Frei Galvão: O Santo caridoso que dedicou a vida aos mais necessitados

O frade franciscano nasceu em Guaratinguetá (SP), em 1739, e sua fama de santidade se espalhou logo após sua morte

Neste domingo, 25, a Igreja Celebra a memória de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, o primeiro Santo nascido no Brasil. O franciscano foi canonizado na histórica missa presidida no Campo de Marte, em São Paulo, pelo Papa Bento XVI, no dia 11 de maio de 2017, que reuniu mais de 1,2 milhão de fiéis.

Notável conselheiro, cuidador dos pobres e dos enfermos, conselheiro das famílias e servidor do povo, era assim como o frade era conhecido: um homem caridoso a serviço dos mais necessitados.

Nascido em Guaratinguetá (SP), em 1739, filho de Antônio Galvão de França e Izabel Leite de Barros, Frei Galvão cresceu em um ambiente profundamente religioso. Aos 13 anos, foi enviado para estudar no Seminário da Companhia de Jesus, dos Padres Jesuítas, na cidade de Belém de Cachoeira (BA).

Aos 21 anos, ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Menores, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, fez a profissão solene dos votos religiosos, sendo ordenado sacerdote em 11 de julho de 1762.

LIBERDADE RELIGIOSA

Depois de ordenado, Frei Galvão foi enviado para o Convento de São Francisco, em São Paulo, para aperfeiçoar os estudos e praticar o apostolado. E foi no apostolado que o franciscano começou a destacar-se por suas virtudes e empenho pastoral, em um momento em que a liberdade religiosa era muito ameaçada pelo Império.

Este período foi marcado pela presença do Marquês de Pombal, cuja filosofia política era marcada pelo iluminismo. A Igreja precisava do aval do governo para muitas iniciativas como a abertura de vagas nos seminários para a formação de novos padres e até nomeações de bispos.

Frei Galvão reagiu a essa restrição da liberdade religiosa visitando as famílias e participando da vida da cidade também. No âmbito social e político chegou a ser, inclusive, membro da Academia Paulista de Letras.

RECOLHIMENTO DA LUZ

Designado confessor do Recolhimento Santa Teresa, em 1770, o franciscano conheceu Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento, onde mulheres viviam de maneira comunitária, dedicando-se à oração, sem, no entanto, professarem os votos religiosos, uma vez que o Marquês de Pombal não permitia fundações de casas religiosas.

Frei Galvão fundou um recolhimento em 2 de fevereiro de 1774, dedicando-o a Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência. Esse Recolhimento se tornou um mosteiro apenas em 1929, sendo incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (concepcionistas).

O prédio é tombado nas esferas federal, estadual e municipal e é considerado um dos mais importantes e bem conservados exemplares da arquitetura colonial brasileira do século XVIII. O próprio Santo Antônio de Sant’Anna Galvão projetou o edifício e trabalhou como pedreiro e supervisor durante a sua construção, concluindo-o parcialmente em 1788. Por outros 14 anos (1788-1802), dedicou-se à construção da igreja, inaugurada em 1802.

PERSEGUIÇÕES

No ano seguinte, Irmã Helena, tendo adoecido gravemente, morreu. Frei Galvão tornou-se, então, o único apoio para a comunidade. Nesse mesmo período, o novo capitão-general da Capitania de São Paulo, Martim Lopes Saldanha, obrigou o fechamento do Recolhimento. O Santo obedeceu a decisão. Porém, as recolhidas, que não tinham aonde ir, permaneceram escondidas na casa, confiantes na providência divina. Um mês depois, graças à pressão do povo e do bispo local, o Recolhimento foi reaberto.

Em 1781, após defender um soldado que havia sido condenado à morte por uma pequena ofensa ao filho do Capitão-General, Frei Galvão foi transferido para o Rio de Janeiro por pressão das autoridades. A população, no entanto, se levantou contra a ordem, que acabou sendo revogada.

DEVOÇÃO MARIANA

Frei Galvão era grande devoto de Nossa Senhora e propagador de sua imaculada conceição, que ainda não havia sido proclamada como dogma de fé, mas por séculos era difundida pelos frades. Tanto que os frades, ao professarem os votos, faziam um juramento de se empenharem na defesa da imaculada conceição da Virgem Maria.

De acordo com a biografia documentada que integra seu processo de canonização, a maturidade espiritual “franciscano-mariana” de Frei Galvão foi expressa por meio de sua consagração a Nossa Senhora como o seu “filho e escravo perpétuo”, feita em 9 de novembro de 1766.

PÍLULAS

Defensor da virgindade da Mãe de Jesus antes, durante e depois do parto, Frei Galvão difundiu essa convicção especialmente nas famosas pílulas confeccionadas e distribuídas pelas monjas do Mosteiro da Luz.

Certo dia, Frei Galvão foi procurado por um senhor aflito, porque sua mulher estava em trabalho de parto e em perigo de morte. O Frade escreveu em três papeizinhos o versículo do Ofício da Santíssima Virgem – Pos partum Virgo, Inviolata permansisti: Dei Genitrix intercede pro nobis (Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós) – e entregou ao homem.

Após a esposa dele ingerir as pílulas, o parto ocorreu normalmente. Caso idêntico aconteceu com um jovem que sentia fortes dores provocadas por cálculos na vesícula.

FAMA DE SANTIDADE

O fim de sua vida foi no Recolhimento da Luz, depois de obter autorização de seus superiores, devido ao fato de não ter mais forças físicas para se deslocar diariamente do Convento Franciscano para atender às religiosas. Ele passou a morar em um cômodo no fundo da igreja, atrás do sacrário até sua morte, em 23 de dezembro de 1822.

Já pelo ano de sua morte, em 1822, a fama de sua santidade havia se espalhado por todo o Brasil. E os fiéis compareceram em massa ao velório, ansiosos por guardar uma relíquia sua. Segundo relatos cortavam pedacinhos de seu hábito. Seus restos mortais se encontram no Mosteiro da Luz.

Em 1998, durante o processo de beatificação, o Vaticano reconheceu as suas virtudes. Um ano depois, um duplo milagre fez com que o Beato fosse conhecido por todo o mundo.

DUPLO MILAGRE

As personagens desse milagre foram a paulistana Sandra Grossi de Almeida Gallafassi e seu filho Enzo. Sandra não conseguia levar uma gravidez até o final. Mas, depois de dois abortos espontâneos, engravidou uma terceira vez e, apesar de advertências médicas sobre uma gravidez de alto risco para ambos, estava decidida a ter o bebê.

Com o conselho de parentes, também passou a tomar as “pílulas de Frei Galvão” e fez uma novena ao frade. A gestação evoluiu normalmente até oitavo mês, quando aconteceu a cesárea. O menino nasceu pequeno e com o problema respiratório grave. Pedindo novamente a intercessão de Frei Galvão, o garoto teve rápida melhora, e logo deixou o hospital.

Os peritos médicos da Congregação para as Causas dos Santos aprovaram a cura como “cientificamente inexplicável no seu conjunto, segundo os atuais conhecimentos científicos”. Desse modo, Frei Galvão foi canonizado por Bento XVI em 11 de maio de 2007 e passou a ser comemorada sua memória litúrgica no dia 25 de outubro.

PARA SABER MAIS

A vida e os legados de Santo Antonio de Sant´Anna Galvão para a Arquidiocese de São Paulo foram apresentados recentemente por Thereza Maia, historiadora, curadora cultural e membro da quinta geração da família de Frei Galvão, em uma entrevista ao projeto “Brasil, Terra de Santos”.


(Colaborou: Lívia Miranda, da Pastoral da Comunicação da Região Sé)


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