Cristo ressuscitou: ‘Das trevas surgiu a glória, da morte o Libertador’

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com júbilo, a Igreja proclamou no domingo, 31 de março, que Cristo verdadeiramente ressuscitou.

Na Catedral da Sé, centenas de fiéis participaram da Missa da Solenidade da Páscoa da Ressurreição, o “novo grande dia de Deus, dia que o Senhor fez para nós”, conforme enfatizou o Cardeal Odilo Pedro Scherer. “Jesus ressuscitado é o primeiro da nova criação, primogênito entre os mortos, Aquele que inaugura já no tempo presente o futuro de Deus”, destacou.

A Solenidade de Páscoa começou na noite do Sábado Santo, 30 de março, com a celebração da Vigília Pascal. A liturgia teve início na Praça da Sé, junto ao Marco Zero da cidade, onde foi abençoado o “fogo novo” no qual foi aceso o Círio Pascal. Nele, os fiéis acenderam suas velas para adentrar a Catedral, ainda às escuras, e escutar o hino do Precônio Pascal, proclamação solene da Páscoa: “Exulte de alegria dos anjos a multidão, exultemos, também, nós por tão grande salvação! Do grande Rei a vitória cantemos o resplendor: das trevas surgiu a glória, da morte o Libertador”. Na celebração, os fiéis renovaram as promessas batismais e 37 adultos receberam os sacramentos do Batismo, da Crisma e a primeira Eucaristia.

Durante o Tríduo Pascal, o Arcebispo Metropolitano também presidiu a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, e a ação litúrgica da Paixão de Cristo, na Sexta-feira Santa, com grande participação de fiéis.

MISSA VESPERTINA DA CEIA DO SENHOR

‘A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Jesus’

POR ROSEANE WELTER

Na abertura do Tríduo Pascal, na Quinta-feira Santa, 28 de março, na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, na qual se recorda de a instituição da Eucaristia, do sacerdócio e do mandamento do amor que Jesus dá aos discípulos.

NÚCLEO CENTRAL DA NOSSA FÉ

Na homilia, o Arcebispo Metropolitano enfatizou que Jesus, ao celebrar a ceia pascal judaica, deu a ela um novo significado. “Quando tomou o pão, Jesus o partiu, foi entregando aos que estavam com Ele à mesa e disse: ‘Este é o meu corpo, entregue por vocês’. Essa entrega significa a morte, a Sua morte de cruz, a entrega pela libertação, pela salvação do povo”, explicou Dom Odilo, lembrando, ainda, que o Senhor fez o mesmo com o vinho, como sinal de Seu sangue que seria derramado: “O sangue da nova e eterna aliança, libertadora e misericordiosa com o povo, um gesto Daquele que se entrega por amor a toda a humanidade até as últimas consequências, e ordena que seus discípulos façam o mesmo”.

“‘Fazei isto em memória de mim’. As palavras de Jesus remontam à origem da celebração da Eucaristia. Não significa apenas ‘repetir’ os gestos e as palavras da última Ceia, mas fazer isto como entrega, serviço e amor mútuo. Eis o verdadeiro sentido da Eucaristia”, recordou o Arcebispo, destacando que para os cristãos, a celebração da Eucaristia “é o memorial da Páscoa de Jesus, da passagem de Cristo deste mundo para o Pai, de Sua Morte e Ressurreição para a glória de Deus. Esse é o núcleo central da nossa fé”.

LAVA-PÉS: O EXEMPLO DE CRISTO SERVIDOR

Ainda na homilia, Dom Odilo lembrou que o rito de lavar os pés dos irmãos, feito nesta celebração, simboliza o “colocar-se a serviço uns dos outros, uma atitude de fraternidade e cuidado”. Ele explicou, também, que com esta atitude, Cristo ensina que aquele que quer ser o primeiro deve se colocar sempre a serviço.

