Mais de duas mil religiosas na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial, estiveram envolvidas no salvamento de judeus, conforme relatou à Rádio Vaticano a irmã Monika Kupczewska, presidente da Comissão Histórica da Conferência das Superioras Maiores das Congregações Religiosas Femininas na Polônia. O 6 de março marca o Dia dos Justos da Humanidade, uma data para homenagear aqueles que, no século XX, arriscaram suas vidas para se opor aos regimes totalitários

“Exatamente 2.345 religiosas de diversas congregações estiveram envolvidas na ajuda à população judaica”, afirmou a irmã Monika Kupczewska, da Congregação das Servas do Sagrado Coração de Jesus. “Podemos traçar um verdadeiro mapa da salvação, densamente preenchido por casas religiosas”, acrescentou. “A maioria dessas casas, cerca de 56 comunidades, era das Irmãs Franciscanas da Família de Maria. No entanto, muitas outras congregações também participaram dessa missão”, destacou.
As religiosas que salvaram judeus o fizeram principalmente por amor a Deus e ao próximo. “Essas irmãs afirmavam que essa era a única motivação para elas. Ninguém as obrigou a ajudar”, enfatizou a irmã Kupczewska. Muitas das religiosas envolvidas no salvamento de judeus não consideravam seus atos como algo extraordinário. “Vi muitas irmãs envergonhadas, dizendo: Não fizemos nada tão especial. Não podíamos simplesmente ignorar e não salvar essas crianças diante da crueldade da Segunda Guerra Mundial”, lembrou a religiosa, que também é professora assistente no Centro de Pesquisa em Geografia Histórica da Igreja na Polônia, na Universidade Católica João Paulo II de Lublin.
A pesquisa conduzida pela Comissão Histórica permitiu a criação de um mapa detalhado das redes de ajuda, marcando as casas religiosas e instituições que participaram do salvamento de judeus. Entre as congregações envolvidas estavam as Irmãs Franciscanas da Família de Maria, as Irmãs do Sagrado Coração, as Irmãs Albertinas, as Irmãs Cinzentas, as Irmãs Felicianas, as Irmãs Ursulinas, entre muitas outras. “Não houve uma única congregação religiosa na Polônia que, durante a ocupação, não tenha sido tocada pela questão da ajuda ao esconder judeus”, disse Władysław Bartoszewski, conforme citado pela irmã Kupczewska.
Um exemplo de heroísmo: Przemyśl
Um exemplo marcante desse heroísmo ocorreu na cidade de Przemyśl, onde a Congregação do Sagrado Coração se ocupava de um orfanato. “No nosso caso, tratava-se de um orfanato para crianças, onde as religiosas salvaram treze crianças judias”, contou a irmã Kupczewska.
“As vezes, os pais vinham pedir ajuda, outras vezes as crianças eram deixadas nas casas religiosas, e algumas crianças maiores até conseguiam escapar do gueto”, explicou. As religiosas não apenas forneciam abrigo, mas também mudavam as identidades das crianças para protegê-las das perseguições nazistas. “Elas salvavam essas crianças alterando seus nomes, fazendo novos documentos e até mesmo vestindo-as com hábitos religiosos”, revelou.
O preço do heroísmo
Infelizmente, nem todas as tentativas de salvar judeus foram bem-sucedidas. Algumas religiosas pagaram o preço mais alto por sua coragem: doze delas foram mortas por ajudar judeus. Entre elas, quatro já foram beatificadas pela Igreja católica como mártires.
Primeira monografia em Inglês sobre ajuda do clero na Polônia
No âmbito do trabalho do Centro para as Relações Católico-Judaicas da Universidade Católica intitulado a Abraham J. Heschel, foi publicada a primeira monografia em inglês sobre a assistência prestada aos judeus pelo clero polonês durante o Holocausto. Trata-se de uma obra em dois volumes, publicada pela Editora da Universidade Católica de Lublin (KUL), intitulada “O Salvamento de judeus em tempos de guerra pelo clero católico polonês”, escrita por Ryszard Tyndorf.
O livro, com mais de 1.200 páginas, está disponível gratuitamente online no link: https://tiny.pl/s8xxn5vc. A obra reúne principalmente testemunhos de judeus salvos, religiosas e sacerdotes poloneses durante o Holocausto. Além disso, inclui um índice detalhado contendo os nomes de milhares de cidades e das pessoas salvas.
Fonte: Vatican News