Participantes do 15º Interclesial das CEBs aprofundam reflexões sobre questões sociais e eclesiais

Reunidos em Rondonópolis (MT), os cerca de 1,5 mil participantes do encontro nacional do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), tem refletido desde a terça-feira, 18, sobre questões relativas à sociedade brasileira e à atuação dos leigos na Igreja.

O 15o Intereclesial, com o tema “CEBs: Igreja em saída, em busca da vida plena para todos e todas”, e o lema “Vejam, eu vou criar um novo céu e uma nova terra” (Is 65,17ss), prossegue até sábado, dia 22.

Fotos: Padre Cilto José

Na quinta-feira, 20, um momento de orações e cânticos ecumênico e inter-religioso (com participação de lideranças luterana, batista e de religiões de matriz africana), marcou a abertura do terceiro dia de trabalhos.

Ainda no período da manhã, os participantes partilharam o que foi discutido no “ver”, tendo como pauta base os assuntos centrais do encontro que são a educação, a ecologia integral, a economia de Francisco e Clara, o poder e a sinodalidade na Igreja e a dimensão político-social.

“Um primeiro momento foi o ‘ver’ e hoje é o dia do ‘iluminar’. Com a Palavra de Deus, nós vamos encontrando pistas para fortalecer e encontrar o agir da vida das CEBs no Brasil”, explicou Dom Maurício da Silva Jardim, Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga.

REALIDADE SOCIAL E ECLESIAL

Na quarta-feira, 19, uma encenação teatral, tratando de potenciais conflitos de interesses religiosos, políticos e sociais em uma pequena comunidade do Ceará, foi um dos destaques, sintetizando o que propunha o tema debatido no bioma Caatinga, que ocorreu no salão da Paróquia Bom Pastor, de Rondonópolis, com representantes dos regionais Norte 1, 2 e 3 da CNBB.

Na encenação, o diálogo entre o prefeito e o padre da cidade expôs como a organização de uma comunidade pode determinar a defesa dos interesses da população. Por outro lado, evidenciou como essa organização é vista como impedimento (e combatida) por outros interesses; bem como, a forma de a ‘Igreja local’ influenciar ou se deixar influenciar nesses conflitos.

A questão “Como a realidade do país e das CEBs impactam a vida das nossas comunidades?” suscitou uma extensa lista de demandas e críticas à realidade atual do Brasil e da própria Igreja.

Nas explanações feitas pelos representantes dos três regionais, as preocupações foram relativas à forma como essas realidades impactam não apenas as CEBs, mas a população em geral, favorecendo até o crescimento dos quadros de depressão e de suicídio, além de outros males.

Houve espaço, ainda, para a cobrança em relação aos cuidados a serem observados na formação dos futuros padres; e o pedido de que se garanta o protagonismo das CEBs e a corresponsabilidade dos não consagrados na condução eclesial.

A BUSCA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Ainda na quarta-feira, 19, foi apresentado um levantamento feito por 150 representantes de comunidades dos regionais Oeste 1 (Mato Grosso do Sul) e Sul 1 (São Paulo).

Nele, se ressalta a recorrência dos ataques às minorias e a necessidade de uma espiritualidade comprometida com a transformação social, assim como a criação de espaços de resistência e a articulação popular.

Reunidos no Centro de Eventos Santa Terezinha, no bairro Jardim Belo Horizonte, na plenária chamada “Casa Comum”, os representantes das CEBs de Mato Grosso do Sul e São Paulo discutiram e socializaram suas impressões a partir de uma metodologia participativa, caracterizada pela escuta, pelo trabalho em grupo e o diálogo em plenária.

Entre as CEBs e os meios populares essa dinâmica é conhecida como método “ver-julgar-agir”, ou seja, ver a realidade social e eclesial, avaliá-la à luz da interpretação popular da Bíblia e dos parâmetros que orientam a atuação pastoral da Igreja e, por fim, desenvolver ações transformadoras.

Na manhã da quinta-feira, 20, os participantes do Intereclesial se reuniram no Centro de Eventos Santa Terezinha (“Casa Comum”) para partilhar o que foi discutido no “ver” e desenvolveram o processo do “julgar” (discernir, iluminar) com base nos assuntos que compõem o encontro: educação; ecologia integral; economia de Francisco e Clara; poder e sinodalidade na Igreja; e dimensão político-social.

À tarde, começou a Feira da Economia Solidária, e também prosseguiram as reflexões nas plenárias/biomas; À noite, aconteceram shows com artistas atuantes na caminhada pastoral das comunidades.

COMO ATUAR NAS MARGENS DA SOCIEDADE?

Ainda na quinta-feira, 20, houve a palestra da biblista Tea Frigerio, que destacou que o verbo “sair” é o fio que costura o texto bíblico e deve animar as CEBs a desenvolver uma atuação encarnada na realidade concreta a partir das margens da sociedade.

A biblista e missionária xaveriana destacou as trajetórias de Jesus e Paulo como exemplos de “saída missionária”, do legalismo religioso judaico em direção à espiritualidade cotidiana, do poder imperial romano às relações de igualdade.

Tea avaliou que as CEBs são “liminares”, ou seja, atuam nas bordas da sociedade, na construção de uma realidade mais justa e igualitária, o que corresponde às palavras do profeta Isaías (65,17), no Antigo Testamento, quando fala da importância de criar “um novo céu e uma nova terra”. Essas mesmas palavras compõem o lema do Intereclesial e se conectam com o tema do encontro: “CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas”.

As ponderações de Tea Frigerio foram baseadas nos apontamentos feitos pelos representantes das CEBs na quarta-feira, 19, ao longo das plenárias/biomas “Casa Comum”, “Amazônia”, “Caatinga”, “Cerrado”, “Mata Atlântica”, “Pampa” e “Pantanal”.

O sociólogo Pedro Ribeiro, assessor pastoral das CEBs há cerca de 40 anos, também contribuiu com a discussão, ponderando que os gritos e o esperançar trazido pelos participantes do Intereclesial relacionam-se com um complexo e amplo contexto, envolvendo várias crises – climática, geopolítica, do patriarcado e política.

(Com informações do site https://cebsdobrasil.com.br)

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