“Tenhamos força e coragem de servir, de colocarmo-nos a serviço dos irmãos que sofrem”, exortou Dom Odilo, que após a homilia lavou os pés de representantes de pastorais e organismos da Arquidiocese ligados à fraternidade e ação social, bem como os atendidos por estas iniciativas.

Tiveram os pés lavados: Lorenna Pirolo, diretora-presidente do Amparo Maternal, acompanhada de sua filha de 4 meses, Helena Rosa Pirolo; Maria Julia Felipe Carneiro de Sousa, criança atendida pela Pastoral do Menor; Olívia Luiz de Sousa Lima, coordenadora desta Pastoral na Região Brasilândia; Monica de Cassia Vieira Lopes, coordenadora da Pastoral Fé e Política; Jaqueline Manuel dos Santos, da Caritas Arquidiocesana de São Paulo; Josefa Maria da Silva, leiga consagrada da Orgo Virgium; Vanderlei Postigo, professor da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom); Thamiris Morgado, catequista e agente de pastoral na Casa do Migrante; o casal Ahmad Ali Ajamhajimo e Atich Esmaeilnazari, recém-chegados do Irã ao Brasil, atendidos pela Pastoral do Migrante; Nerge Dorlus, do Haiti; e Nsaku Teresa Luveda Ndonda, de Angola, ambos acolhidos na Casa do Migrante.

SILÊNCIO E ORAÇÃO

Ao final da missa, o altar foi desnudado e todos os adornos do presbitério retirados. Depois, aconteceu a transladação do Santíssimo para a Capela do Santíssimo da Catedral da Sé, na qual houve a vigília e adoração em preparação à Sexta-feira Santa.

SEXTA-FEIRA SANTA

‘Se a Paixão de Cristo acontecesse hoje, como nos posicionaríamos?’

POR DANIEL GOMES

Adoração de Cruz na Catedral da Sé na Sexta-Feira Santa

Do alto da cruz, após ser condenado, injuriado e torturado, Cristo exclamou: “‘Tudo está consumado.’ E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 18,30). Era 15h da sexta-feira anterior à Páscoa dos judeus quando isso aconteceu. Por essa razão, neste mesmo horário na Sexta-feira da Paixão, 29 de março, em todas as Igrejas, os fiéis se reuniram para participar da Ação Litúrgica da Paixão do Senhor.

Na Catedral da Sé, a celebração começou em profundo silêncio. O Cardeal Odilo Pedro Scherer e os concelebran-tes se prostraram diante do altar desnudado e os fiéis se ajoelharam.

Na homilia, o Arcebispo refletiu sobre o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor segundo João (Jo 18,1–19,42), exortando os fiéis a pensarem com quais dos personagens da Paixão mais se identificam. Ele fez menção a três deles: Simão Cirineu, José de Arimateia e Nicodemos.

“Com coragem, Simão Cirineu foi solidário com o sofrimento do próximo, foi sensível a Jesus que já não aguentava o peso da cruz”, destacou Dom Odilo, lembrando que a “insensibilidade é um dos problemas mais sérios e que faz com que percamos em qualidade humana”.

Quanto a José de Arimateia e a Nicodemos, o Arcebispo comentou que estes, que tinham possuíam reconhecimento social, também tiveram a coragem de se expor para dar uma digna sepultura a Jesus, testemunhando, assim, ser seus seguidores.

“Se a Paixão de Cristo acontecesse hoje, como nos posicionaríamos? Este é o questionamento que esta celebração nos sugere”, enfatizou.

ORAÇÃO UNIVERSAL

Após a homilia, foi realizada a Oração Universal, na qual a assembleia de fiéis rezou pela Santa Igreja, pelo Papa, por todos os membros da Igreja, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus (aos quais o Senhor Deus falou por primeiro), pelos que não creem no Cristo, pelos que não creem em Deus, pelos governantes e por todos os que sofrem.

ADORAÇÃO DA CRUZ

Na sequência, pelo corredor central da Catedral, houve a entrada da cruz. No presbitério, ao declamar “Eis o lenho da cruz”, o Arcebispo lentamente a desnudou. Ele foi o primeiro a adorar o Cristo Crucificado. Depois também o fizeram os fiéis, por cerca de 22 minutos.

