‘Alegre-se a terra que era deserta’

Multidões vão a Jerusalém todos os anos. A geografia local é árida; o deserto é inóspito; a fauna e a flora são pobres; a água é escassa e cara. Mesmo assim, peregrinos se alegram por estar lá, apesar das contrariedades. Cada um que lá esteve pode dizer com o salmo: “se de ti, Jerusalém, eu me esquecer, ai de mim!” (Sl 137,5). Para além da aridez, é possível enxergar naquela Cidade o lugar por onde passou e onde morreu e ressuscitou o Senhor; a Cidade de Davi; a “pupila dos olhos” dos profetas; um destino plurissecular de cristãos. 

A fé transforma um lugar simples e árido em santuário. Isso se dá também na vinda do Menino Jesus. A fé permite aos pastores, em meio à noite, serem envolvidos pela luz angélica; mostra aos magos a estrela e leva-os a se prostrarem diante de um Menino; guia Maria e José por um caminho inesperado, dando-lhes a certeza de que “para Deus, nada é impossível” (Lc 1,37). Com o nascimento do Senhor, o mundo continuou exteriormente o mesmo: Belém, o deserto, Jerusalém, o Jordão… Porém, para quem tem fé, não apenas a Galileia e a Judeia, mas toda a terra jamais foi a mesma. 

No Domingo Gaudete (“Alegrai-vos”), a Igreja diz: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável” (Is 35,1). É um convite a olharmos para a realidade com os olhos da fé. Com a presença de Jesus e do Espírito Santo, nenhuma vida humana será “deserta e intransitável”! Se o mundo, as pessoas, o trabalho e as dificuldades nos parecem desinteressantes e áridos, talvez tenhamos nos esquecido do mais importante: a presença e a bondade do Senhor. 

Dentre os milagres realizados por Jesus e por meio dos santos, muitos cegos foram curados. Deus talvez repita esse prodígio para nos lembrar que precisamos superar a “cegueira” espiritual, a cegueira da falta de fé. E também a cegueira de não reconhecermos as cores, a altura, o comprimento, a profundidade e o volume que a fé confere ao mundo que nos cerca e a nós mesmos. Por isso, lemos que “se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 35,5). Que o Senhor nos conceda ver o mundo com os seus olhos, ver “a glória do nosso Deus” (Is 35,2). 

A simplicidade e o silêncio da vinda de Jesus nos ensinam a deixar de lado o olhar mundano que leva a se considerar apenas o que é atraente aos sentidos. Cristo cura os olhos apegados às coisas materiais e passageiras e concede a fé. Como água benfazeja, a fé arrefece as paixões; extingue muitos medos; dá fecundidade a obras e palavras; previne pecados e tentações. Como luz, dá a certeza do caminho a seguir; desmascara os pecados; esclarece a consciência; torna palpável a presença do Senhor. 

Ele vem para nos salvar! Ele nos comunicará mais fé, “fortalecerá os corações” (Tg 5,8), firmará “as mãos enfraquecidas e os joelhos debilitados” (Is 35,3)! E poderemos então, com a Virgem, exultar: “Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar” (Is 35,4). Alegremo-nos Nele! 

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