No dia de São José Operário, a Igreja ressalta o papel do trabalho para a dignidade humana

Em 1º de maio, Dia Mundial do Trabalhador, o Papa Francisco e o Cardeal Scherer recordam a dignidade que pode ser proporcionada pelo trabalho e o exemplo de São José Operário a todos os trabalhadores. Na Catedral da Sé, fiéis participaram de missa

São José e Jesus, que segura uma vela para seu pai
Gerrit Van Honthorst, 1630

“São José aceitou prontamente os planos de Deus na sua vida. Que o seu exemplo nos ajude a sermos firmes na fé, que nos dá a certeza de que o Senhor sempre nos acompanha”, exortou o Papa Francisco, na audiência geral da quarta-feira, dia 1º, ao recordar a figura de São José Operário, descrito nos Evangelhos como carpinteiro, ferreiro e serralheiro.

“Que São José Operário os inspire a ritmar cada dia com um trabalho especial: a oração. Nela, antes de tudo, peçamos ao Senhor que renove e aumente a nossa fé, para que toda nossa atividade comece por Ele e Nele acabe”, também disse o Pontífice, ao saudar os peregrinos de língua portuguesa que participaram da audiência geral.

Papa saúda fiéis na audiência geral de 1 de maio
Vatican Media

O TRABALHO E A DIGNIDADE HUMANA

Em muitas paróquias do Brasil, em especial naquelas dedicadas a São José Operário, missas acontecem neste dia 1º de maio, memória litúrgica do Santo.

Na Catedral da Sé, às 12h, a missa foi presidida pelo Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral, tendo a frente do presbitério a imagem de São José.

“Jesus foi reconhecido no Evangelho segundo Mateus como o filho do carpinteiro. E é justamente esta realidade que queremos hoje agradecer a Deus, porque se pelo seio de Maria Deus se fez homem, foi na carpintaria de Nazaré que Ele se fez trabalhador”, disse Padre Baronto no começo da missa, quando também rezou a Deus pelos desempregados, pelos que estão em situação de trabalho informal e pelos aposentados.

Na homilia, o Sacerdote lembrou que foi da vontade de Deus que Jesus tivesse um pai adotivo na terra, alguém que Lhe proviesse as coisas, Dele cuidasse e Lhe ensinasse uma profissão.

“Como é bonito pensar que Jesus ainda criança, adolescente, lá na carpintaria do seu pai, José, aprendeu dele uma profissão, dividiu com seu pai os compromissos, o esforço de manutenção da própria casa, enfrentou junto com o pai as dificuldades do dia a dia”, refletiu Padre Baronto.

O Cura da Catedral da Sé também destacou que pensar em Jesus aprendendo uma profissão e trabalhando na carpintaria de José, “nos faz lembrar da dignidade e da importância do trabalho”, o qual faz parte do desígnio de Deus para o ser humano.

“Está no nosso DNA, na nossa essência, na nossa condição humana, o trabalho. É por isso que a Igreja, de forma tão profética, não só se coloca sempre ao lado das causas dos trabalhadores, mas ajuda no grito de esperança em favor de quem está desempregado, porque estar desempregado, não trabalhar, é algo que entristece o homem e a mulher, deixa-os em situação de certa humilhação por não poder contribuir com sua presença, com os seus talentos na criação de Deus. Portanto, o trabalho nos unge de dignidade, nos plenifica, nos torna, de alguma forma, cooperadores de Deus no ato da criação”, ressaltou.

Fiéis diante da imagem de São José na Catedral da Sé
Reprodução

ESPERANÇA DIANTE DAS DIFICULDADES

Padre Baronto também mencionou as muitas dificuldades enfrentadas historicamente pelos trabalhadores no Brasil e no mundo, como o desemprego e as condições indignas de trabalho, por vezes análogas à escravidão, que são encontradas até mesmo em São Paulo, onde, conforme lembrou, isso tem sido vivenciado especialmente por muitos migrantes latino-americanos e africanos.

