Pesquisa recente aponta o aumento do endividamento dos brasileiros; frente a esse cenário, O SÃO PAULO apresenta dicas para uma boa gestão das finanças domésticas e para o consumo consciente
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Se você está endividado ou com dificuldades de pagar suas dívidas, saiba que não está sozinho. Dados divulgados pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) apontam que o endividamento das famílias brasileiras atingiu o maior nível em 11 anos.
A pesquisa apontou que dos 16,8 milhões de lares, quase 12 milhões tinham dívidas no fim de junho, acréscimo de 733,9 mil famílias em relação ao ano passado e crescimento de 1,36 milhão se comparado a 2019.
O total de lares com dívidas aumentou 11,5%, em dois anos, conforme o estudo.
IMPACTO ECONÔMICO
Os reflexos da pandemia agravaram ainda mais a realidade do endividamento. O aumento do desemprego, a alta inflação, o preço elevado dos itens básicos fez com que muitos não conseguissem cumprir com as despesas básicas do mês.
Maria Consuelo, 54, é diarista e por causa da pandemia ficou um período sem trabalhar e a dívida aumentou.
“A única renda era a aposentadoria do meu esposo, um salário mínimo; enfim, as contas se acumularam e o financiamento no banco ficou sem pagamento”, disse.
Nilson José, 26, é autônomo e, também, sentiu os impactos da crise. “Tá difícil pagar as contas do mês, os preços aumentaram demais. Então, para dar conta do básico é preciso cortar, economizar e confiar”, disse.
O endividamento pessoal acontece quando os gastos individuais ou familiares extrapolam a receita individual ou a renda familiar.
“O impacto da pandemia ainda é sentido por todos e, provavelmente, se estenda até 2023, quando os níveis de inflação e o equilíbrio entre oferta e demanda voltarão a níveis pré-pandêmicos”, afirmou Jenni Almeida, estrategista financeira e CEO da Invest4U.
PLANEJAMENTO
Grande parte dos brasileiros não tem o hábito de planejar a vida financeira. Ao planejar as finanças, é possível sair das dívidas, gerenciar com propriedade os gastos, perceber onde e como economizar e fazer investimentos.
“Um erro das famílias é não ter o hábito de fazer o orçamento doméstico, com um gesto simples de anotar o quanto se ganha e com o que se gasta o dinheiro. Ainda, não se tem o hábito de economizar e ter uma reserva de emergência”, expressou Jenni, convocando a todos a “criar o hábito de fazer um planejamento, colocar as metas e os objetivos no papel, a começar pelas simples até as mais ousadas e, a cada etapa, avaliar os resultados”, orientou.
DICAS PARA A BOA GESTÃO DAS FINANÇAS
A estrategista financeira listou para O SÃO PAULO algumas dicas para a boa gestão das finanças.
- Tenha um alinhamento com todos os membros da família sobre as realidades das finanças;
- Reserve pelo menos um dia no mês para sentar e discutir o orçamento com a família; todos devem esta cientes do que está impactando as coisas dentro de casa, principalmente os filhos;
- Construa uma reserva de emergência, mesmo que aos poucos, mas que suporte pelo menos seis meses das despesas mensais;
- Organize as rendas e as despesas para conhecer seus números;
- Após essa organização, liste os essenciais, não essenciais e desnecessários;
- Tente eliminar os gastos desnecessários e diminuir ao máximo os não essenciais;
- Dê preferência a compras à vista, evite novos financiamentos ou prestações, pois postergar as dívidas pode gerar uma sensação de alívio momentâneo e virar uma “bola de neve” lá na frente;
- Cuide muito bem do seu cartão de crédito, não extrapole com gastos não programados; afinal, ele é o dinheiro mais caro que você tem disponível para uso, mas, também, é o de mais fácil acesso.
DICAS PARA O CONSUMO CONSCIENTE
Para ajudar a lidar com as finanças, Jenni também elaborou uma lista de dicas que vão estimular a adoção de hábitos de consumo responsável e consciente:
- Listar os itens e priorizar as compras por urgência, necessidade e utilidade;
- Na hora dos presentes de fim de ano, pecamos por escolher coisas caras e esquecemos, muitas vezes, que o intuito do Natal é união, amor e família. Opte por lembrancinhas ou itens que caibam no seu orçamento; faça a lista dos presentes. É tempo de economizar, proteger seu orçamento financeiro e poupar;
- Pesquise e compare os preços em sites especializados ou em lojas físicas;
- Evite comprar por impulso;
- Negocie sempre! Se houver desconto à vista e tiver o valor, sem pesar no orçamento, vale a pena; caso não, verifique o número de parcelas e as condições de pagamento.
- Em síntese: a dica é priorizar, pesquisar e negociar.
PAGAR DÍVIDAS OU INVESTIR O 13º SALÁRIO
A especialista aponta que o 13º salário pode ser usado de diferentes maneiras e o perfil vai identificar e ajudar a redirecionar o valor.
“Para quem está sem dívidas, é uma maneira de adiantar as contas do novo ano ou até mesmo começar o ano investindo. Já para quem está com o orçamento mais justo, serve para zerar as pendências. Para quem está no vermelho, deve pensar e verificar os créditos, juros, antecipação, multas e parcelas”, ressaltou, ponderando que “o intuito do 13º é auxiliar você a começar o próximo ano de forma tranquila e com segurança financeira”.
EVITE NOVAS DÍVIDAS
Jenni destacou ainda, algumas dicas para não mergulhar em dívidas:
- Pagar as contas sempre em dia;
- Controlar os gastos no cartão de crédito;
- Separar os gastos em prioridades, focar o que é básico e necessário e eliminar os supérfluos;
- Fazer uso dos recursos disponíveis para organizar o orçamento; existe a ferramenta chamada “Priorização Financeira”, que é específica para o direcionamento dos gastos que a família possui.
Conhecendo a própria realidade financeira, é possível traçar planos de forma consciente e sólida e iniciar um novo ano com planejamento e livre de dívidas.
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