COLETA PARA OS LUGARES SANTOS

Também foi realizada a coleta para os lugares onde Jesus nasceu e viveu, e outros mencionados nas Sagradas Escrituras. Nestes chamados “Lugares Santos”, atualmente os cristãos são minoria e dependem da solidariedade dos demais para que a Igreja se mantenha.

À ESPERA DA RESSURREIÇÃO

Na parte final da celebração, foi estendida sobre o altar a toalha e o corporal, rezou-se a oração do Pai Nosso e teve sequência o rito da comunhão, com as hóstias que foram consagradas na missa da noite anterior.

Antes de proferir a oração sobre o povo, o Arcebispo exortou: “Mesmo quando é difícil, não reneguemos a Cristo. Tenhamos a coragem de assumir a cruz se for preciso por causa Dele, como fizeram tantos”.

Após a Ação Litúrgica da Paixão do Senhor, presidida pelo Cardeal Scherer na tarde da Sexta-feira Santa, 29 de março, na Catedral da Sé, aconteceu a procissão pelas ruas do centro histórico da capital paulista, recordando o sepultamento de Jesus. Os fiéis levaram consigo as imagens de Nosso Senhor morto e de Nossa Senhora das Dores, em meio a cantos e preces. Ao longo do caminho, houve o “canto da Verônica” que recorda a piedosa tradição da mulher que enxugou o rosto ensanguentado de Jesus no caminho para o Calvário. Ao retornarem à Catedral, aconteceu o tradicional sermão das sete palavras de Cristo na cruz, que este ano foi proferido pelo Frei Mário Luiz Tagliari, Reitor do Convento e Santuário São Francisco. Leia a notícia completa aqui.

Na manhã da Sexta-feira Santa, 29 de março, foi realizada na Catedral da Sé a Via-Sacra do Povo da Rua, com a participação de pessoas em situação de vulnerabilidade social que são assistidas pelo Vicariato Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua. A atividade foi coordenada pelo Vigário Episcopal, Padre Júlio Lancellotti, e teve a participação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, que proferiu um breve sermão sobre a celebração da Paixão de Cristo.

VIGÍLIA PASCAL E PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Dom Odilo: ‘Este é o novo grande dia de Deus’

POR DANIEL GOMES E FERNANDO GERONAZZO

Com júbilo, a Igreja proclamou no domingo, 31 de março, o despontar de um novo dia: a morte está vencida, Cristo verdadeiramente ressuscitou.

Na Catedral da Sé, centenas de fiéis participaram da Missa da Solenidade da Páscoa da Ressurreição do Senhor, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer.

“Este é o primeiro de todos os domingos, o Domingo da Páscoa da Ressurreição de Jesus. Recordamos a vida nova que Ele nos trouxe e que recebemos durante o nosso Batismo”, disse o Arcebispo de São Paulo, ao saudar os fiéis, explicando que, por essa razão, no começo da missa é feita a bênção da água e a aspersão sobre o povo, para que se recorde o Batismo.

A MARAVILHA DE DEUS PARA REDIMIR A HUMANIDADE

Na homilia, Dom Odilo recordou que a primeira das maravilhas de Deus foi a criação do universo e de todos os seres, mas que pelo pecado do homem estas boas coisas foram distorcidas. O Senhor, porém, cria a segunda maravilha: Cristo, nascido da Virgem Maria, e Ele “maravilhosamente redimiu aquilo que estava voltado à corrupção, à destruição, à morte. Tudo foi resgatado para dar uma nova vida, um novo sentido, e, assim, completar a obra da criação. Hoje, celebramos mais um dia da criação de Deus e que anuncia o futuro da humanidade e de Sua obra, que não é voltada à destruição, ao aniquilamento, ao túmulo”, enfatizou.