Diante de tais situações, a Igreja, historicamente, tem apelado aos governantes para que façam tudo o que for possível para que haja emprego digno a todas as pessoas. Padre Baronto lembrou, porém, que mesmo quando as condições aos trabalhadores não são propícias, estes não devem perder a esperança.

“São José também passou por momentos difíceis, mas nunca perdeu a confiança e soube superar tudo, porque acreditou, teve a certeza que de que Deus não o abandonaria”, ressaltou o Sacerdote, que antes da bênção final da missa, convidou os trabalhadores para que se aproximassem da imagem de São José a frente do presbitério, em especial os que estão desempregados ou com alguma dificuldade em seus empregos atuais.

Dom Odilo Pedro Scherer
Luciney Martins/O SÃO PAULO

TRABALHO, CRESCIMENTO PESSOAL E SANTIFICAÇÃO

No começo da noite da quarta-feira, 1º de maio, às 18h, o Cardeal Odilo Pedro Scherer preside missa no encerramento da festa do padroeiro da Paróquia São José Operário, Decanato São Matias da Região Santana (Rua José Gomes de Goveia, 201, Vila Nova Galvão).

Pela manhã, no programa Encontro com o Pastor, da rádio 9 de Julho, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo falou sobre a memória litúrgica de São José Operário, recordando que Jesus, ao trabalhar com seu pai adotivo, dignificou o trabalho, por meio do qual o homem ganha o pão de cada dia, o sustento de sua família e participa da obra de Deus.

“O trabalho dignifica quando ele é feito com liberdade, com dignidade, ou seja, não é um trabalho desumanizador ou inadequado para as condições humanas e, claro, é devidamente remunerado”, ressaltou o Arcebispo, recomendando que também as pessoas criem o hábito de agradecer às demais pelos bens que proporcionam a partir do próprio trabalho.

“Façamos do trabalho também um instrumento de crescimento pessoal e de santificação e uma forma de dar a nossa contribuição para a vida em sociedade”, disse Dom Odilo, lembrando, ainda, que o respeito, a dignidade e a justiça nas relações de trabalho são enfatizados pela Doutrina Social da Igreja.

“Que São José continue a ser referência e exemplo para todos os trabalhadores e trabalhadoras, e que por sua intercessão, os trabalhadores sejam protegidos contra todo o tipo de males que os possam atingir, desde acidentes de trabalho até situações de injustiça, violência ou de usurpação e exploração do trabalho. Que entre nós não haja mais nenhum tipo de escravidão, de submissão forçada ao trabalho não dignamente reconhecido”, desejou o Arcebispo.

CNBB: A IGREJA SE UNE À LUTA DOS TRABALHADORES

Na mais recente Mensagem ao Povo Brasileiro, emitida na conclusão de sua 61ª Assembleia Geral, em abril, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) menciona a celebração do Dia do Trabalhador.

“Por ocasião da Festa do 1º de Maio, que se aproxima, a Igreja, inspirada em São José Operário, se une solidariamente aos trabalhadores e trabalhadoras nas suas memoráveis lutas por condições dignas de vida e trabalho, bem como com aqueles que continuam enfrentando antigos e novos problemas. Entendemos que o Brasil necessita de um novo marco legal que garanta a prioridade do trabalho, do bem-estar humano e da geração de emprego e renda, principalmente para os jovens. Todos os segmentos da sociedade brasileira devem defender a vida na sua integralidade e agir solidariamente em prol de um país economicamente humanizado, politicamente democrático, socialmente justo e ecologicamente sustentável”, escreveram os bispos.

Na terça-feira, 30 de abril, em mensagem de vídeo, Dom Ricardo Hoepers, Bispo Auxiliar de Brasília (DF) e Secretário-geral da CNBB, apresentou a mensagem da Conferência aos trabalhadores do campo e da cidade por ocasião do 1º de maio.

Em um dos trechos da Mensagem, os bispos afirmam que as “condições dignas de vida e de trabalho, a geração de emprego e renda, principalmente para os jovens, e o respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, a superação da escravidão e de toda forma de exploração são motivos de celebração e de contínuo cuidado”.

Com informações da CNBB e Vatican News

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