A vocação leiga à santidade

Já nos aproximando do fim do mês em que rezamos especialmente pelas vocações, a Igreja nos propõe nesta semana que rezemos e meditemos sobre os leigos.

Para entender com mais profundidade a grandeza do caminho de santidade que a Igreja propõe a seus filhos que abraçam a vida laical, é preciso antes de tudo desfazer uma confusão de palavras. É que leigo, em português, tem dois significados bem distintos: fora da Igreja, o termo significa “ignorante”, “privado de conhecimentos especializados” – daí dizer-se que se é leigo em Biologia, em Física, em Matemática etc. No contexto da Igreja Católica, por outro lado, leigo vem do latim laicus, e do grego laos, que significa “povo” – assim, leigos são “todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo [são] constituídos em Povo de Deus” (constituição dogmática Lumen gentium, 31). 

Os leigos, portanto, não são cristãos “iletrados” ou “de segunda categoria” – antes, são membros do povo de Deus, a quem compete propriamente viver a vida cristã “nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as quais é como que tecida a sua existência” (Ibidem).

Esta característica secular da vocação laical os convida a não fugir do mundo, a enfrentar, com coragem e espírito cristão, as diversas realidades presentes na sociedade, “fora das sacristias”. Seja como secretários ou diretores, trabalhadores manuais ou escritores, engenheiros ou professores primários, os cristãos leigos são chamados a viver em plenitude todo esse panorama profissional, ordenando-o a Cristo.

Mas o que significa, concretamente, esta ordenação a Cristo? Significa, antes de tudo, viver como imitadores de Cristo e filhos de Deus, assumindo as realidades terrenas como lugares concretos onde a vida cristã floresce e é vivida, com espírito de caridade e dom de si; significa, ainda,  assumir em meio ao mundo uma atitude apostólica, movida pelo desejo de que todos aqueles que encontramos, no trabalho, nas associações desportivas, nos institutos de educação, conheçam a Cristo e experimentem o amor de Deus; significa também exercer os ofícios terrenos com esmero e perfeição – não por um mero desejo de progresso profissional ou de êxito financeiro, mas por amor a Jesus, pela conversão dos pecadores e para alívio das almas necessitadas. Santa Teresinha do Menino Jesus, por exemplo, dizia que um gesto tão simples como recolher um lenço caído do chão – desde que seja feito com grande amor a Deus – pode retirar uma alma do Purgatório.

Como é bonito, por exemplo, quando vemos o responsável altruísmo daquele empresário que busca conciliar o sustento da empresa com o bem-estar dos trabalhadores que lhe prestam serviços e de suas famílias. Bons empresários cristãos geram mais empregos e menos moradores de rua. Ou, ainda, que edificante conhecermos aqueles advogados e juízes que não buscam tornar branco o que é preto ou vice-versa, mas sim cooperar para a realização da justiça. Que graças, enfim, não alcançam de Deus aqueles professores que não desejam inculcar em seus alunos visões de mundo distorcidas, mas sim o desejo apaixonado por tudo o que é bom, belo e verdadeiro! E assim o campo de atuação dos leigos se estende para além dos muros do convento ou das paredes da sacristia: empresários, advogados, professores, políticos, garçons e cozinheiros, pais e mães de família – lugares ao alcance dos leigos, e onde muitas vezes os padres não conseguem alcançar. Fazendo assim brilhar a luz do Evangelho diante dos homens (cf. Mt 5,16), os leigos fomentam muitas novas conversões. E, efetivamente, tornam-se sal da terra e luz para o mundo. 

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