Todo batizado pode ser um bom influenciador

Luciney Martins/O SÃO PAULO

O termo “influenciador” está muito em evidência atualmente graças às redes sociais digitais. Geralmente, é utilizado para se referir à pessoa que, focando determinado tema, atua nas redes sociais em busca de seguidores, muitas vezes visando à fama e a algum retorno financeiro.

Dom Valdir José de Castro, SSP, Bispo de Campo Limpo (SP) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), explica que mais do que influenciador, cada cristão é chamado a dar testemunho de sua fé, que nasce do encontro com Jesus. Portanto, se é preciso que exista alguma “influência”, essa deve decorrer da adesão a Cristo e ao seu Evangelho.

“Se o cristão está nesta direção, certamente será um bom influenciador e estará na caminhada de Igreja proposta pelo Papa Francisco, isto é, de uma Igreja que busca crescer não por proselitismo, mas por atração”, disse Dom Valdir.

DE INFLUENCER A MISSIONÁRIO DIGITAL

Moisés Sbardelotto, doutor em Ciências da Comunicação, professor da PUC-Minas e autor do livro “Missionários no ambiente digital: em nome de quem?”, que será lançado em breve pelas editoras Santuário e Paulinas, enfatiza que nos documentos relativos ao Sínodo sobre a Igreja sinodal (2021-2024) o termo “influencer digital” foi substituído por “evangelizador digital” ou “missionário digital”.

Ele recorda que o Papa Francisco tem exortado os católicos a também evangelizar no ambiente digital para propagar uma mensagem autêntica e fundamentada nos valores do Evangelho.

A grande meta é testemunhar Cristo em todas as interações, sejam on-line, sejam off-line. Sbardelotto destaca que não importa em qual ambiente esteja, “o cristão tem que ser coerente com a sua fé”.

CONSCIÊNCIA ECLESIAL

Dom Valdir enfatiza que quem deseja ser boa referência de fé aos demais deve manter-se fiel aos valores do Evangelho e à caminhada da Igreja. Não menos importante é ter compromisso com a verdade, capacidade de escuta, respeito às pessoas com as suas diferenças e a consciência de que, como cristão, sempre deve se comunicar como membro da Igreja.

Tendo essa consciência eclesial – de que se é parte da Igreja –, a pessoa deverá agir no sentido mais profundo da comunicação, ou seja, gerar comunhão, o que não significa uniformidade, mas busca da unidade, respeitando a diversidade de dons.

Ao cristão, a primeira referência de comunicação é a Santíssima Trindade, comunidade de amor que vive a contínua comunicação que gera comunhão. “Mais do que nunca, necessitamos de cristãos que sejam verdadeiros ‘artesãos de comunhão’”, destaca Dom Valdir.

O chamado à evangelização começa no Batismo, que não é apenas um ritual de purificação, mas o início de uma jornada de compromisso, responsabilidade e testemunho dos ensinamentos de Jesus Cristo para todos os fiéis.

COMO SER UMA BOA REFERÊNCIA DE FÉ AOS DEMAIS?

É fundamental compreender que o principal veículo de que Jesus se utiliza para evangelizar é o testemunho de vida de cada cristão batizado.

“Uma pessoa cristã é chamada a testemunhar Cristo dentro da igreja, mas também no estacionamento da paróquia, no bar da esquina, no ambiente de trabalho e dentro de casa com os nossos familiares. Como apontado no Documento de Aparecida, devemos ser discípulos missionários onde quer que estejamos”, comenta Moisés Sbardelotto.

Nesse sentido, é importante viver o principal valor do Evangelho: o mandamento do Amor. Nele está o diálogo, a ação pacífica, que não machuca, não fere, não difama, não calunia, não é preconceituosa, e é capaz de acolher o outro e amar o próximo na sua diferença.

Dom Valdir Castro ressalta que as práticas espirituais oferecidas pela Igreja ajudam o batizado nesta caminhada de evangelização, na qual em primeiro lugar está o contato frequente com a Palavra de Deus e a participação na Eucaristia.

São imprescindíveis também a oração pessoal e comunitária, não reduzidas à prática de piedade, mas como espaço para o encontro com Jesus e os irmãos. O caminho espiritual também exige abertura constante ao Espírito Santo, que é o doador dos dons e envia em missão, especialmente aos pobres e sofredores.

“Não podemos separar o mundo on-line da realidade off-line. Não pode haver oposição, mas complementaridade. É preciso ajudar os fiéis a entenderem que é nesta complementaridade que são chamados a dar o testemunho da fé”, ressalta o Bispo de Campo Limpo e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB.

DENTRO E FORA DAS REDES

E talvez seja até fora das redes que os católicos exerçam com mais mestria o apostolado de influenciadores. E isso pode ocorrer a partir de coisas simples, como testemunha Sonia Lima, coordenadora do Grupo de Oração Nossa Senhora do Sim, da Paróquia do Divino Espírito Santo da Região Episcopal Sé.

Sônia ressalta que ser um influenciador da fé vai além da presença nas redes sociais, pois é preciso que nas ações cotidianas cada pessoa reflita como ser a imagem e semelhança de Deus e testemunha viva do Cristo Ressuscitado.

“A vida é um livro aberto que todos observam. Mais do que palavras, é preciso ter atitudes cristãs. Os princípios e valores centrais do Evangelho devem ser vividos no dia a dia”, comenta Sônia.

E como começar a ser um bom missionário digital? Eis algumas práticas indispensáveis: a busca pelos sacramentos; a participação nas missas e nos momentos de adoração ao Santíssimo; ter o hábito de rezar individual ou comunitariamente; fazer meditações da Palavra; participar de retiros; e ter recorrência nos atos penitenciais de jejum e de dar esmola.

Afinal, sem praticar esses propósitos de vida cristã, o que você terá de bom a compartilhar nas redes sociais para influenciar alguém ao seguimento a Cristo?

(Colaborou Benigno Naveira)

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