Na quinta-feira, 11, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes, também é comemorado o 29º Dia Mundial do Enfermo. Este ano, o Papa Francisco dedicou sua mensagem para a data a todas as pessoas que sofrem com os efeitos da pandemia de COVID-19.
“A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja”, escreveu o Santo Padre.
Francisco se inspirou no versículo “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), para tratar da relação de confiança na base do cuidado dos doentes. “Quando a fé fica reduzida a exercícios verbais estéreis, sem se envolver na história e nas necessidades do outro, então falha a coerência entre o credo professado e a vida real. O risco é grave”, afirmou.
O Papa ressaltou, ainda, que a experiência da doença faz as pessoas sentirem sua vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade natural do outro. “Torna ainda mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a nossa dependência de Deus”, acrescentou.
Referindo-se à atual pandemia, o Santo Padre salientou que foram evidenciadas tantas insuficiências dos sistemas sanitários e carências na assistência às pessoas doentes. “Viu-se que, aos idosos, aos mais frágeis e vulneráveis, nem sempre é garantido o acesso aos cuidados médicos, ou não o é sempre de forma equitativa. Isto depende das opções políticas, do modo de administrar os recursos e do empenho de quantos revestem funções de responsa- bilidade”, sublinhou.
Por outro lado, o Pontífice reconheceu que a pandemia também destacou a dedicação e generosidade dos profissionais da saúde, voluntários, trabalhadores, sacerdotes, religiosos e religiosas que, “com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, ajudaram, trataram, con- fortaram e serviram tantos doentes e os seus familiares”, disse. “Uma série silenciosa de homens e mulheres que optaram por fixar aqueles rostos, ocupando-se das feridas de pacientes que sentiam como próximo em virtude da pertença comum à família humana”, frisou Francisco.
Leia a íntegra da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Enfermo
Obra de misericórdia
O Dia Mundial do Enfermo foi criado em 11 de fevereiro de 1992, por iniciativa de São João Paulo II, para dar atenção especial às pessoas doentes e a todos aqueles que as assistem.
O fundamento dessa que é uma das obras de misericórdia corporais da vida cristã está nos evangelhos, que apresentam inúmeros relatos de momentos em que Jesus acolhe, atende, socorre e cura os doentes.
A esse respeito, o Papa Francisco, na mensagem deste ano, enfatizou o sentido mais profundo da proximidade, que ele define como “um bálsamo precioso”, que dá apoio e consolação a quem sofre na doença.
“Como cristãos, vivemos uma tal proximidade como expressão do amor de Jesus Cristo, o bom samaritano, que, compadecido, fez-se próximo de todo ser humano, ferido pelo pecado. Unidos a Ele pela ação do Espírito Santo, somos chamados a ser misericordiosos como o Pai e a amar, de modo especial, os irmãos doentes, frágeis e atribulados (cf. Jo 13,34-35). E vivemos esta proximidade pessoalmente, mas, também, de forma comunitária: na realidade, o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, que não abandona ninguém, que inclui e acolhe sobretudo os mais frágeis”, escreveu.
Em casa
Essa obra de misericórdia não se limita àqueles que trabalham profissional ou voluntariamente no cuidado dos doentes, mas começa no âmbito familiar, sobretudo quando se lida com doenças prolongadas, muitas vezes, irreversíveis.
A professora aposentada Eloisa Gonçalves dos Santos Colombo, 62, testemunhou essa realidade ao cuidar dos seus sogros e da sua mãe na enfermidade até a morte, ao longo de mais de uma década. Ela relatou ao O SÃO PAULO que considera essa experiência como um presente de Deus para que pudesse amar cada vez mais seus familiares. “Ao longo desses anos, eu aprendi muito com meus sogros e com a minha mãe. Reconheço que não foi fácil, humanamente é desgastante, mas a palavra que resume esse período é doação e liberdade”, disse.
Eloisa ressaltou que, mais do que o cuidado físico e técnico, o mais importante é justamente a proximidade, o contato afetivo que minimiza o sofrimento da pessoa doente. Ela afirmou, ainda, que a presença dos enfermos aproximou e humanizou mais a sua casa. “É extensivo a todos da família, que abraçam juntos essa missão, cada um a seu modo, especialmente pela presença”, relatou.
Amor
Já a assistente administrativa Laura Maria Inglez dos Santos, 67, viveu a experiência do cuidado do próprio marido, Luiz Carlos dos Santos, com quem foi casada por 40 anos. Acometido por uma demência vascular que se agravou ao longo dos anos, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2013 e, a partir de então, sua coordenação motora começou a ser cada vez mais comprometida até que, em 2015, ele não podia mais andar, nem falar. Ele faleceu em outubro daquele ano, aos 65 anos.
Laura contou que, de repente, toda a vida e a rotina da família se transformaram completamente para que Luiz Carlos pudesse ser tratado em casa, próximo dela e dos dois filhos. “Sabíamos que se tratava de uma doença degenerativa irreversível e que só era possível o tratamento paliativo. Por isso, dedicamo-nos em dar o máximo de amor e dignidade para ele”, afirmou.
Rede de apoio
Tanto Laura quanto Eloisa reconheceram que, sem o apoio dos familiares, amigos e da comunidade eclesial, seria impossível viverem essa missão de cuidar dos seus entes queridos. “O fato de ter alguém que nos pergunte como estamos, com quem podemos compartilhar nossas angústias, que façam com que não nos sintamos sozinhos, é uma grande graça”, disse a professora, sublinhando que essa obra de misericórdia também se estende àqueles que cuidam diretamente dos doentes.
“Às vezes, as pessoas ficam com receio de telefonar ou nos visitar, pensando que vão incomodar. Pelo contrário, como nos fazia bem, nesse momento, sentir a proximidade das pessoas. Isso nos ajuda a seguir o caminho, amparam-nos para permanecermos de pé”, completou Laura
“Viver em torno de um doente é uma experiência constante da misericórdia e da caridade. Uma obra de amor infinito, porque aquela pessoa que está ali, debilitada por uma enfermidade grave, não pode dar nada em troca, apenas receber o seu amor”, manifestou Laura, acrescentando: “No fim da vida, Deus não vai me perguntar quantas fraldas eu troquei, ou quantas noites eu fiquei sem dormir ao lado dele. Ele me perguntará o quanto eu amei”, disse.