A cada ano que passa, naturalmente, renova-se o sonho da paz. Talvez o sonho mais antigo e mais almejado de cada pessoa e/ou família, de cada povo ou nação. Os anos se sucedem, no entanto, e repetem-se as tensões, os conflitos e as guerras. Mais uma vez, entramos em 2025 com a bandeira da paz desfraldada e com a esperança no coração, mas procede a troca de balas, de mísseis e de drones assassinos entre a Rússia e a Ucrânia, entre Israel e seus vizinhos, e, também, no Sudão do Sul, para falar apenas dos enfrentamentos mais conhecidos e notórios.
Tanto a humanidade inteira quanto a Terra exibem hoje chagas sangrentas e profundas, difíceis de cicatrizar. Uma e outra são vítimas da violência perpetrada pelo poder do lucro e da acumulação. A economia globalizada e a tecnologia de ponta, que fizeram do mundo uma aldeia de proximidade, também cavaram abismos intransponíveis entre países e regiões. O avanço na área dos transportes e na área das comunicações gerou uma enorme capacidade de encontros, mas prevalece a ambição desenfreada, nutrida pela fome insaciável de renda e riqueza.
Por mais paradoxal que possa parecer, os ataques à humanidade e à Terra tendem a crescer na exata proporção do progresso. Este último, de fato, por uma parte, acelerou a uma potência inigualável a voracidade por madeira, carvão, petróleo, metais preciosos, terra, água potável e outros materiais do planeta; por outra parte, acelerou igualmente a contaminação do ar, das águas, do mar e das cidades, além de contribuir para a desertificação e devastação do solo e para o aquecimento global, com suas catástrofes cada vez mais extremas. Daí o aumento de migrantes e refugiados. Com inteira razão, a Campanha da Fraternidade 2025 tem na ecologia sua temática central.
A mesma ideia de progresso, ainda, redobrou ao máximo a exploração da força de trabalho humana, até a última gota de lágrimas, de suor e de sangue. O resultado é que a humanidade se vê dividida entre um punhado de milionários e bilionários (para não falar dos trilionários) e a grande maioria da população trabalhadora. Extraindo da Terra e da humanidade mais do que ambas têm para oferecer, pouco ou nada devolvendo em troca, crescem inversamente a concentração da renda e a exclusão social. O que, uma vez mais, leva à migração e ao refúgio de milhões de pessoas.
Resta o desafio de reverter a situação de assimetria, a gigantesca desigualdade entre ricos e pobres. Nesse ponto, a Doutrina Social da Igreja, ao longo do tempo, tem apontado caminhos viáveis e de bom senso. Entre tantos exemplos, poderíamos sublinhar o conceito de progresso associado ao “desenvolvimento integral”, ideia tão cara, particularmente, ao Concílio Vaticano II, à constituição pastoral Gaudium et spes (1965), e de modo mais especial a São Paulo VI na encíclica Populorum progressio (1967), cujo núcleo temático fundamenta-se no desenvolvimento como caminho para a paz. Em outras palavras, não haverá paz sem a distribuição equânime dos frutos da natureza e do trabalho humano.