Simpósio no Vaticano aborda as vocações do homem e da mulher, ‘criados à imagem de Deus’

Vatican Media

Um simpósio de dois dias organizado no Vaticano refletiu sobre a complementaridade entre homem e mulher no contexto da promoção das vocações dentro da Igreja. O evento, organizado pelo Centro de Pesquisa e Antropologia das Vocações (CRAV, na sigla em francês) teve como principal interlocutor o Cardeal Marc Ouellet, prefeito emérito do Dicastério para os Bispos. O título do encontro, que ocorreu nos dias 1º e 2, na Sala do Sínodo, foi “Homem-mulher imagem de Deus. Por uma antropologia das vocações.”

“A Igreja está numa profunda busca sinodal para desenvolver a participação ativa de todos os fiéis, com vista a uma comunhão eclesial mais profunda que tenha impacto na missão”, disse o Cardeal, em entrevista ao Vatican News. “Uma Igreja sinodal crescerá na medida em que for além da discussão de ideias para encorajar o compromisso das pessoas e das vocações. Para isso, o tema fundamental do sacerdócio colocou em evidência a participação de todos os batizados no sacerdócio de Cristo e no serviço pastoral que o ministério ordenado assume em benefício da comunidade sacerdotal dos batizados”, acrescentou.

Os participantes foram, principalmente, especialistas em Sagrada Escritura, Filosofia e Teologia, mas também em outras ciências humanas e Pedagogia.

A questão central do encontro foi “A quem se dirige o apelo de Deus?” Na interpretação do Cardeal Ouellet, é preciso apresentar respostas que correspondam às tendências culturais do mundo de hoje.

“A experiência comum das nossas sociedades secularizadas é a da solidão, do individualismo, do consumismo excessivo, dos vícios múltiplos, dos suicídios e assim por diante. Estes fenômenos têm as suas raízes no declínio da família, na ausência de pontos de referência, na educação sujeita às ideologias, na globalização da indiferença e na crise da esperança. O que a antropologia cristã nos oferece?”, refletiu.

PALESTRA INAUGURAL

O simpósio teve 16 palestrantes, entre eles sacerdotes, religiosas e leigos. O primeiro encontro, conduzido pela doutora Michele Schumacher, teóloga da Universidade de Friburgo, na Suíça, foi sobre a “crise antropológica e a teologia das vocações”. Em sua visão, a “crise antropológica” da sociedade de hoje é definida por uma carência de “uma visão da pessoa humana que é determinada pelo ‘bem’ caracterizado pela natureza – uma linha de pensamento enraizada em São Tomás de Aquino.

Em vez disso, o bem é relativo, com um entendimento redutivo da natureza humana”, declarou. Propõe-se “a liberdade numa ausência completa de natureza”, disse ela. Em sua reflexão filosófica e teológica, ela afirmou que o bem não pode ser definido somente pelo que uma criatura deseja se tornar, mas também pelo que ela foi criada para ser. “Sempre que amamos uma coisa, desejando-a – diz São Tomás –, nós a apreendemos como parte do nosso bem-estar. Uma coisa é considerada boa para mim quando contribui para o meu bem, minha perfeição. Mas também porque é determinada por minha natureza.”

O simpósio também abordou temas sobre a sexualidade humana, a “cultura vocacional” e sua presença nas escolas de identidade católica, a “imagem de Deus no Antigo e no Novo Testamento”, entre outros temas de Cristologia, reflexões e testemunhos sobre a vida consagrada.

PAPA FRANCISCO: A VIDA HUMANA É VOCAÇÃO

“O objetivo desta conferência é, antes de tudo, considerar e valorizar a dimensão antropológica de cada vocação”, disse o Papa Francisco na abertura do evento, na sexta-feira, dia 1º. “Isso nos remete para uma verdade elementar e fundamental, que hoje precisamos redescobrir em toda a sua beleza: a vida do ser humano é uma vocação.”

E acrescentou: “Cada um de nós, tanto nas grandes escolhas que afetam um estado de vida quanto nas muitas ocasiões e situações em que elas se encarnam e tomam forma, descobre e se expressa como chamado, como uma pessoa que se realiza ao ouvir e responder, compartilhando seu ser e seus dons com os outros para o bem comum.”

O Pontífice também lamentou as tentativas de “cancelar as diferenças” entre homem e mulher, pois isso elimina a “verdade antropológica fundamental”, que é a de “responder plenamente ao desejo de realização humana e de felicidade que habita em nosso coração”.

Nesse sentido, ele criticou as chamadas “ideologias de gênero”, que, nas palavras de Francisco, “são o pior perigo” dos nossos tempos. “Eliminar a diferença é eliminar a humanidade. Homem e mulher, no entanto, estão em uma fecunda tensão”, refletiu. O ser humano não é somente feito de “necessidades materiais ou exigências primárias”, mas o homem e a mulher são criados “à imagem e semelhança de Deus e são imagem do Criador; portanto, têm dentro de si um desejo de eternidade e de felicidade semeado pelo próprio Deus” e, por isso, são chamados a realizar uma vocação específica, disse o Papa.

Cada pessoa não somente “tem” uma missão, mas “é” uma missão, disse ele. Cada batizado vive essa missão na própria vida. Citando palavras de São John Henry Newman, afirmou: “Fui criado para fazer e ser alguém para o qual ninguém mais foi criado. Ocupo meu próprio lugar nos conselhos de Deus, no mundo de Deus: um lugar ocupado por ninguém mais. Pouco importa se sou rico ou pobre, desprezado ou estimado pelos homens: Deus me conhece e me chama pelo nome.”

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