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Se as primeiras etapas do Sínodo sobre a sinodalidade serviram para abrir o leque de questões possíveis a serem pensadas – e elas são muitas –, agora chegou a hora de organizar as informações, dividir a ação em diferentes frentes e focar. Na quinta-feira, 14, a Secretaria Geral do Sínodo apresentou como esse trabalho será realizado. A questão central do Sínodo, daqui até a assembleia geral de outubro de 2024, é a seguinte: “Como ser uma Igreja sinodal em missão?”
“Já começamos a colher os frutos deste processo sinodal, temos que celebrar, agradecer a Deus e ao povo de Deus”, afirmou o Cardeal Mario Grech, Secretário Geral do Sínodo, em coletiva de imprensa. “A Igreja se orienta pela Palavra de Deus, pela Tradição e pelo Magistério. Mas também podemos encontrar orientação na ‘experiência vivida’ das realidades locais. É isso que estamos fazendo”, completou.
NOVAS DIVISÕES
Partindo do documento-síntese produzido no ano passado, foi possível separar o trabalho em três partes. Primeiro, continuam a ser consultadas de forma dinâmica as igrejas locais em todo o mundo. Segundo, a questão central acima deve ser aprofundada – e isso se fará por meio das conferências dos bispos, grupos de trabalho do Sínodo e um encontro internacional para consultar párocos de todo o mundo, no Vaticano.
Separadamente, o Papa Francisco solicitou à Secretaria Geral do Sínodo que coordenasse a criação de dez grupos de estudo, envolvendo especialistas, pastores, pessoas da própria Secretaria e também representantes dos Dicastérios da Cúria Romana. A depender do tema, um Dicastério diferente vai ser envolvido. Esses grupos de estudos poderão trabalhar até junho de 2025, de forma destacada da assembleia geral. Devem seguir uma dinâmica sinodal, mas passam a atuar de forma independente da assembleia de outubro.
SÃO ELES:
1. Alguns aspectos das relações entre as Igrejas Católicas Orientais e a Igreja Latina;
2. A escuta do clamor dos pobres;
3. A missão no ambiente digital;
4. A revisão da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis numa perspectiva missionária sinodal;
5. Algumas questões teológicas e canônicas em torno de formas ministeriais específicas;
6. A revisão, numa perspectiva sinodal e missionária, dos documentos que regulam as relações entre bispos, vida consagrada e agregações eclesiais;
7. Alguns aspectos da figura e do ministério do bispo (em particular: critérios de seleção dos candidatos ao episcopado, função judicial do bispo, natureza e condução das visitas ad limina Apostolorum) numa perspectiva missionária sinodal;
8. O papel dos Representantes Pontifícios (núncios) numa perspectiva sinodal missionária;
9. Critérios teológicos e metodologias sinodais para um discernimento partilhado de questões doutrinais, pastorais e éticas controversas;
10. A recepção dos frutos do caminho ecumênico nas práticas eclesiais.
Por fim, três comissões continuam a apoiar esse trabalho todo: a Comissão Teológica Internacional, a Pontifícia Comissão Bíblica e uma Comissão Canônica. Nas palavras do Cardeal Jean-Claude Hollerich, Relator-geral do Sínodo sobre a sinodalidade, “agora é a hora de aprofundar a questão central do sínodo”, sobre a Igreja em missão.
APROFUNDAR O ‘COMO’
De acordo com a Irmã Simona Brambilla, Secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, chegou a hora de se concentrar em “como” conduzir a Igreja sinodal. “Não se trata de um sínodo sobre este ou aquele tema, mas da sinodalidade em si. Dessa experiência não se volta atrás”, declarou. “Vai-se em frente, ou melhor, dentro, em profundidade.”
Consultor do Sínodo, o Padre Piero Coda, teólogo, disse que a questão central é “pertinente e exigente”, pois se desenrola em três níveis: as dioceses, as regiões do mundo e a Igreja universal. É preciso refletir sobre os métodos para construir a sinodalidade, mas também sobre os lugares e ambientes mais adequados.
Não se descarta uma revisão do Código de Direito Canônico
Questionado pelo O SÃO PAULO sobre a possibilidade de o Sínodo levar a uma nova revisão ampliada do Código de Direito Canônico – conjunto de leis que normatiza e organiza o funcionamento da Igreja Católica – o Prefeito do Dicastério para os Textos Legislativos, Dom Filippo Iannone, não descartou essa possibilidade.
“Toda reforma precisa de normas para se tornar operativa”, disse ele, na quinta-feira, 14. “O Código é uma lei única, orgânica, articulada. Mudar alguns cânones [artigos] pode exigir alterar outros”, explicou ainda. No momento, entretanto, as revisões do Sínodo se concentram sobre o segundo livro do Código, que se refere ao “povo de Deus”.
Trata-se dos “direitos e deveres fundamentais dos fiéis como indivíduos e associações”, comentou Dom Iannone em sua resposta. “As intervenções que se farão a partir daqui vão depender do direcionamento dos trabalhos do Sínodo”, concluiu.