A virtude da obediência na educação dos filhos

Quero compartilhar com vocês uma preocupação muito grande em relação às confusões que hoje se fazem tão presentes na vida das famílias.

Recentemente, recebi um conteúdo de uma profissional da Medicina Infantil, que traz um conceito errôneo sobre a obediência. Aborda esse tema de modo muito superficial e sem levar em conta a realidade antropológica da criança – pessoa ainda inapta para a vida, que necessita do adulto para se manter, não somente fisicamente, mas também em todos os âmbitos de sua vida. 

Esse conteúdo somente evidencia a confusão de que nossa sociedade vive em relação aos valores e princípios que norteiam o crescimento saudável de nossos “filhotes”. Estamos vivendo uma imensa desordem na medida em que, apesar de sabermos pelas evidências (que são muitíssimas) que uma criança é incapaz de conduzir a própria vida, delegamos a ela a decisão sobre as coisas. O pior é que por trás dessa atitude de delegar a decisão aos pequenos existe a justificativa de não tolher a liberdade da criança ou de não a deixar submissa à vontade dos adultos, pois isso a tornaria, no futuro, submissa à vontade dos grupos que viesse a fazer parte ou mesmo do(a) namorado(a) que escolhesse. Ou seja, o senso comum está tomado pela ideia de que a obediência é um mal, pois, se ensinamos a criança a se submeter à vontade dos pais, ela aprenderá a ser sempre submissa. 

Que triste engano. Será possível acreditarmos que uma criança, do alto de sua fragilidade, uma vez que, entre todos os mamíferos, é a que vem ao mundo mais inacabada e necessitada de aprendizado, teria de onde tirar critérios para escolhas adequadas, senão da obediência aos pais? Os instintos infantis buscam prazer e conforto e nós, adultos formados, bem sabemos que esses, na maioria das vezes, não nos levam aos bens maiores.

Vamos entender melhor a obediência e seu papel na formação dos filhos: a virtude da obediência não é a submissão cega de um escravo, mas, sim, a identificação de que alguém – que tem um conhecimento sobre a vida, que tem um vínculo forte com a criança e que está empenhado em manter sua vida e sua dignidade – indica um caminho seguro a ela, que ainda não tem condições de descobrir o caminho por si mesma. 

Se pensarmos bem, isso acontece com qualquer um de nós em algum momento da vida: submetemo-nos à autoridade de um especialista de saúde, à autoridade de um advogado que nos orienta sobre uma causa, de um sacerdote que nos indica uma ação adequada. Submetemo-nos porque identificamos no outro uma autoridade que nos leva a um bem que sozinhos não identificamos.

A criança precisa de alguém que exerça essa autoridade sobre ela para protegê-la de seus impulsos imaturos, de suas escolhas imprudentes. Mas isso a tornará uma pessoa escrava da vontade alheia quando crescer? Certamente, não. Na verdade, o processo de formação da criança pressupõe um crescimento contínuo. Os pais, no início da vida do pequeno, farão todas as escolhas por ele e indicarão o caminho seguro. Depois, conforme for crescendo, irá ganhando condições de exercer algumas escolhas, com supervisão e orientação dos pais, até que, ao final do caminho, já será capaz de escolhas prudentes e adequadas. 

Educar, como dizia Tomás Alvira, é ensinar a crescer, ou seja, um processo que não pode ser medido por um momento. Por meio da nossa autoridade de pais e da obediência dos filhos, vamos ajudando-os a formar critérios, identificar o bem e o mal, a verdade e a mentira, os bens que valem a pena, e vamos treinando a vontade deles, para que sejam capazes de não somente decidir, mas também agir em direção a um bem identificado.

Senhores pais, é preciso que entendam que, se não fizerem isso, seus filhos se tornarão escravos do pior senhor que existe: seus próprios desejos e suas tendências naturais. A primeira e mais importante liberdade a ser conquistada é essa – a liberdade de suas tendências imaturas, pois somente um homem que se domina pode ser livre na relação com os outros. Pode decidir não se render às drogas mesmo que outros o façam, pode decidir terminar um namoro se identificar que os valores da outra pessoa são incompatíveis com os seus. 

Não temam exercer a autoridade de vocês: ela é um grande serviço para a vida de seus pequenos.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br e instagram: @sifuzaro.

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