CNBB em mensagem aos brasileiros: ´A busca de soluções para o Brasil passa pelo diálogo e pelo entendimento’

Reunido na 61ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (AG CNBB), que acontece em Aparecida (SP), o episcopado brasileiro divulgou na tarde da quarta-feira, 17, a tradicional Mensagem ao Povo Brasileiro.

“Os tempos atribulados exigem coragem e paciência para crescermos na Amizade Social (cf. Campanha da Fraternidade 2024). As muitas dificuldades ajudam a construir uma atitude de resistência e resiliência na busca por uma sociedade mais justa e fraterna, valores fundamentais do Reino de Deus. O passado recente nos ensina que a busca de soluções para o Brasil passa necessariamente pelo diálogo e pelo entendimento. Muito do que superamos deveu-se à articulação entre agentes lúcidos e cidadãos compromissados com a vida, a democracia e o país”, apontam os bispos em um dos trechos.

“As instituições brasileiras e a sociedade civil são fundamentais nesse processo. Os três poderes da República são instados a viver o que preconiza a Constituição. Independência e harmonia não são opções de momento, são deveres permanentes e irrenunciáveis”, prosseguem os prelados. “Na sociedade do diálogo, a paz é um imperativo”, enfatizam em outro trecho.

Em coletiva de imprensa na manhã da quarta-feira, 17, o Cardeal Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus (AM), destacou que se trata de uma mensagem que se pretende também ser de esperança, de futuro, da realidade política e climática, que aborda as eleições que se aproximam, lembrando os 60 anos de início da Ditadura e incentivando a cuidar da democracia e combater a violência no país e as guerras.

ESTES SÃO ALGUNS DOS TÓPICOS CENTRAIS DA MENSAGEM

DIÁLOGO E RESPEITO INTERPESSOAL E ENTRE OS PODERES
O passado recente nos ensina que a busca de soluções para o Brasil passa necessariamente pelo diálogo e pelo entendimento. Muito do que superamos deveu-se à articulação entre agentes lúcidos e cidadãos compromissados com a vida, a democracia e o país. As instituições brasileiras e a sociedade civil são fundamentais nesse processo. Os três poderes da República são instados a viver o que preconiza a Constituição. Independência e harmonia não são opções de momento, são deveres permanentes e irrenunciáveis.
 
MÚLTIPLAS REALIDADES DE VIOLÊNCIA
Acompanhamos com dor o crescimento do crime, das milícias, do  narcotráfico, da violência nas cidades e no campo, do bullying, do vandalismo, do racismo, do feminicídio, do tráfico humano e da exploração sexual de crianças, adolescentes e vulneráveis; a realidade dos migrantes, do povo em situação de rua, da população encarcerada nos desafia profundamente; a corrupção, o nepotismo e o tráfico de influência violentam o país. Necessitamos construir a paz que nasce da justiça (cf. Isaías 32,17).
 
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E DESEMPREGO
Por ocasião da Festa do 1º de Maio, que se aproxima, a Igreja, inspirada em São José Operário, se une solidariamente aos trabalhadores e trabalhadoras nas suas memoráveis lutas por condições dignas de vida e trabalho, bem como com aqueles que continuam enfrentando antigos e novos problemas. Entendemos que o Brasil necessita de um novo marco legal que garanta a prioridade do trabalho, do bem-estar humano e da geração de emprego e renda, principalmente para os jovens. Todos os segmentos da sociedade brasileira devem defender a vida na sua integralidade e agir solidariamente em prol de um país economicamente humanizado, politicamente democrático, socialmente justo e ecologicamente sustentável.
 
QUESTÕES CLIMÁTICAS
Os extremos climáticos, em forma de desastres naturais provocados pela ganância e pelas formas equivocadas de ocupação do espaço urbano, sem planejamento e sem respeito aos mais vulneráveis, são cada vez mais intensos. A necessária transição para energias limpas deve respeitar os direitos das comunidades ao território e à qualidade de vida. A Amazônia sofre! Os povos da floresta, das matas e das águas que ali vivem não podem mais ser sacrificados num modelo de exploração que não permite o bem viver. Os outros biomas – cerrado, mata atlântica, caatinga, pampa, pantanal – igualmente importantes, estão sob pressões cada vez mais difíceis de serem revertidas. Enfim, toda a Casa Comum sofre com a destruição.
 
ESPERANÇAS COM A COP30
O Brasil receberá em 2025 a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças de Clima, a COP 30, em Belém do Pará, que debaterá soluções para conter o aquecimento global e criar alternativas  sustentáveis para a vida na Terra. Essa Conferência poderá ser uma oportunidade de mostrar o compromisso dos governos com a obra da Criação e a responsabilidade das mulheres e dos homens como cuidadores de tudo o que Deus criou e lhes confiou.
 
OLHAR PARA OS POVOS INDÍGENAS
Os povos indígenas brasileiros, prejudicados por séculos, enfrentam um dos maiores ataques de sua história, por meio do Marco Temporal, que já foi declarado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como inconstitucional. Há necessidade de melhores políticas públicas na ação concreta em defesa dos povos originários e proteção às suas terras, especialmente no território Yanomami.

DEMOCRACIA E CONSCIÊNCIA CÍVICA
Fundamental na vida do Brasil, passados sessenta anos do início da ditadura, a democracia ainda precisa de cuidado. Depois do período de sistemáticos e ostensivos ataques, temos a oportunidade de fortalecê-la nas eleições municipais de 2024, através do voto consciente e livre. A consciência cívica deverá estar a serviço dos mais profundos interesses do nosso povo, pois há exigências éticas para a realização do bem comum. Por isso, os cristãos, leigos e leigas, não podem “abdicar da participação na política” (Christifideles Laici, 42).Preocupa-nos que extremismos, desprezando o projeto de fraternidade social, façam do processo eleitoral um palco de intolerância e de ainda mais violência.

MUNDO DA COMUNICAÇÃO
Continuamos atentos ao lugar e ao espaço social ocupados pelos novos meios de comunicação. O combate à desinformação, às mentiras e às fake news que, frequentemente, usam também a linguagem religiosa para justificar interesses políticos e econômicos escusos, nos exige maior capacidade de enfrentamento e melhores mecanismos para que não seja modificada a soberania do voto. Como disse o Papa Francisco, a Inteligência Artificial corre o risco de ser rica em técnica e pobre em humanidade (cf. Papa Francisco, Mensagem dia mundial das Comunicações de 2024). A liberdade de expressão não pode estar a serviço da divisão social. A própria democracia é enfraquecida pelo ódio, o fundamentalismo e o populismo.
 
A ESPERANÇA NOS BONS EXEMPLOS DOS CRISTÃOS
Comunidades cristãs têm sido exemplos de uma solidariedade concreta, amizade e responsabilidade social. Submetidos às periferias sociais e existenciais, sem condições de enfrentar com dignidade o cotidiano, muitos encontram na comunidade a mão estendida que muitas vezes lhes falta do poder público. Somente a cultura do encontro pode promover uma sociedade mais justa e fraterna.

ACESSE A ÍNTEGRA DA MENSAGEM ABAIXO

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