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 Há 125 anos, a chegada de monges alemães revigorava o Mosteiro de São Bento

Missa em ação de graças pelo Reinício do Louvor Divino e da Restauração Beneditina foi presidida pelo Cardeal Scherer

Irmão João Batista

 Em 2025, o Mosteiro de São Bento celebra um marco histórico: 125 anos do reinício do louvor divino e da chegada dos primeiros monges da restauração beneditina ao Brasil. A data recorda a vinda dos monges da Abadia de Beuron, na Alemanha, responsáveis por devolver o vigor à vida monástica em São Paulo e em todo o País. 

A chegada dos monges alemães, liderados por Dom Miguel Kruse, marcou o início da chamada “restauração beneditina”. Eles reabriram o noviciado, retomaram o louvor divino em rito monástico e devolveram força à tradição beneditina em São Paulo, trazendo nova vida ao Mosteiro, resgatando sua missão de oração, educação e serviço. 

Na segunda-feira, 22, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu a missa em ação de graças na Basílica Abacial de Nossa Senhora da Assunção. 

A MISSÃO DOS MONGES ALEMÃES 

A tradição beneditina em São Paulo remonta ao fim do século XVI, a partir da chegada do Frei Mauro Teixeira, em 1598. “Ele construiu uma capelinha dedicada a São Bento, que depois deu origem ao Mosteiro, oficialmente fundado em  14 de julho de 1598. A primeira igreja foi concluída em 1634, quando se instituiu a Abadia de São Bento, que existe até hoje” explicou à reportagem do O SÃO PAULO Dom Lourenço Palata Viola, Reitor da Abadia. 

Com o passar dos séculos, no entanto, a vida monástica sofreu declínio. Leis imperiais extinguiram os noviciados, impedindo a entrada de novas vocações e deixando os mosteiros brasileiros à beira do desaparecimento. 

“O abade Frei Domingos da Transfiguração Machado pediu ajuda ao Papa Leão XIII, que confiou a missão de restaurar a congregação beneditina brasileira à Abadia de Beuron, na Alemanha, então muito florescente em vocações”, explicou Dom Lourenço Palata. 

Dom Miguel Kruse, primeiro monge da restauração, chegou a São Paulo para reanimar a comunidade. “Quando Dom Miguel chegou, encontrou um mosteiro quase abandonado, com apenas um monge português. Foi preciso demolir o antigo edifício barroco e reconstruir tudo”, lembrou o Reitor. 

Os primeiros monges alemães vieram em pequenos grupos, somando forças ao único monge que ainda resistia em São Paulo. No dia 22 de setembro de 1900, eles reiniciaram oficialmente o louvor divino coral. 

O chamado louvor divino é a oração litúrgica oficial da Igreja, que organiza o dia dos monges em vigília, laudes, oração média, vésperas e completas. “O ofício divino é a respiração da Igreja, a oração de Cristo rezada pelo corpo de Cristo. Nos mosteiros, ele é a alma que mantém a comunidade viva, no espírito do ora et labora de São Bento: rezar e trabalhar”, enfatizou Dom Lourenço. 

Segundo o Reitor da Abadia, “celebrar 125 anos de louvor divino representa um motivo de grande alegria e ação de graças, além de reconhecer todo o esforço desses homens que reconstruíram a vida monástica. São Paulo é uma das poucas grandes cidades do mundo que mantêm um mosteiro ativo em pleno centro, com uma vida orante constante. Aqui, no coração da cidade, a oração grita no silêncio, mantendo visível a presença de Deus”, afirmou. 

‘BRILHE A VOSSA LUZ’ 

Na homilia da missa, Dom Odilo destacou que a história desta casa monástica é também um convite à esperança e à missão. Inspirado na liturgia do dia, ele lembrou que a Palavra de Deus ilumina não apenas o passado, mas também o presente e o futuro da comunidade. 

“Hoje, recordamos um momento importante na vida deste Mosteiro e na história da Igreja, mas também olhamos para o tempo presente, que é sempre iluminado pela Palavra de Deus”, afirmou. Segundo Dom Odilo, a mensagem do Evangelho é clara: “Brilhe a vossa luz”. Assim como Jesus pediu que a lâmpada não fosse escondida, o Cardeal convocou os fiéis a manterem viva a presença transformadora do Evangelho em meio à cidade. “Que a luz do Mosteiro, sua vocação e seu carisma, continuem a iluminar São Paulo e a cultura que nos cerca, para que a cidade seja marcada pela presença orante da Igreja.” 

Dom Odilo lembrou que, mesmo em uma metrópole que cresce e muda constantemente, a missão da Igreja permanece vital. “Pode parecer que a cidade passou por cima de nós, mas isso é um olhar insuficiente. Há muitos sinais da luz do Evangelho nesta imensa São Paulo: igrejas, colégios, obras sociais, universidades, comunidades de fé. Mesmo o que parece pequeno aos olhos humanos, quando permeado pelo Espírito de Cristo, transforma a massa como o fermento e o sal.” 

Por fim, o Arcebispo Metropolitano convidou todos a renovar a fé e a perseverança: “Que Deus nos mantenha firmes e confiantes, para que possamos, com a nossa parte, deixar que Ele faça a Sua. Celebrar 125 anos é agradecer pelo passado, viver com coragem o presente e confiar que o futuro está em Suas mãos”. 

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