Bento XVI no Oriente Médio: ‘Quem quer construir a paz, deve deixar de ver no outro um mal a ser eliminado’

Em viagem apostólica ao Líbano, em setembro de 2012, Sumo Pontífice estimulou tolerância religiosa e fim da violência

L’Osservatore Romano

 “Venho ao Líbano como peregrino de paz, como amigo de Deus e como amigo dos homens”. Em meio aos incessantes conflitos no Oriente Médio, o Papa Bento XVI realizou, de 14 a 16 de setembro de 2012, a 24ª viagem apostólica internacional de seu pontificado. 

A visita do Pontífice ocorreu no momento em que a Síria, país vizinho ao Líbano, enfrentava sangrentos confrontos entre governo e manifestantes contra a ditadura de Bashar al-Assad, e o mundo islâmico passava por violentas manifestações por conta de um vídeo produzido nos Estados Unidos denegrindo a imagem do profeta Maomé. Durante os três dias no Líbano, Bento XVI defendeu a cultura de paz entre os povos e estimulou a tolerância religiosa. 

Após a chegada a Beirute, capital do Líbano, o Sumo Pontífice foi a Basílica Grego-melquita de São Paulo, em Harissa, onde promulgou a exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente, documento final do Sínodo dos Bispos para o Oriente Médio, realizado em 2010. O Papa convidou a todos a permanecerem na verdade e a cultivar a pureza da fé. 

No segundo dia de visita, em discurso para responsáveis políticos e religiosos no palácio presidencial de Baabda, Bento XVI pediu que os povos do Oriente Médio se oponham à violência verbal e física e defendeu o fim dos atentados na região. 

Em missa com a participação de 25 mil jovens, o Papa ouviu relatos sobre as apreensões e temores das novas gerações, e dois jovens destacaram ser necessária “uma presença ativa da Igreja num Oriente Médio, que se curva sob o peso do ódio, do medo, do desespero e do sofrimento”. 

Em resposta, Bento XVI destacou o exemplo do Líbano como “terra de acolhimento, de convivência, com esta capacidade incrível de adaptação” e comentou que toda a região precisa compreender que “os muçulmanos e os cristãos, o Islã e o Cristianismo, podem viver juntos, sem ódio e no respeito das crenças de cada um, para construírem juntos uma sociedade livre e humana”. O Papa exortou os jovens a serem “os mensageiros do Evangelho da vida e dos valores da vida” e de se oporem a práticas como o aborto, violência, desprezo do outro, injustiça e a guerra. 

No último dia da visita, uma multidão de 250 mil pessoas uniu-se ao Papa para a celebração da missa, que marcou a entrega solene e simbólica da exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Medio Oriente aos patriarcas católicos do Oriente Médio e aos presidentes das Conferências Episcopais da Turquia e do Irã. 

Após a missa, na oração do Ângelus, Bento XVI reiterou o pedido de paz ao Oriente Médio. “Faço apelo à comunidade internacional; faço apelo aos países árabes para que, como irmãos, proponham soluções viáveis que respeitem a dignidade de cada pessoa humana, os seus direitos e a sua religião. Quem quer construir a paz, deve deixar de ver no outro um mal a ser eliminado; não é fácil ver no outro uma pessoa para respeitar e amar, e todavia é preciso consegui-lo, se se deseja construir a paz, se se quer a fraternidade. Que Deus conceda ao vosso país, à Síria e a todo o Oriente Médio o dom da paz dos corações, o silêncio das armas e o fim de toda a violência”. 

Ao final da visita, já no aeroporto internacional Rafiq Hariri, em Beirute, o Papa agradeceu a acolhida do povo libanês. “O mundo árabe e o mundo inteiro verão, nestes tempos conturbados, cristãos e muçulmanos reunidos para celebrar a paz”, expressou. 

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