A meditação da Paixão de Cristo é meio eficaz para a santidade

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A 5ª Semana da Quaresma também é conhecida como Semana da Paixão, pois os evangelhos das missas destes dias pre­param os fiéis para o momento central da vida cristã: a Páscoa da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

Não há meio mais eficaz para se unir a Cristo do que a lembrança cotidiana dos sofrimentos de Nosso Senhor. Foi a partir da meditação da Paixão que os grandes santos encontraram coragem e força para suportar as tribulações, os tor­mentos e a morte. São esses mesmos san­tos que ensinam que se o cristão deseja progredir na virtude, deve lançar cada dia ao menos um olhar sobre a Paixão do Redentor.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ressalta que a Igreja nunca cessa de recor­dar que “a obra mais excelente da miseri­córdia de Deus foi a justificação que nos foi merecida pela Paixão de Cristo” (CIC 2020), e recomenda que o cristão deve meditá-la regularmente (cf. CIC 2707).

ORIGEM

O costume de meditar a Paixão re­monta às origens do Cristianismo, quan­do os fiéis de Jerusalém da “primeira hora” guardavam uma lembrança ines­quecível dos sofrimentos de Jesus, pois estiveram presentes no Calvário. Os evangelistas dedicaram uma boa parte dos seus textos à narrativa detalhada da­queles acontecimentos.

“Leiamos constantemente a Paixão do Senhor. Que grande lucro, quanto proveito tiraremos! Porque, ao contem­plá-lo sarcasticamente adorado, com gestos e atos, e feito alvo de zombarias, e depois de tudo esbofeteado e submetido aos últimos tormentos, mesmo que se­jas mais duro do que uma pedra, ficarás mais mole do que a cera e expulsarás da tua alma toda a soberba”, recomendava São João Crisóstomo.

Foram muitos os que, ao longo da história, converteram-se meditando a Paixão do Senhor. Santo Tomás de Aqui­no dizia: “Basta a Paixão de Cristo para servir de guia e modelo para toda a nossa vida”. Conta-se que, visitando um dia São Boaventura, Santo Tomás perguntou-lhe de que livros tinha ele tirado a doutrina tão boa que expunha nas suas obras. São Boaventura mostrou-lhe a imagem de Jesus crucificado, toda enegrecida pelos muitos beijos que lhe imprimira, dizen­do-lhe: “Eis o meu livro, de onde tiro tudo o que escrevo; ele ensinou-me o pouco que eu sei”.

O mesmo São Boaventura reforçava: “Quem quiser crescer sempre em virtude e em graça, deve meditar todos os dias na Paixão de Jesus, porque não há exercí­cio mais útil para santificar uma alma do que a consideração frequente das penas do Salvador”.

Santo Agostinho afirmava que “não há coisa mais apropriada para nos fa­zer adquirir a salvação eterna do que a lembrança cotidiana dos sofrimentos de Jesus Cristo”. Já São Paulo da Cruz dizia que “a recordação da Paixão Santíssima de Jesus Cristo e a meditação das Suas virtudes… conduzem a alma à união ín­tima com Deus, ao recolhimento interior e à contemplação mais sublime…”.

COMO MEDITAR?

A meditação da Paixão pode ser feita a partir das leituras dos próprios relatos dos evangelistas, pela meditação dos mis­térios dolorosos do Rosário ou mesmo da Via-Sacra. Mas também é possível medi­tar a partir de textos piedosos dos santos.

Uma dica dada pela maioria dos santos e autores de espiritualidade para contemplar a Paixão é imaginar-se pre­sente entre os espectadores que foram testemunhas daquelas cenas narradas nos evangelhos. Ocupar um lugar entre os apóstolos durante a última Ceia ou entre os que adormeceram no Getsêma­ni; um dos que presenciaram a sua pri­são; um dos que ouviram Pedro negar que conhecia Jesus; um do meio da mul­tidão que pedia aos gritos a Sua morte e dos que o contemplaram suspenso na Cruz do Calvário.

São Leão Magno diz que “quem qui­ser de verdade venerar a Paixão do Se­nhor, deve contemplar de tal maneira Jesus crucificado com os olhos da alma, que chegue a reconhecer a sua própria carne na carne de Jesus”.

Segundo São Pedro de Alcântara, confessor de Santa Teresa de Jesus, para realizar uma boa meditação sobre os acontecimentos que compõem o Tríduo Pascal é importante ter em mente os se­guintes pontos:

  • A grandeza das Suas dores, para nos compadecermos delas.
  • A gravidade do nosso pecado, que é a sua causa, para o detestarmos.
  • A grandeza do benefício, para Lhe agradecer.
  • A excelência da Divina bondade e caridade, que se descobre nela, para a amar.
  • A conveniência do mistério, para se maravilhar dele.
  • E a multidão das virtudes de Cris­to, que resplandecem nela, para as imitar.

FRUTOS

São muitos os frutos da meditação da Paixão de Cristo. O primeiro deles é o cultivo da aversão por todo o pecado, diante do fato de que Nosso Senhor pas­sou por todos aqueles sofrimentos devi­do às iniquidades de cada pessoa. Outro fruto é o crescimento do amor por Cris­to, que sofreu tantas dores por amor à humanidade.

Por fim, cada fiel pode tomar por suas as palavras de Santo Afonso Maria de Ligório em suas meditações sobre a Paixão:

“Ó, Cordeiro divino, que vos sacri­ficastes por nossa salvação! Ó, vítima de amor, que foste consumida de dores sobre a cruz! Oh! Soubesse eu amar-vos como vós o mereceis. Oh! Pudesse eu morrer por vós, como vós morrestes por mim! Eu, com os meus pecados, vos cau­sei sofrimentos”.

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