Pela Ressurreição de Cristo, Deus aponta o sentido para o qual quer conduzir toda a humanidade: “Jesus ressuscitado o primeiro da nova criação, primogênito entre os mortos, Aquele que inaugura já no tempo presente o futuro de Deus”, prosseguiu.

A ESPERANÇA NO SENHOR

Neste “novo grande dia de Deus, dia que o Senhor fez para nós” – conforme enfatizou o Arcebispo –, as mensagens de Páscoa transmitem a alegria que o próprio Cristo trouxe ao aparecer aos apóstolos após a Sua Ressurreição: a certeza da misericórdia de Deus para aqueles que a Ele se abrirem para ser perdoados; e os anúncios da vida em abundância e da esperança.

“Deus nos promete uma esperança que nós, por força própria, não somos capazes de satisfazer: a esperança da vida, a ressurreição, a superação da morte. A mensagem de Páscoa é de futuro, de confiança. O quanto temos necessidade disso diante de um mundo que parece suicidar-se”, observou.

VIGÍLIA PASCAL

A Solenidade de Páscoa começou na noite do Sábado Santo, 30 de março, com a celebração da Vigília Pascal. Considerada a “mãe de todas das vigílias”, essa celebração anuncia a Ressurreição de Jesus.

A liturgia teve início na Praça da Sé, junto ao Marco Zero da cidade, onde foi abençoado o “fogo novo” do qual é aceso o Círio Pascal, vela que simboliza o Senhor ressuscitado.

Em procissão, os fiéis adentraram na Catedral completamente às escuras, tendo à frente a luz do Círio Pascal, na qual os fiéis acenderam suas velas. Em seguida, do ambão da Palavra, foi entoado o tradicional hino do Precônio Pascal, a proclamação solene da Páscoa: “Exulte de alegria dos anjos a multidão, exultemos, também nós, por tão grande salvação! Do grande Rei a vitória cantemos o resplendor: das trevas surgiu a glória, da morte o Libertador”.

Na sequência, a Liturgia da Palavra perpassou toda a história da salvação. Após as sete leituras do Antigo Testamento, a assembleia cantou o hino de louvor “Glória a Deus nas alturas”, enquanto as velas do altar eram acesas e os 61 sinos da Sé, maior carrilhão da América Latina, soaram no centro da cidade.

Em seguida, houve a proclamação da leitura da Carta de São Paulo aos Romanos (Rm 6,3-11), na qual o Apóstolo indica que todos os batizados em Cristo estão mortos para o pecado, e, assim, devem ter vida nova. Antes da proclamação do Evangelho da Ressurreição segundo São Marcos (Mc 16,1-7), foi entoado solenemente o Aleluia, aclamação omitida durante toda a Quaresma.

BATISMO

Outro momento significativo da Vigília Pascal é a liturgia batismal. Nessa ocasião, 37 adultos receberam os sacramentos do Batismo, da Confirmação (Crisma) e a primeira Eucaristia. Desses, a maioria são ex-dependentes químicos, que antes viviam em situação de rua e foram acolhidos e preparados pela Missão Belém. Também houve a renovação das promessas batismais de todos os fiéis.

“Nesta noite, queremos renovar a nossa disposição de assumir, de novo, a graça, o dom do Batismo e tudo o que isto significa”, sublinhou o Arcebispo, lembrando que, depois do Batismo, ninguém mais deveria se sentir sozinho, pois participa da grande família de Deus, daqueles que vivem hoje e que os precederam na fé, como os santos, os mártires. “Somos parte deste povo que caminhou e caminha com Jesus ao longo da história rumo às promessas de Deus, à casa do Pai. Sim, à terra prometida”, frisou.

A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA CONTINUA

Antes de dar a bênção solene de Páscoa aos fiéis, o Arcebispo lembrou que naquele domingo se iniciava a grande semana da Oitava de Páscoa, durante a qual os cristãos devem continuar a refletir sobre a Páscoa da Ressurreição do Senhor e a testemunhar a fé no Ressuscitado.

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