Logo do Jornal O São Paulo Logo do Jornal O São Paulo

Semana da Vida e do Nascituro: respeito à dignidade humana, da concepção à morte natural

A palavra nascituro carrega em si o sentido de esperança. De origem latina, nasciturus, significa “aquele que vai nascer”, designando o ser humano já concebido, mas ainda em gestação. 

Para valorizar a vida em todas as suas etapas, a Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove, desde 2005, a Semana Nacional da Vida e do Nascituro, que começa em 1º de outubro e culmina com o Dia do Nascituro, em 8 de outubro. 

Neste ano, o tema “Cuidar de si, do próximo e da casa comum” e o lema bíblico “Lançai sobre Ele toda a vossa preocupação, pois Ele cuida de vós” (cf.I Pd 5,7) inspiraram missas, encontros e debates em todo o País. 

O VALOR DA VIDA E A VOZ DA IGREJA 

A defesa da vida é um valor continuamente reafirmado pela Igreja, sobretudo quando se trata daqueles que não têm voz. O Magistério mantém firme a convicção de que a vida humana é um bem primário e inalienável, digno de respeito em todas as suas fases e condições. 

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) declara que “a vida humana deve ser respeitada e protegida de modo absoluto desde o momento da concepção” (n. 2270), e que o direito à vida de todo ser inocente é inviolável e independe de concessões da sociedade ou do Estado (n. 2273). Assim, defender a vida é um dever que se impõe sempre que ela é ameaçada ou fragilizada, seja no ventre materno, seja na velhice, seja na doença, seja na exclusão social. 

Também o Papa Leão XIV, em seu primeiro discurso ao corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, destacou que a construção de sociedades justas e pacíficas passa pela centralidade da família e pela proteção incondicional da dignidade humana: “Ninguém pode deixar de favorecer contextos em que a dignidade de cada pessoa é protegida, especialmente a das mais frágeis e indefesas, do nascituro ao idoso, do doente ao desempregado, seja ele cidadão, seja imigrante”. 

A CIÊNCIA CONFIRMA: A VIDA COMEÇA NA CONCEPÇÃO 

A convicção da fé encontra respaldo na Biologia. “Do ponto de vista científico, não há dúvida: a vida humana começa no momento da concepção”, explica a médica Juliana de Alexandria. “Quando o espermatozoide se une ao óvulo, forma-se o zigoto, uma nova célula com código genético próprio e único, diferente do da mãe e do pai. Todas as características anatômicas, incluindo a cor dos olhos e do cabelo, já estão definidas nos primeiros minutos da divisão celular”, ressalta. 

A partir do momento da concepção, há continuidade no desenvolvimento. “O que chamamos de embrião, feto, bebê, criança e adulto são apenas estágios do mesmo ser humano”, explica a médica, destacando ainda que o zigoto não é apenas uma célula, mas uma realidade biológica verificável, e que qualquer intervenção que interrompa esse processo equivale à perda de uma vida humana já em curso: “Se você pega uma célula de qualquer tecido, como pele ou fígado, e a mantém viva em condições adequadas, ela não se transforma em outra coisa, continua sendo pele e fígado. O zigoto, por sua vez, vai se desenvolver integralmente e se tornar uma pessoa”. 

A DEFESA JURÍDICA E OS DESAFIOS ATUAIS 

No Brasil, a Constituição federal, em seu artigo 5º, garante a inviolabilidade do direito à vida. “O texto não explicita quando ela começa, mas, a partir do momento em que há vida, ou seja, desde a fecundação, ela está protegida constitucionalmente até a morte natural”, afirma Andrea Hoffmann, presidente do Instituto Isabel, que se dedica à promoção de ações educativas e jurídicas em defesa da vida e da família. 

Há quase duas décadas aguarda por votação no Congresso Nacional o Estatuto do Nascituro (PL 478/2007), que busca assegurar a proteção legal ao ser humano ainda em gestação, de forma semelhante ao que ocorre com o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso. 

A presidente do Instituto Isabel também chama a atenção para projetos e resoluções que colocam em risco o princípio da dignidade humana, como o uso da assistolia fetal, “método torturante de assassinato de bebês na barriga, após 20 ou 22 semanas”, e uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), publicada em 2024, que permite que “menores de idade em situação de violência, ao procurarem atendimento ginecológico, sejam encaminhadas automaticamente para o aborto, independentemente do consentimento dos pais ou da própria menor”. Andrea faz uma apelo a todos os cristãos: “Informem-se e saibam defender a vida em qualquer âmbito em que estiverem”. 

CUIDADO QUE TRANSFORMA 

A Semana Nacional da Vida e do Nascituro também evidencia o trabalho cotidiano de pastorais e grupos comprometidos com a promoção da vida. Entre eles, a Pastoral da Criança tem presença marcante nas comunidades, especialmente nas periferias. 

Irmã Rosane Maria Garlet, assessora dessa Pastoral na Região Ipiranga, detalha: “Os líderes comunitários chegam aonde os profissionais das Unidades Básicas de Saúde não chegam. Eles visitam, escutam e, com gestos simples, ajudam a salvar vidas.” 

Para o Padre Jorge Bernardes, Coordenador Arquidiocesano da Pastoral da Criança, esta semana é “um convite a redescobrir o valor da vida, a cultivar e cuidar do outro e a testemunhar com esperança a fé cristã em nossa sociedade”. Ele lembra que a cultura atual tende a descartar o que incomoda, “um idoso, uma criança não planejada”. 

O Sacerdote deseja que o testemunho católico em defesa da vida ultrapasse os muros da Igreja: “Além das missas e eventos, precisamos promover debates sobre o tema não só nas paróquias, mas também fora do âmbito eclesial. Onde houver um católico, deve haver um testemunho público da fé. A sociedade precisa sentir o peso da nossa opinião diante da indiferença à vida”. 

Dom Odilo recorda o que disse Jesus: ‘Deixai vir a mim as crianças’

Na Arquidiocese de São Paulo, a Semana Nacional da Vida e do Nascituro teve como um dos destaques a missa presida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, na manhã do sábado, 4, na Catedral da Sé. 

Na homilia, o Arcebispo Metropolitano recordou o empenho dos católicos em defesa da vida. Ele enalteceu “a Pastoral da Criança que faz o cuidado integral da criança e sua acolhida na Igreja; aqueles que olham para elas como Jesus olharia, esse Jesus que disse: ‘Deixai vir a mim as crianças, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas’”. 

Edlamar Marques da Silva, da Pastoral da Criança da Região Belém, participante da missa, lembrou que essa Pastoral “cuida dos mais vulneráveis e os protege, com atenção especial aos mil primeiros dias de vida, da concepção até os 2 anos de idade”. Ela ressaltou ainda a dimensão sagrada da gestação: “Quando vejo uma mulher grávida, percebo o poder de trazer ao mundo um ser semelhante a Deus, e isso é divino”. 

No dia em que a Igreja recordava São Francisco de Assis, Dom Odilo enfatizou que o Santo “foi, antes de tudo, protetor da natureza humana: amigo dos pobres, dos doentes, dos esquecidos e de Deus”, sendo um testemunho que continua a inspirar o compromisso cristão de cuidar da vida em todas as suas formas.

(Colaborou: Karen Eufrosino)

Deixe um comentário