Jesus conta a parábola das jovens que aguardavam à noite a chegada do noivo com lâmpadas acesas. Cinco delas eram “previdentes” ou prudentes (phrónimoi). Vendo que demorava, tomaram consigo vasilhas extras de óleo. Já as outras cinco eram “imprevidentes” ou, literalmente, insensatas (mōrai). Por negligência – ou talvez preguiça – não se precaveram. Somente à chegada do noivo foram comprar óleo, mas era tarde. A porta foi fechada e tiveram de ouvir com dureza: “Não vos conheço!” (Mt 25,12).
Normalmente, pensamos que o oposto da bondade é a maldade, como de Jezabel, Antíoco Epífanes, Herodes e outras pessoas perversas da Bíblia. No entanto, frequentemente o que se opõe a Deus não é tanto a malvadeza pura e simples, mas, sim, a “insensatez” como no caso das jovens negligentes. Sem possuir grande malícia, o homem estulto pode gerar efeitos tão negativos ou até piores do que os perversos. A insensatez levou Adão a cometer o primeiro pecado, Esaú a perder a primogenitura, Pilatos a condenar Jesus, e Judas a vender o Salvador.
Diferentemente dos demônios, que se voltaram contra Deus com profundo conhecimento e firmíssima resolução, nós homens, em geral, pecamos por motivações superficiais: curiosidade, covardia, sensualidade, impulsividade, avidez, preguiça, ligeireza ou falta de autodomínio. Depois de um pecado, é comum que alguém pense: “Que idiotice eu fiz”! Tanto é que o Senhor dirige ao Céu esta súplica: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Os danos da insensatez, contudo, são reais.
Sem uma descomunal “maldade”, um homem pode passar a existência sem nunca pensar seriamente sobre a morte ou sem jamais ter levado a sério a busca por Deus. Sem ser propriamente “um monstro”, pode aderir a um estilo de vida materialista, negligenciar a família, impedir a geração de filhos ou abandonar uma vocação, em nome do “conforto” e do “bem estar”! Até os que cometem adultério, que abandonam a família, que despedaçam corações, que traem amigos ou que apostatam da fé, possivelmente não se sintam “criminosos”; desejam apenas “buscar a felicidade pessoal”. Contudo, erram, perdem o rumo, e a eles se aplica a reprimenda: “Insensato!” (Lc 12,20).
O néscio ignora o valor de cada coisa da vida; troca o ouro por lixo. Pensa ser inteligente, livre, ou mesmo estar acima do bem e do mal. Entretanto, é só mais um tonto, como outros tantos intelectuais, políticos, artistas, eclesiásticos, reformadores impetuosos, revolucionários, magnatas e homens comuns que perseguem objetivos mundanos à custa da fidelidade a Deus. Omitem por leviandade deveres graves de justiça, encarnando em si a pergunta: “O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?” (Mc 8,36).
Mas o drama do insensato é que não enxerga a própria condição! Por isso, peçamos ao Senhor que nos dê um coração sábio, capaz de discernir o que é justo e vale a pena. E que Ele nos guarde vigilantes, sem distrações, à espera da sua vinda.
Senhor, não permita me acomodar na insensatez.
Excelente artigo.