Classificado à Paralimpíada de Paris 2024, mesa-tenista fala sobre a ação de Deus em sua vida

Mesa-tenista Lucas Carvalhal, 18, disputará sua 1ª Paralimpíada, após ter vencido um câncer na infância e se recuperando de cirurgias

Na infância, Lucas foi diagnosticado com um tumor; passou por 4 cirurgias; medalhista de prata no Parapan de 2023, ele irá à Paralimpíada

“Eu estou tão feliz que é até difícil processar todas as informações. Há seis anos, eu estava apenas começando a jogar tênis de mesa, e ingressei no alto rendimento em 2021. Chegar aos Jogos de Paris e talvez ser medalhista é um feito que nem consigo explicar, é uma emoção muito grande tanto para mim quanto para as pessoas que estão comigo e que sempre me ajudaram”.

É assim que Lucas Carvalhal Arabian, 18, expressa a alegria de estar entre os 15 mesa-tenistas brasileiros que irão aos Jogos Paralímpicos, que acontecerão de 28 de agosto a 8 de setembro na capital francesa. O anúncio dos convocados foi feito pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) na terça-feira, 25, após a confirmação dos nomes pela Federação Internacional de Tênis de Mesa no dia 13 deste mês.

A VITÓRIA DA VIDA

A conquista da vaga à Paralimpíada de Paris, porém, não é a maior vitória de Lucas. Com apenas 1 ano de idade, ele foi diagnosticado com um tumor na medula torácica, precisou realizar duas cirurgias e perdeu boa parte dos movimentos da cintura para baixo.

Em 2008, o tumor reapareceu e uma nova cirurgia teve de ser feita, com a posterior necessidade de quimioterapia e de procedimentos de fisioterapia. Três anos depois, mais um desafio: Lucas descobriu que uma fibrose estava estrangulando sua medula, e, assim, em 2011, fez mais uma cirurgia, após a qual passou a usar cadeira de rodas. Em 2012, realizou mais um procedimento cirúrgico.

“Eu cresci com as sequelas do tumor, o que me obriga a usar cadeiras de rodas, mas é algo que não me prejudicou nem no aspecto físico nem no mental, porque sempre consegui aproveitar muito a vida e levar essa condição com muita naturalidade”, comentou.

DIANTE DAS ADVERSIDADES, MUITA FÉ

Nestes 18 anos de vida, Lucas sempre contou com o amor incondicional de toda a família e a força da oração, especialmente de sua mãe, Cristine Carvalhal, devota de Nossa Senhora Aparecida.

“Como a descoberta do câncer foi muito rápida, minha mãe não tinha muito o que pensar. Restava a ela apenas orar, colocar a minha vida nas mãos de Deus e fazer o que tinha de ser feito. Certamente, houve decisões difíceis a serem tomadas, como as cirurgias, as quimioterapias, momentos de muito sofrimento, mas isso me deu muita força e maturidade. Eu sempre tive a providência de Deus para alcançar feitos inesperados”, ressaltou.

“Tenho uma vida de oração, vou à missa, rezo o Terço e sempre procuro fazer a vontade de Deus e mostrar a minha história às pessoas, para que se sintam tocadas e saibam que quando alguém se agarra a Deus, tem a oração e o Terço na mão, pode vencer as situações difíceis da vida”, enfatizou.

UMA VAGA QUE PARECIA IMPOSSÍVEL

Em novembro de 2022, Lucas Carvalhal foi convidado a participar do Mundial Paralímpico de Tênis de Mesa, em Granada, na Espanha, e conquistou uma inesperada medalha de bronze na classe 5 (para cadeirantes).

No mês seguinte, precisou passar por uma cirurgia para a correção de uma escoliose (curvatura assimétrica da coluna vertebral). As chances de voltar a competir em alto nível a tempo de conquistar uma vaga ao Parapan de Santiago eram incertas, mas ele acreditou: “Eu voltei a competir em maio de 2023 e já em novembro estava jogando o Parapan-americano. Foram apenas seis meses de recuperação, algo muito difícil de acontecer após uma cirurgia como essa”.

O Parapan de Santiago assegurava ao campeão a vaga direta aos Jogos de Paris. Lucas, porém, perdeu a final, sendo, assim, medalhista de prata. Uma nova chance de se classificar viria na seletiva mundial da modalidade, a World Paralympic Qualification, realizada em maio, na Tailândia.

Mais uma vez, Lucas foi superado na decisão e não se garantiu aos Jogos. Entretanto, ainda restava uma chance: dos 12 atletas que vão jogar a classe 5 do tênis de mesa paralímpico, um nome seria definido por convite.

“Para este convite internacional são considerados alguns critérios referentes aos últimos dois anos, como as parciais dos jogos, os resultados, o desempenho nos campeonatos continentais e nos qualificatórios, a idade e a posição dos atletas no ranking, e se o esportista vai ou não jogar duplas. Considerando todos estes fatores, eu fui o escolhido para participar dos Jogos Paralímpicos”, explicou.

“Quando eu descobri que havia sido selecionado, fui gritando de alegria ao quarto da minha mãe e ao dos meus irmãos. Depois, telefonei para o meu pai, Marcelo Arabian. Foi uma emoção muito grande para mim, para eles e para toda a família”, recordou.

FOCO NOS JOGOS E NOS ESTUDOS

Estreante nas Paralimpíadas, Lucas Carvalhal disputará o torneio de simples da classe 5 e o de duplas mistas sete pontos, ao lado de Cátia Oliveira, medalhista de bronze na Paralimpíada de Tóquio, realizada em 2021.

Entre os 12 atletas da prova individual, Lucas é o nono mais bem ranqueado. “Conquistar uma medalha será um caminho muito difícil, pois terei de ganhar de dois atletas ‘top 10’ do ranking mundial, mas estou trabalhando para isso e acredito que com muita força, treinamentos e orações seja possível chegar a esta medalha inédita”, avaliou, destacando, porém, que mesmo que não seja medalhista adquirirá muita experiência para participar de edições futuras dos Jogos e chegar ao pódio.

A dois meses do início da Paralímpiada, a rotina de treinamentos está mais intensa e direcionada e os mesa-tenistas classificados para Paris têm recebido amplo suporte, tanto da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) quanto do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Em 12 de agosto, a delegação irá para a cidade francesa de Troyes, para um período de aclimatação, antes de chegar a Paris. As primeiras disputas da modalidade serão em 29 de agosto.

Lucas Carvalhal destacou que a meta do tênis de mesa brasileiro na Paralimpíada de Paris é a de superar o melhor desempenho já alcançado – as quatro medalhas nos Jogos Rio 2016 (uma prata e três bronzes) – e conquistar um inédito ouro. “Eu acredito que o Brasil está muito forte e pode chegar a oito ou nove medalhas”, projetou.

E quando os Jogos acabarem, Lucas Carvalhal terá mais uma tarefa a cumprir: concluir o ensino médio. Ele está no terceiro ano, estuda de modo on-line e já planeja a vida universitária: “Penso em cursar a faculdade de Educação Física para futuramente trabalhar na área esportiva, talvez fazer um intercâmbio também, mas somente depois dos Jogos de Paris é que vou decidir”. Certamente para esta definição a fé não será deixada de lado: “Para todas as decisões na vida, minha família e eu oramos. Deus sabe de tudo, Ele guia o caminho, basta que a pessoa se entregue nas mãos Dele e siga adiante”.

CONHEÇA MAIS SOBRE O ATLETA

Lucas Carvalhal Arabian
Redes sociais: @lucascarvalhaloficial

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