Urgências e oportunidades para a Pastoral Urbana são tratadas em congresso teológico internacional

Evento em Porto Alegre (RS) teve a participação de clérigos, religiosos e leigos, e conferência com o Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação

Foto: PUC-RS

Um espaço interdisciplinar sobre a realidade urbana contemporânea com o objetivo de qualificar a reflexão teológica e a ação pastoral da Igreja. Assim foi o Congresso Teológico Internacional de Pastoral Urbana, realizado entre os dias 4 e 6, em Porto Alegre (RS).

Promovido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a atividade contou com a participação de bispos, padres, religiosos consagrados e leigos. Houve momentos de partilha de vivências e conferências sobre a ação pastoral da Igreja nas grandes cidades, os desafios à evangelização no contexto urbano e as perspectivas teológicas e pastorais para criar e consolidar comunidades sinodais.

Na abertura do encontro, Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre e Presidente da CNBB e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), ressaltou que diante da atual mudança de época, a Igreja precisa encontrar respostas viáveis para a sua ação evangelizadora nas diferentes realidades urbanas.

UM TEMA CARO AO PAPA FRANCISCO

Na conferência “A cidade no magistério de Francisco”, Dom Antônio Luís Catelan, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro e membro da Comissão Teológica Internacional, recordou que o Papa descreve a cidade como um ambiente marcado por desafios, entre os quais a deterioração da qualidade de vida e a degradação social; mas também de oportunidades, sendo possível imaginar espaços querigmáticos de oração e comunhão, iniciativas para diálogos reconciliadores e o fomento a uma vida pautada na espiritualidade.

Dom João Justino, Arcebispo de Goiânia (GO) e 1º Vice-presidente da CNBB, tratou sobre as “Linhas de ação do Papa Francisco para a cidade”. Ele destacou alguns pontos da exortação apostólica Evangelii gaudium como o desvendar da presença de Deus na cidade, os apelos de transcendência na luta pela sobrevivência, a escuta às vozes das periferias, a identificação de novas expressões culturais para o anúncio do querigma, a organização de pastorais de fronteira, o testemunho da proximidade e o pastoreio com profecia (cf. EG 71 a 75; 210 e 211).

Padre Carlos María Galli, da Arquidiocese de Buenos Aires, na Argentina, e membro do Celam, falou sobre a Igreja sinodal no contexto urbano. Ele destacou que na cidade “somos convidados a fazer uma experiência itinerante e urbana, a exemplo da experiência do apóstolo Paulo no mundo pluricultural, judeu e greco-romano”; e enfatizou ser indispensável que a Pastoral Urbana “reconheça e fomente uma presença de Cristo entre os seres humanos, numa dinâmica de sínodo e de sinodalidade, de assembleia e de caminhada conjunta”.

‘A CIDADE É LUGAR DE COMUNHÃO, PARTICIPAÇÃO E MISSÃO’

O Cardeal Odilo Pedro Scherer esteve no Congresso. Ele destacou ao O SÃO PAULO que as reflexões “mostraram como a cidade desafia a Igreja a repensar sua atuação para alcançar as pessoas, sempre ocupadas e sobrecarregadas pelas muitas preocupações da vida. Já não se pode mais dar como certo que todos conhecem as nossas propostas religiosas ou a proposta cristã para a vida em sociedade, a economia, a antropologia, as relações humanas. As cidades, porém, se mantêm como realidades humanas, nas quais o Evangelho sempre encontra um terreno fértil para frutificar. Por isso, a Igreja precisa estar perto das pessoas, ir ao encontro, acolher, ouvir, consolar, amar. Nosso sínodo arquidiocesano, de várias maneiras, chegou também a conclusões semelhantes”.

O Arcebispo de São Paulo comentou sobre a reunião dos cardeais, arcebispos e bispos das grandes metrópoles brasileiras, que ocorreu no dia 6, após o encerramento do Congresso.

“Foi um encontro muito útil e mostrou que ninguém tem a solução cabal para todas as questões. Todos estamos tentando dar respostas ao desafio urbano para a missão da Igreja. Procura-se trabalhar muito e enfrentar os desafios, que são muitos. A cidade é o lugar de muitos sonhos, que nem sempre se mostram verdadeiros; lugar de muito sofrimento e angústia, de violência e de medo. Mas não é somente isso. A cidade também é lugar de refúgio e acolhimento, de partilha e de solidariedade. Enfim, a cidade oferece muito campo para a atuação da Igreja e ao anúncio do Evangelho. A cidade é lugar de comunhão, participação e missão”, concluiu.

(Com informações da CNBB e da Arquidiocese de Porto Alegre)

Cardeal Tolentino: a Igreja é chamada a habitar a cidade, a amá-la e a não temê-la

Os “Desafios da cultura urbana para a evangelização hoje” foi o tema tratado pelo Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, no Congresso Teológico Internacional de Pastoral Urbana, no dia 5, após ele ter recebido o título de doutor honoris causa pela PUC-RS.

Inicialmente, o Cardeal Tolentino enfatizou que o ponto central para se compreender as cidades são as pessoas e as relações que elas estabelecem no tecido urbano. Também sublinhou que a Igreja precisa escutar melhor as cidades, para depois, como fez o apóstolo Paulo, adequar o anúncio de Jesus à cultura local.

“O Cristianismo é chamado a modelar a cidade, a qualificá-la com valores, a torná-la inclusiva e universal. Onde os seres humanos eram considerados desiguais e os grupos sociais pareciam separados, o Cristianismo oferecia a cada pessoa uma nova consciência de si e a solidariedade real de uma pertença comum”, destacou.

O Purpurado comentou ainda que as cidades devem ser olhadas pela Igreja com amor e compaixão: “Precisamos chorar com as cidades, assumir as suas dores, tomar sobre nós as suas fadigas, contradições e desejos”.

A INCIDÊNCIA DA IGREJA NO MEIO URBANO

Em um contexto no qual as pessoas vivem como que em ilhas dentro de sua própria cidade, é fundamental – conforme observou o Cardeal Tolentino – que a Igreja proporcione espaços de hospitalidade e de integração espiritual, social e cultural, não se limitando aos locais de culto, mas tendo uma postura itinerante, indo até as pessoas: “Sem este encontro, o milagre não se opera, a conversão não se concretiza, o perdão não se saboreia”.

No entender do Cardeal Tolentino, as baixas estatísticas sobre a vivência da fé nas cidades não devem ser interpretadas como o “crepúsculo do Cristianismo”, mas como um sinal de que é necessário pensar na maior visibilidade da fé cristã, pois já não é mais transmitida de geração em geração. A adesão a ela ocorre por decisão individual, não raro feita de modo solitário.

Ele destacou, também, que perante o ambiente agitado das cidades, a Igreja deve levar as pessoas à escuta interior, proporcionando-lhes uma experiência da contemplação, para que encontrem respostas às perguntas inscritas no coração humano: “Quem sou eu? De onde venho? Pra onde vou? A quem pertenço? Por quem posso ser salvo?”.

Por fim, o Cardeal Tolentino sublinhou que “a Pastoral Urbana é chamada a habitar a cidade, a amá-la e a não temê-la, bem como a abraçar os seus personagens, interpretá-la, anunciar o Evangelho em uma linguagem inteligível, ocupar-se dela com a delicadeza e a preocupação do bom samaritano; e a aceitar, como diz o Papa Francisco, não a ocupação dos espaços, mas uma inauguração de processos”, tudo isso sem esquecer-se de que embora as pessoas estejam na cidade terrena, a meta será sempre a de alcançar a cidade celeste. 

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