Unção dos Enfermos: sacramento de cura e ‘sinal visível de compaixão e esperança’

Wesley Almeida/Canção Nova

Neste mês de julho, a Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração) é chamada pelo Pontífice a elevar súplicas a Deus para que “o sacramento da Unção dos Enfermos dê às pessoas que o recebem e aos que lhes são mais próximos a força do Senhor e se torne cada vez mais para todos um sinal visível de compaixão e esperança”.

Conforme destacado por Francisco na videomensagem mensal, “quando o sacerdote se aproxima de uma pessoa para lhe dar a Unção dos Enfermos, não está necessariamente a ajudá-la a despedir-se da vida. Pensar assim é desistir de toda a esperança”.

A mensagem do Papa reforça uma verdade de fé já apresentada na constituição conciliar Sacrosanctum concilium: “[A Unção dos Enfermos] não é sacramento só dos que estão no fim da vida. É já certamente tempo oportuno para a receber quando o fiel começa, por doença ou por velhice, a estar em perigo de morte” (SC 73).

Destaque-se, ainda, que de acordo com o Catecismo da Igreja Católica (CIC), se alguém gravemente adoecido recebeu este sacramento e recuperou sua saúde, “pode, em caso de nova enfermidade grave, recebê-lo outra vez. No decurso da mesma doença, este sacramento pode ser repetido se o mal se agrava. É conveniente receber a Unção dos Enfermos antes de uma operação cirúrgica importante” (CIC 1515).

ALÍVIO E SALVAÇÃO

Na videomensagem que dirige aos fiéis por meio da Rede Mundial, o Papa Francisco ressalta que a Unção dos Enfermos é um dos “‘sacramentos de cura’, que cura o espírito”, conceito que está detalhado no Catecismo.

“O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos, que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo, quis que a sua Igreja continuasse, com a força do Espírito Santo, a sua obra de cura e de salvação, mesmo para com os seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramento da Penitência e o da Unção dos Enfermos” (CIC 1421).

Pela Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, “toda a Igreja encomenda os doentes ao Senhor, sofredor e glorificado, para que os alivie e os salve: mais ainda, exorta-os a que, associando-se livremente à Paixão e Morte de Cristo, concorram para o bem do povo de Deus” (CIC 1499).

MANDATO DE JESUS À IGREJA

“Curai os enfermos!” (Mt 10,8), foi uma das missões que Jesus deixou a seus discípulos e que a Igreja procura cumpri-la “tanto pelos cuida-dos que dispensa aos doentes quanto pela oração de intercessão com que os acompanha” (CIC 1509).

O rito próprio para tal foi atestado por São Tiago, conforme relatado nas Sagradas Escrituras: “Alguém de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5,14-15).

Na constituição apostólica Sacram Unctionem Infirmorum, publicada em 1972, São Paulo VI detalhou que este sacramento deve ser conferido “àqueles que estão doentes em perigo de vida, ungindo-os na fronte e nas mãos, com óleo de oliveira, devidamente benzido, ou, de acordo com as circunstâncias, com outro óleo que seja extraído de plantas, proferindo, uma única vez, estas palavras: ‘Por esta santa unção e pela sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos’”.

UM SACRAMENTO DA COMUNIDADE CRISTÃ

Em uma audiência geral em fevereiro de 2014, o Papa Francisco lembrou que o sacerdote e os demais presentes quando da administração da Unção dos Enfermos “representam toda a comunidade cristã que, como um único corpo se estreita em volta de quem sofre e dos familiares, alimentando neles a fé e a esperança, e apoiando-os com a oração e com o calor fraterno. Mas o maior conforto provém do fato de que quem está presente no sacramento é o próprio Senhor Jesus, que nos guia pela mão, nos acaricia como fazia com os doentes e nos recorda de que já Lhe pertencemos e de que nada – nem sequer o mal nem a morte – jamais nos poderá separar Dele”.

Ao comentar a videomensagem do Pontífice para este mês, o Padre Frédéric Fornos, SJ, Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, salientou que a intenção de Francisco foi fazer com que as pessoas redescubram “toda a profundidade e o verdadeiro sentido deste sacramento, não apenas como preparação para a morte, mas como um sacramento que consola os doentes em alturas de doença grave, bem como os que lhe são queridos, e dá força a quem os cuida”.

“Todos conhecemos pessoas doentes, rezamos por elas, e se entendemos que padecem de uma doença grave, bem como aos idosos cujas forças declinam, não tenhamos dúvidas em propor-lhes que vivam este sacramento de consolação e esperança”, concluiu o Sacerdote.

QUAL PADRE DEVE ADMINISTRÁ-LO?

Conforme detalha o Catecismo da Igreja Católica, compete aos bispos e presbíteros conferir o sacramento da Unção dos Enfermos, bem como instruir os fiéis acerca de seus benefícios: “Que os fiéis animem os enfermos a chamarem o sacerdote para receberem este sacramento. E que os doentes se preparem para o receber com boas disposições, com a ajuda do seu pastor e de toda a comunidade eclesial, convidada a rodear, de um modo muito especial, os doentes, com as suas orações e atenções fraternas” (CIC 1516).

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cônego João Inácio Mildner, Vigário Episcopal para a Pastoral da Saúde e dos Enfermos da Arquidiocese de São Paulo, explicou que os familiares de alguém que se encontre hospitalizado em grave situação de saúde devem por primeiro buscar pelo padre da paróquia em cujo território se localiza o hospital, para que administre o sacramento da Unção dos Enfermos.

“Todo hospital está geograficamente no território de abrangência de alguma paróquia e é o padre desta paróquia que deve administrar este sacramento. O Código de Direito Canônico determina que o padre é o responsável pelo povo de Deus a ele confiado, seja temporariamente, seja permanentemente”, detalhou o Cônego João Mildner.

O Vigário comenta, porém, que algumas regiões episcopais, como a Brasilândia, organizam a assistência pastoral aos enfermos entre os sacerdotes de um mesmo decanato, e que nos hospitais nos quais há a capelania católica, as pessoas podem procurar pelos capelães para que administrem este sacramento.

O Cônego listou alguns dos hospitais da capital paulista onde isso já acontece: Clínicas, Santa Casa de Misericórdia, Sírio-Libanês, Beneficência Portuguesa, Santa Catarina, Mandaqui, Heliópolis, Instituto de Infectologia Emílio Ribas, hospitais da Rede São Camilo e Hospital do Servidor Público Estadual.

No Hospital do Servidor Público Municipal, o acompanhamento pastoral aos enfermos é realizado pela Paróquia Santo Agostinho, da Região Sé.

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