. E quem tiver comida, faça a mesma coisa” (Lc 3,11). Era uma espécie de prenúncio das obras de misericórdia que seriam anunciadas pelo próprio Cristo (cf. Mt 25, 31-46).

ARAUTO DA VERDADE

São João Batista foi morto entre os anos 31 e 32 d.C, por levantar sua voz diante de um casamento ilegal. Herodíades era esposa de um irmão de criação de Herodes, mas desfez a primeira união para casar-se com o rei. João denunciou o fato e foi preso. Durante a festa de aniversário de Herodes, a filha de Herodíades, Salomé, dançou em homenagem ao rei, e ele concedeu-lhe um pedido. Herodíades, após consultar a mãe, pediu ao rei a cabeça de São João. Herodes cumpriu o prometido e mandou que matassem a João.

“João Batista não se limita a pregar a penitência e a conversão mas, reconhecendo Jesus como ‘o Cordeiro de Deus’ que veio para tirar o pecado do mundo (cf. Jo 1, 29), tem a profunda humildade de mostrar em Jesus o verdadeiro Enviado de Deus, pondo-se de lado, a fim de que Jesus possa crescer, ser ouvido e seguido. Como último gesto, João Batista testemunha com o sangue a sua fidelidade aos mandamentos de Deus, sem ceder nem desistir, cumprindo a sua missão até ao fim (…) E ele dizia a verdade, e assim morreu por Cristo, que é a Verdade. Precisamente pelo amor à Verdade, não cedeu a compromissos nem teve medo de dirigir palavras fortes a quantos tinham perdido o caminho de Deus”, disse o Papa Bento XVI na audiência geral de 29 de agosto de 2012, data em que anualmente a Igreja celebra o martírio deste Santo.

A PIEDADE POPULAR SOBRE A FOGUEIRA DE SÃO JOÃO

A Virgem Maria era prima de Isabel, a mãe de São João, e ao chegar à casa de sua parente, João se agitou no ventre materno para saudar o Salvador (cf. Lc 1,39-56). A piedade popular perpetuou a história de que antes de Maria ter partido de volta para Nazaré, Isabel combinou com ela que tão logo João nascesse, acenderia uma fogueira para que a prima, mesmo distante, soubesse do nascimento. E assim o fez. Essa é uma das explicações para a tradição da “Fogueira de São João”, acessa nos festejos juninos, que chegaram ao Brasil com os missionários jesuítas. Há inclusive um paralelismo nas celebrações da natividade de Jesus Cristo e de São João: o Salvador nasceu em 25 de dezembro, no solstício de inverno (no hemisfério Norte), seis meses após o Batista ter nascido no solstício de verão, em 24 de junho.

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