Um momento especial em meio à pandemia

O SÃO PAULO apresenta série de reportagens sobre a natalidade em tempos de pandemia

A professora Thaisa de Lima com o marido e os filhos (arquivo pessoal)

Gestar um filho é, sem dúvida, uma experiência desafiadora e, ao mesmo tempo, um momento muito especial para uma mulher, que passa por inúmeras mudanças que envolvem transformações corporais, hormonais e psíquicas.

Mesmo em meio à pandemia de COVID-19, muitas têm se aberto para o dom de gerar a vida.

No 4º mês de gestação

A professora Thaisa de Lima, 29, se aproximava do quarto mês de sua segunda gestação quando o governo brasileiro deu início às primeiras ações de combate ao coronavírus, em 2020. Ela conta que foi um misto de sentimentos.

“Era muita apreensão sobre o que poderia ou não fazer. Não saía mais para lugar nenhum, somente quando tinha consulta do pré-natal. Mas também pensava muito na bênção que Deus nos tinha dado, nosso filho”, recorda Thaisa, acrescentando que há tempos tentava engravidar novamente.

Thaisa fez seu pré-natal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e diz que, logo no início da pandemia, ocorreu a suspensão dos encontros do grupo de grávidas, um atendimento do posto de saúde que visa a sanar dúvidas das mães por meio de rodas de conversa.

“Consultas também foram atrasadas por causa da pandemia. A médica que me atendia ficou com suspeita de COVID-19 e eu passei um tempo sendo atendida pelo enfermeiro”, relata a professora.

Incertezas

Thaisa lidou com várias dúvidas durante todo o período gestacional, como as divergentes informações da Saúde, que ora colocavam as grávidas no grupo de risco, ora não; a angústia por não saber se poderia ter acompanhante durante o parto; até a imprecisão de não saber onde dar à luz.

Moradora do Ipiranga, na zona Sul de São Paulo, ela queria dar à luz no Hospital Ipiranga, o mais próximo de seu endereço, mas teve que pensar alternativas, pois houve um momento em que esse hospital priorizou o atendimento de casos de COVID-19.

O momento do parto

Em agosto de 2020, o filho de Thaisa nasceu no Hospital Ipiranga, como ela desejava.

A professora recorda que dividiu o quarto do hospital público com outras quatro mães e seus acompanhantes. “Era intenso o entra e sai das enfermeiras e das pessoas que levavam as refeições, mas todos sempre bem protegidos”.

Thaisa também recorda que nesse período de internação houve a partilha de experiências e mútuo apoio entre as mães.

“Trocamos dicas para aliviar as dores nos seios e nos pontos da cesárea. Ajudávamos umas às outras na hora de dar banho e no momento de tirar leite. Conversávamos e tentávamos acalmar as mães dos bebês que precisavam de banho de luz ou ficar mais tempo internados”, recorda a professora.

Experiências da gestação

Ao longo de sua gravidez, Thaisa percorreu um caminho cheio de receios, gerados por diferentes aspectos ligados à pandemia, mas, junto com sua família, conseguiu superá-los.

No primeiro ano de pandemia, devido a problemas financeiros, a professora e a família passaram um período na casa da mãe e outro na casa da sogra, o que permitiu que ela, mesmo estando em isolamento social, recebesse cuidados de outros membros da fa- mília durante a gestação e após o parto.

“Foi o ano mais desafiador para nós e cheio de aprendizados. Aprendi muito e sou grata por ter passado por toda montanha russa da vida. Orei muito e continuo orando. Sou grata a Deus por nos ter guiado até aqui”, expõe a professora.

Apesar das dificuldades enfrentadas durante a gravidez, Thaisa acredita que tudo valeu a pena. “Tenho gratidão por ter meu filho em meus braços e por ver minha família unida, com saúde, e forte durante o dilúvio e, agora, debaixo do sol. Temos disposição para correr atrás dos nossos objetivos, sem desanimar”, conclui.

A gerente de telecomunicação Chiara Andolina e sua família (arquivo pessoal)

A surpresa da nova vida

A gerente de telecomunicação Chiara Andolina, 36, está no oitavo mês de gestação. Mãe de dois filhos, a mais nova com menos de 2 anos de idade, ela estava próxima de uma promoção na carreira quando soube que estava grávida.

“Logo que descobri a gravidez, contei à minha chefe porque sabia que estava no ar essa promoção. Então, achei justo comunicar [de imediato] a situação”, pontua a gerente de telecomunicação, destacando que, na conversa, a chefe frisou o quanto ela já havia contribuído com a empresa e que a gravidez não seria um empecilho para a futura promoção profissional, que ocorreu meses depois.

Para Chiara, apesar das dificuldades que a pandemia trouxe para todos, a gravidez foi um momento de felicidade. “Recebemos muitos sinais positivos de que quando nos abrimos à vida, tudo se acerta. É só se entregar mesmo”, diz.

Gestação e home office

Desde o início da pandemia, Chiara está em home office e afirma que essa realidade é o que mais impactou positi- vamente a sua gravidez, especialmente neste fim de gestação.

“Nesta fase, acho bom poder trabalhar em casa, porque não preciso me deslocar durante este período, que é mais cansativo. Lembro que nas minhas outras gestações sempre trabalhei até o fim e era bem pesado”, recordou, pontuando, ainda, que de sua residência, na zona Oeste de São Paulo, ao seu local de trabalho, em Santo André (SP), percorria um trajeto de cerca de duas horas, de carro.

Apesar de considerar confortável fazer home office, a gerente de telecomunicação relata uma inquietude por não estar se exercitando durante a gravidez. “Quando trabalhava presencialmente, para ir almoçar, por exemplo, eu saía do escritório e andava um pouco a pé. Em casa, isso foi cortado”.

Relação familiar

A família de Chiara também teve que se adaptar à rotina imposta pela pandemia. “Não estávamos acostumados a ter esse contato familiar diário por todo esse tempo, o que nos deixou mais próximos”, comenta.

Ela também tem vivenciado de forma mais intensa a gestação ao lado dos filhos. “O maior, que tem 4 anos, é bem mais consciente de tudo o que está acontecendo e está bem contente. Já a menor sabe que tem um bebê na minha barriga, mas, talvez, não entenda o que isso significa ainda”.

Chiara acrescenta que, aos fins de semana, a doula (assistente de parto) vai à sua casa para auxiliá-la com massagens e exercícios. Nesses momentos, a filha caçula participa, imitando os movimentos e fazendo massagem na mãe.

Outra situação positiva em decorrência da gravidez é que os pais de Chiara, que moram na Itália, já se preparam para vir ao Brasil e, assim, irão ajudá-la nos cuidados com a bebê no período do puerpério.

Expectativas

Chiara realiza o pré-natal em uma rede particular de Saúde. “As consultas continuam na mesma frequência das gestações anteriores. A diferença é que usamos máscaras e mantemos distância”.

Sobre o parto, previsto para julho, ela diz que, embora se preocupe com a possibilidade de agravamento da pandemia, está tranquila e acredita que a maior alteração seja a restrição de visitas.

Com a chegada do bebê, Chiara planeja, também, passar uma parte da licença-maternidade na Itália, ao lado da família.

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