A solidariedade vinda do exterior para com os gaúchos

Capela Nossa Senhora do Monte Claro/Arquidiocese de Porto Alegre

A Comunidade polonesa mobilizada para auxiliar o Rio Grande do Sul. A Capela Nossa Senhora do Monte Claro, no bairro São Geraldo, foi inundada pelas águas no início do mês de maio. O pároco Padre Zdzislaw (Dislau) Malczewski, precisou ser resgatado de barco, pois estava abrigado na casa paroquial, no segundo andar. 

A congregação religiosa a qual pertence, com sede na Polônia, está se mobilizando para arrecadar doações para reconstrução da capela e ajuda a população gaúcha. Movimento semelhante ocorre na Universidade São João Paulo II, em Lublin, que também está organizando o envio de doações ao Estado. 

“Há poucas semanas aquela universidade assinou convênio de cooperação acadêmica e científica com PUCRS criando aqui em Porto Alegre, o Centro João Paulo II de estudos de cultura, literatura e língua polonesa. Os poloneses sendo povo solidário vão nos ajudar para socorrermos aqueles gaúchos que mais precisam de ajuda, além da reforma da nossa igreja”, contou Padre  Malczewski.

HUNGRIA

A Conferência Episcopal Húngara fez uma doação à Paróquia São Martinho, localizada no Bairro Cristal, zona sul de Porto Alegre, construída em 1968 pelo sacerdote húngaro Padre Ladislau Molnar, no valor  de US$ 14.035,88 (aproximadamente R$ 70 mil). A comunidade tem uma casa de retiros com 22 quartos que acolhe mulheres e crianças desabrigadas pelas inundações no Rio Grande do Sul, em uma parceria com o poder público.

O episcopado recorda na nota que a paróquia foi fundada em 1968 pelo sacerdote húngaro Padre Ladislau Molnar (László Molnár, em húngaro), hoje com 93 anos, que chegou ao Brasil em 1956 após fugir do comunismo e da repressão em seu país. O pároco atual é o Padre Miguel Martins Costa.

COMUNHÃO À DISTÂNCIA

O Padre Edilon Rosales de Lima, atualmente residindo em Roma onde está em período de estudos, viu o bairro em que cresceu e a paróquia onde foi ordenado sacerdote ser tomado pelas águas. 

“Sou natural de Porto Alegre, cresci na cidade de Canoas, no bairro Rio Branco, que foi diretamente atingido pela enchente. A casa onde eu cresci, o terreno onde eu cresci, a paróquia onde eu fui batizado, recebi todos os sacramentos de iniciação e também onde fui ordenado sacerdote, toda essa parte da minha infância, da minha adolescência, ficaram debaixo d’água. As escolas onde estudei, as ruas por onde cresci. E estando agora tão distante, sofrendo junto com meu povo, é interessante ver a reação dos meus colegas de estudo aqui em Roma, a sua maioria sacerdotes. A reação que eles têm, sobretudo, de não poder conceber a grandeza do nosso território. Imaginaram o Estado Rio Grande do Sul e mais outras partes vizinhas, que é um território que se equiparou, houve um momento em que a inundação foi equiparada a todo o território da própria Itália inundada”, contou o presbítero da Arquidiocese de Porto Alegre.  

A Itália sofre algumas vezes com inundações e outros fenômenos da natureza, terremotos e tudo mais, até vulcão, mas quando eles escutam que um território equivalente ao tamanho da Itália está sob água realmente, debaixo d’água, realmente dá pra ver a expressão no rosto deles. E de ver tanta gente sofrendo, então a minha visão de fora, de alguém que está distante, não posso dizer que eu estou distante, apesar de que estou distante fisicamente. Mas não mentalmente, porque realmente sofro com a minha gente, com a minha família própria que está sem casa, meu irmão, minha mãe, minha tia, minha madrinha, todos estão abrigados na casa dos seus irmãos”, relatou.  

Padre Edilon concluiu o seu depoimento com uma mensagem de esperança. “Mas hoje vemos a situação e sabemos que sempre tem algo de tudo isso que certamente Deus nosso vai nos permitir tirar coisas maiores de tudo isso. É interessante ver a caridade das pessoas, né? O povo que está se entra ajudando, né? A comunidade humana, a fraternidade humana, que certamente tem sua base. No amor de Deus, mesmo aqueles que não professam fé e os que não creem, todos eles estão dentro do querer da criação, ligados ao querer do amor de Deus. Então é um pouco esse sentimento, não é nem esse sentimento de impotência, mas agora é alguém que sabe que a providência nunca para de agir.”

Há quatro anos trabalhando na Sessão de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado do Vaticano, o Padre Antônio Hofmeister, do clero da Arquidiocese, também se manifestou sobre a situação enfrentada no Rio Grande do Sul.

“Desde o início das chuvas, no início do mês de maio, tenho acompanhado com muita tristeza toda a situação do nosso Estado, tenho seguido as notícias e rezado, que é o que eu posso fazer daqui de onde eu estou, rezando muito pelas vítimas, em primeiro lugar, por aqueles que perderam a vida nessa tragédia, pelos seus familiares, por todas as famílias que estão desabrigadas, que perderam suas casas, que perderam os seus móveis, que perderam talvez as economias de uma vida toda,  que terão que recomeçar a vida praticamente do zero, tenho rezado muito por elas. Tenho rezado muito por aqueles que também, nesse momento de dificuldade, têm sido verdadeiros heróis, seja das forças públicas, seja da sociedade civil, nos resgates, nas doações, na ajuda às famílias, e rezo ao Senhor para que essa situação termine logo e para que a reconstrução do nosso estado seja efetiva e com atenção, sobretudo, às famílias mais atingidas pelas enchentes e que as autoridades públicas.” 

O sacerdote recordou também o desafio do enfrentamento às mudanças climáticas.  “Que possam encontrar soluções, sabendo que as mudanças climáticas fazem com que essas situações sejam cada vez mais frequentes, para que as autoridades públicas possam encontrar soluções e para que não se repita uma tragédia de tamanho escala, de tão graves consequências, que possam encontrar soluções para que o volume de água no Rio Guaíba seja escoado de uma outra maneira e nos demais vales que possam encontrar soluções, respeitando é claro o meio ambiente, a natureza, que possam encontrar soluções para mitigar as consequências dessas tragédias no futuro. Como esses, com mais frequência devido às mudanças climáticas. Então rezo também para que as autoridades públicas tenham bom senso, tenham a visão de futuro para prever e sanar esses problemas.” 

Fonte: Arquidiocese de Porto Alegre

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