Adeus, Papa Francisco

O Papa Francisco, peregrino de esperança, terminou seu peregrinar por este mundo no início da manhã da segunda-feira na Oitava da Páscoa. Todos sabíamos que sua saúde estava abalada e seu estado era delicado, mas não se esperava um final tão rápido de sua vida. Conforme informações médicas, ele faleceu de insuficiência respiratória aguda e de AVC. Seu organismo, muito exigido e debilitado pelo longo tratamento, não aguentou mais e o Papa faleceu. Como todos os mortais, os papas também falecem.

A morte de Francisco causou grande comoção em muitos lugares, pois era muito estimado por católicos e não católicos. Eleito Bispo de Roma e Sucessor do apóstolo Pedro em março de 2013, ele serviu à Igreja como Sumo Pontífice durante algo mais que 12 anos, promoveu reformas importantes na Igreja, deu-lhe um novo impulso missionário, teve um olhar privilegiado para as periferias geográficas, sociais e eclesiais, combateu a guerra, a violência, o tráfico de armas e o aviltamento da dignidade humana, sobretudo nas massas de descartáveis da sociedade.

Francisco esteve muito atento às questões internas da vida da Igreja, para corrigir certos males e orientar para o bem toda a ação eclesial. Dedicou-se ao aprofundamento do testemunho evangélico de todos na Igreja; à coerência com as palavras de Jesus; ao exercício da autoridade como serviço, e não como busca e expressão de vaidades pessoais; à honestidade transparente em tudo; à valorização da participação de todos os membros na vida e missão da Igreja. Desencadeou processos para tornar nossa Igreja, na prática, sempre mais sinodal, em comunhão, participação e missão. Importou-se muito com a melhora na pregação da Palavra de Deus, na boa celebração da Liturgia e na acolhida de todos na Igreja. Lembrava sempre que a Igreja precisa ser como um hospital de campo, para acolher os feridos e cuidar deles; que, na Igreja, há lugar para “todos, todos, todos”, e não apenas para os que já são considerados bons e salvos. Nisso lembrava a resposta de Jesus aos que O criticavam porque acolhia todo tipo de gente e até entrava na casa de pecadores públicos e tomava refeição com eles: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores. Os doentes é que têm necessidade do médico, e não os que têm saúde”.

A atenção pastoral do Papa Francisco não se voltou apenas para a vida interna da Igreja: esteve atento aos problemas do mundo e interveio muitas vezes contra a corrida armamentista e as guerras, em favor da solução dos conflitos mediante o diálogo e a negociação, para alcançar uma paz consolidada; tomou posição firme na defesa dos migrantes e refugiados, diante do fechamento de fronteiras, da rejeição e discriminação aos migrantes; falou duro contra a concentração da economia em mãos cada vez menos numerosas e fechadas, desatenta diante das necessidades fundamentais dos povos e com o fim de acumular mais e mais riquezas e privilégios; falou contra os diversos tipos de discriminação e violência que se cometem contra as pessoas por questões de gênero, raça, condição social, religião ou cultura; teve uma posição firme e clara em relação aos cuidados da “casa comum”, nosso planeta Terra e a natureza que nos abriga, alimenta e alegra; colocou parâmetros éticos e teológicos que devem nortear nossa relação e interferência com a natureza, que é um bem para todos.

Em seu pontificado, Francisco deixou marcas que certamente ajudarão a Igreja a se orientar no futuro, pois estão solidamente embasadas no Evangelho e no ensinamento tradicional da Igreja. Nestes dias de luto e despedida dele, damos graças a Deus pela vida desse primeiro Papa Jesuíta e Latino-Americano, que já foi descrito como “fruto maduro da Igreja da América Latina”, compartilhado com a Igreja e a humanidade inteira. A Igreja de Cristo caracteriza-se pela partilha de seus dons, para que beneficiem os irmãos e a missão, e não apenas nos seus próprios espaços, mas onde se faz necessário, no mundo inteiro.

Nestes dias do funeral do Papa, da preparação e da realização do conclave, todos os católicos são convidados a se unir em oração ao Espírito Santo pela Igreja e pela eleição do novo Pontífice. A escolha do novo Papa é um ato eclesial, feito no contexto da fé e da missão da Igreja. Não é um simples ato “político”, embora muitos assim o interpretem. A Igreja reza com fé e pede ao Espírito Santo, que a conduz e anima na sua missão, para que manifeste o desígnio de Deus por meio do discernimento que os cardeais devem fazer na escolha do novo Papa. Nós cremos que o Espírito Santo age desta forma: quando o invocamos e pedimos suas luzes, abrindo-nos às suas inspirações com sinceridade e na busca do verdadeiro bem da Igreja.

No momento atual, a Igreja Católica precisa unir-se mais e mais em torno de sua fé, de sua missão e de seus pastores. Infelizmente, a polarização ideológica e política entrou também no convívio eclesial, com consequências, divisões e cismas desastrosos. Precisamos unir-nos novamente em torno do que tem peso maior do que as opções partidárias e ideológicas: a nossa fé comum, nossa pertença à mesma Igreja, nosso seguimento do mesmo Mestre, Senhor e Salvador. E, assim, unidos e em comunhão, como Igreja, poderemos dedicar-nos com mais liberdade e fruto à missão comum. Deixemo-nos surpreender pela Providência de Deus. Quem for legitimamente eleito, será o Papa de todos os católicos e assumirá a missão que lhe é própria. Existe a seguinte convicção na vida da Igreja: para cada momento da vida da Igreja, Deus manda o Papa certo. Não será diferente desta vez.

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