Com um número recorde de participantes, 442 dos atuais 486 bispos do País, a 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (AG CNBB) acontece até a sexta-feira, 19, em Aparecida (SP). Entre os diversos temas abordados pelo episcopado brasileiro, destaca-se o processo de elaboração das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
O processo de construção do documento, antes previsto para ser concluído em 2023, foi prorrogado para ser finalizado em 2025, a fim de que sejam aprofundados os desafios atuais da evangelização e contemplados os frutos do caminho sinodal proposto pelo Papa Francisco.
“A identidade e a missão da Igreja não é outra que evangelizar, ser sacramento de salvação no mundo. Contamos com uma tradição belíssima capaz de assegurar que a oportunidade que nos apresenta não pode ser desperdiçada e, ao mesmo tempo, somos convidados a avaliar e talvez renovar com critérios evangélicos as estruturas para estarem verdadeiramente a serviço do Evangelho e da evangelização”, afirmou Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre (RS) e Presidente da CNBB, na sessão de abertura da Assembleia, no dia 10.
‘CONVERSA NO ESPÍRITO’
Para a reflexão do tema central, foi adotada pela primeira vez na Assembleia Geral a metodologia do discernimento comunitário conhecida como “Conversa no Espírito”, utilizada na etapa continental do Sínodo (2021-2024) e pelos padres sinodais na primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dosBispos, em outubro de 2023, em Roma.
Os bispos brasileiros refletiram a partir do Instrumento de Trabalho elaborado para a Assembleia, distribuídos em 45 mesas sinodais, organizadas como pequenas comunidades, sendo aproximadamente dez prelados em cada uma delas.
O método previu três rodadas, sempre precedidas de um momento de oração e silêncio. Na primeira, todos partilharam seus pensamentos e sentimentos em relação à questão apresentada. O convite era para focar a escuta do outro. Na segunda, cada um falou sobre o que mais chamou a atenção na escuta realizada. O convite era enfatizar o que mais tocou e desafiou cada um. Na terceira rodada, identificaram-se os pontos-chave e construiu-se um consenso sobre os elementos centrais que surgiram a partir do discernimento em grupo iluminado pelo Espírito.
Dom Leomar Brustolin, Arcebispo de Santa Maria (RS) e Coordenador da Comissão do Tema Central, explicou à imprensa que o texto trabalhado pelos bispos foi estruturado a partir de três aspectos fundamentais: escutar os sinais dos tempos, discernir em vista da conversão pastoral e, por fim, propor caminhos para a missão.
Sobre o aspecto missionário, Dom Leomar sublinhou que, na nova proposta de diretrizes, a missão não é abordada apenas como uma das várias dimensões da Igreja, mas uma realidade transversal urgente de todas as diretrizes.
Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, ressaltou que essa metodologia permite que se busque ouvir mais o que o Espírito Santo tem a dizer do que simplesmente uma argumentação a partir dos próprios gostos e opiniões.
DEMAIS TEMAS
Outros temas e informes permearam a intensa programação da Assembleia, tais como: inteligência artificial; Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam); Comissão Comunhão e Partilha; Pontifício Colégio Pio Brasileiro; Comissão Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial e o projeto Igrejas Irmãs; Ministérios Laicais; Estatuto e Regimento da CNBB; Comissão para a Causa dos Santos; Comissão Especial para a Amazônia; Congresso Missionário Nacional; Acordo Brasil-Santa Sé; COP 30; Comissão Especial para os Bispos Eméritos; Eleições Municipais; Campanhas e Organismos do Povo de Deus.
RETIRO
Nos primeiros dois dias de Assembleia, os bispos realizaram seu retiro espiritual, que, este ano, teve como pregador o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano. O Purpurado meditou sobre o tema da sinodalidade, destacando as três diretrizes propostas pelo Papa Francisco: comunhão, participação e missão, convidando o episcopado a “contemplar em silêncio e saborear nas profundezas do nosso espírito a beleza da Igreja sinodal, como manifestação da própria vida trinitária”.
O Cardeal Parolin ressaltou que a “Igreja, concebida independentemente de Cristo, perde todo o seu significado, perde a sua própria identidade”.
Em entrevista ao Vatican News, o Purpurado disse estar impressionado com o número de bispos no Brasil e como se empenham na evangelização, um desafio diante da crescente secularização na América Latina, com um número crescente de pessoas que vivem como se Deus não existisse.
SERVIR A CRISTO E SEU EVANGELHO
“Os trabalhos aos quais nos dedicamos nestes dias de Assembleia, como bispos no Brasil, associam-se à missão que o Senhor e a Igreja nos confiaram: pastores nas dioceses para servir ao Senhor e ao seu Evangelho”, afirmou Dom João Justino, Arcebispo de Goiânia (GO) e 1º Vice-presidente da CNBB, na homilia da missa da terça-feira, 16. “Tudo que fazemos aqui e nas nossas dioceses é porque nós O encontramos, nós O amamos e nós O servimos. Nossa vida se sustenta Nele, o Pão descido do céu, o Pão da vida, Jesus Cristo, Pão partido para um mundo novo”, ressaltou.
Ainda sobre os trabalhos da Assembleia, o Arcebispo de Goiânia acrescentou: “Nada estamos fazendo diferente do que fizeram os apóstolos de Jesus, isto é, eles consideraram os desafios de seu tempo e encontraram as respostas, na escuta do Espírito, para levar adiante o projeto do Reino de Deus”.