Educar os filhos não é tarefa fácil. Existem muitos desafios nesse processo e, por vezes, um dos pilares básicos para que ele se dê fica esquecido: o vínculo.
Por natureza, pais e filhos têm um vínculo forte e necessário, é verdade. O fato de gerar a vida dá especialmente à mãe um lugar privilegiado na existência da criança – é a fonte de alimento físico e afetivo que sustenta a vida da criança e a ajuda a crescer. O pai, embora não na mesma intensidade inicial da mãe, também vai ganhando o lugar de referência na vida da criança.
Acontece que cultivar o vínculo ao longo do crescimento da criança é uma tarefa que precisa ser cuidada, uma vez que isso não se dá sem que estejamos empenhados e atentos. Quantas vezes, por egoísmo (que sequer percebem), cansaço ou mesmo pela roda viva da rotina, os pais deixam o vínculo no automático, como se não fosse necessário alimentá-lo.
Outras vezes, confundem-se, acreditando que cultivar o vínculo é agradar aos filhos, acolher seus desejos, deixá-los “livres”, e acabam fazendo o contrário – geram nos pequenos um sentimento de insegurança, de abandono; afinal, crianças precisam ser guiadas com segurança. Se estiverem livres para realizar seus desejos, estão sozinhas diante de sua imaturidade.
Por isso, pais, coloquem como meta fortalecer os vínculos, sempre. As crianças precisam encontrar em vocês: amor – quem ama quer o bem do outro; atenção – olhar para ver, conhecer, identificar as necessidades; presença ativa – que é coerente, amorosa e exigente.
Não troquem os momentos com as crianças por reels no celular, por WhatsApps urgentes. Nada é mais urgente do que estar com esses pequenos e fazê-los perceberem-se olhados de verdade por vocês.
Cuidar com carinho, abraçar, cantar, imitar, trocar, dar banho, oferecer limites seguros, brincar. Tudo isso faz parte do fortalecimento do vínculo entre pais e filhos. Claro que não conseguimos estar o tempo todo voltados para as crianças, nem é necessário que seja assim, mas precisamos que elas percebam que são parte importante da nossa vida, que são olhadas e acompanhadas verdadeiramente.
Embora pareça que isso é óbvio e que fazemos sempre assim, sugiro um breve exame de consciência:
– Será que os cuidados cotidianos estão sendo feitos como uma tarefa mecânica ou como uma oportunidade de conviver e educar?
– Será que você não pode trabalhar um pouquinho menos?
– Chegar um pouquinho mais tarde no trabalho?
– Encontrar um consultório mais perto de casa?
– Pegar seu filho mais cedo na escola?
– Fazer meio período de home-office duas vezes por semana?
– Diminuir um ou dois pacientes/ atendimentos por dia?
– Fazer menos reuniões (desimportantes) e delegar mais?
– Limitar seu tempo no Instagram, rolando o feed para ver como seu filho está falando as palavras do livrinho?
– Será que seria possível almoçar em casa ao menos uma vez por semana?
– Será que é tão necessário terceirizar atividades rotineiras à babá, à vovó ou à creche?
Pensem com carinho e façam uma higiene na rotina de vocês. A infância passa, a oportunidade acaba e, às vezes, não estamos percebendo que o tempo que poderia ser investido no tesouro que realmente vale a pena está sendo desperdiçado em atividades que poderemos resgatar em breve, assim que as crianças crescerem.
Não se esqueçam: vínculos bem formados contribuem muitíssimo para a boa formação dessas pessoas e essa é a maior missão que nós, pais, temos em mãos. Vale a pena.