Pela quinta vez em sua história, a Campanha da Fraternidade será ecumênica. Sempre iniciada na Quarta-feira de Cinzas, a deste ano terá como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a).
Assim como ocorreu nas edições de 2000, 2005, 2010 e 2016, a Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) é organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), do qual a Igreja Católica Apostólica Romana participa.
O itinerário de reflexões no texto-base ressalta os discípulos de Emaús, para que, a exemplo deles, os cristãos aprendam que “o diálogo com Jesus faz o coração arder. E, se o coração arde em chamas pela Palavra, os pés partem em missão” (17).
O objetivo geral da CFE 2021 é que as comunidades de fé e as pessoas de boa vontade pensem, avaliem e identifiquem caminhos “para superar as polarizações e violências por meio do diálogo amoroso”, e, assim, testemunhem a unidade. Tais propósitos estão em sintonia com os caminhos que o Papa Francisco indica na encíclica Fratelli tutti para a construção de um mundo melhor: a fraternidade e a amizade social, assumidas como compromissos por todas as pessoas e instituições.
O texto-base da CFE 2021 aponta que Jesus Cristo nunca orientou seus discípulos a inimizades ou perseguições, mas, sim, para que promovam o diálogo (cf. 9), a fim de edificar novas relações humanas e sociais. Tais relações devem ser alicerçadas na caridade que leva cada um a assumir atitudes de compaixão, empatia e boa convivência com o próximo, o que só é possível quando as pessoas se abrem à conversão e autorreflexão, algo propício para o período da Quaresma, “40 dias dedicados à oração, ao jejum, à partilha do pão e à conversão pela revisão de nossas práticas e posturas diante da vida, do planeta e das pessoas” (13).
UM OLHAR PARA OS FATOS MAIS RECENTES
O primeiro convite da CFE 2021 é que o cristão olhe para os problemas atuais, como os decorrentes da pandemia de COVID-19, e observe se as alternativas e saídas propostas são coerentes com a Boa-Nova do Evangelho.
Diante das muitas indagações e incertezas que surgem nesse processo, as respostas “dependerão da percepção que temos do que está acontecendo no nosso interior, no planeta Terra e em nossos relacionamentos. Para compreendermos a realidade, precisamos, como os discípulos no caminho de Emaús, dialogar sobre os acontecimentos de nosso tempo, acolher diferentes percepções e assim superar o que nos divide” (38).
O texto-base menciona, ainda, alguns muros construídos historicamente no Brasil e que impedem a fraternidade e o diálogo: o racismo, as desigualdades econômicas, a dificuldade de conviver com opiniões diferentes e o desrespeito e ataque às instituições (cf. 42). Também se faz menção à intolerância religiosa, que é impulsionada para justificar a prática da violência (cf. 90).
DIALOGAR PARA SUPERAR OS MUROS
Na segunda parte do texto-base, são recordadas as origens das comunidades cristãs e dos valores da fé. Quem assumia a mensagem do Evangelho se comprometia com um novo modo e sentido da vida, que não se orientava mais pela violência, pelas exclusões e discriminações. A opção pelo Evangelho trazia consigo a busca pela compreensão mútua e um processo de conversão, que resultava na construção de “um mundo de comunhão na gratuidade do amor de Deus, que acolhe e perdoa” (102).
Ao longo da expansão do Cristianismo, o apóstolo Paulo orientou as primeiras comunidades a viver a unidade cristã (cf. 109), tendo como princípio que “Jesus Cristo é o centro da fé e unifica a comunidade, apesar das diferenças, pois convoca à experiência do amor que nos une… [para que] experimentemos os sinais do Reino de Deus entre nós: o amor, a benevolência, o perdão, a liberdade e a graça (Ef 1,3-8)”, (112).
O lema da CFE 2021 – “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unida- de” (Ef 2,14a) – reforça que a fé cristã não deve ser motivo para divisões e conflitos, mas, sim, para a convivência e o diálogo (cf. 114).
Em Cristo, está a esperança para o estabelecimento definitivo da fraternidade e da paz (cf. 120). “O Evangelho da graça e da misericórdia revela-se como a força de Deus, que derruba os muros do preconceito que separam os judeus dos gentios. Graças ao fim das divisões, as pessoas podem sentar-se em torno de uma mesa comum e partilhar juntas o pão! O apóstolo Paulo ressalta (Gl 2,11-21) que a fé em Jesus Cristo não coaduna com a ideia de que haja sequer a possibilidade de algum grupo agir com superioridade em relação a outro” (125). Nesse sentido, a paz que brota da fé em Cristo permite superar a inimizade e o ódio e promover a unidade (cf. 131).
Nessa perspectiva, a experiência ecumênica “nos possibilita conviver e aprender com irmãos e irmãs de diferentes confissões, com isso criamos pontes entre as confessionalidades” (135). “Em Cristo, a Boa-Nova de paz é oferecida para todas as pessoas, a fim de se construir uma nova humanidade, que não esteja dividida nem orientada pela violência, mas animada e alicerçada no amor, na graça de Deus e na unidade que se realiza pelo Espírito Santo (Ef 2,18)” (136). Os cristãos, como herdeiros do Mistério revelado, devem estar inegrados na construção do Reino de Deus, a partir dos dons que Ele concedeu a cada pessoa, “para que a casa comum seja um ambiente seguro e feliz para todos os seres vivos” (138).
BOAS PRÁTICAS DE CAMINHADA ECUMÊNICA
A terceira parte do texto-base fala de algumas boas práticas de caminhada ecumênica no Brasil, coordenadas pelo Conic, como a Semana de Oração pela Unidade Cristã– em que as Igrejas cristãs, com suas diferentes especificidades, unidas em oração, celebram os dons do Espírito Santo; e a realização de missões ecumênicas, geralmente em territórios de conflito.
“Essas boas práticas nos ensinam que a evangelização e a missão são constitutivas do testemunho das Igrejas. Proclamar a Palavra de Deus e dar testemunho ao mundo é essencial para todos os cristãos e cristãs. No entanto, esta proclamação pre- cisa estar profundamente alicerçada nos princípios evangélicos, com pleno respeito e amor ao próximo e à criação”, consta em um dos trechos.
CELEBRAR
Por fim, é apresentado o roteiro para uma celebração ecumênica – presencial ou on-line – com vistas ao fortalecimento do diálogo ecumênico e da paz entre os povos, culturas e Igrejas. Um dos destaques é a proposta de que se confeccione um muro penitencial, alusivo à CFE 2021, que motiva “a vencer os muros que nos se- param e a construir redes que possam nos unir como comunidades, povo de Deus”.