Caminhar juntos com Jesus

No Evangelho segundo São João, não é Jesus que chama os primeiros discípulos: são eles que procuram o Mestre. Depois do batismo de Jesus no Jordão, João Batista aponta para Jesus e diz: “Ele é o cordeiro de Deus”. Logo, dois discípulos de João começam a seguir Jesus, que os vê e pergunta: “O que vocês procuram?” E eles: “Mestre, onde moras?” A resposta de Jesus é um convite: “Vinde e vede”. Eles foram e ficaram com ele (cf. Jo 1,35-39).

Jesus convidou os discípulos a ficarem com ele, conhecendo-o de perto na convivência, deixando-se fascinar por ele. E tanto foi, que eles não foram mais embora. Um deles, André, foi procurar seu irmão Simão e o levou também até Jesus. Também ficou com Jesus, dedicando-lhe toda a sua vida, até o martírio. E assim aconteceu com tantos outros discípulos, homens e mulheres, fascinados por Jesus, por suas palavras, atitudes e sua personalidade. Ele era diferente de qualquer outro mestre ou profeta que havia surgido antes dele.

Assim foi a origem da Igreja, povo daqueles que seguem a Jesus e estão com ele a caminho, na peregrinação desta vida rumo à “pátria definitiva”. O núcleo inicial da Igreja foi o grupo de Jesus com seus discípulos, aos quais ele encarregou de anunciar o Evangelho e de testemunhar sobre o reino de Deus, que anunciou e fez presente no mundo com sua pessoa. A Igreja não nasceu como instituição toda estruturada e já organizada. Isso veio depois e se tornou necessário para que ela pudesse cumprir bem a sua missão.

Mesmo assim, a instituição estruturada, com normas explicitadas e doutrinas definidas, continua a serviço do núcleo inicial e essencial: ela é o povo dos discípulos missionários de Jesus, que caminham com Ele na história, entre todos os povos, chamados por Deus Pai, guiados por Jesus e animados pelo Espírito Santo. Se perdêssemos essa referência fundamental da Igreja, acabaríamos por entendê-la de maneira equivocada e nos desorientaríamos facilmente.

Jesus convidou os primeiros discípulos a “verem” onde morava. A casa representa o aconchego, a meta do caminhante, o lugar do descanso e da intimidade da convivência. Na casa, as pessoas aprendem a se conhecer como são, para lá das aparências públicas. Jesus leva os discípulos a fazer caminho com ele, pois a vida é uma busca incessante para alcançar a meta maior; é missão e projeto que se realiza a cada dia. O grande descanso vem depois, como recompensa de uma vida dedicada e frutuosa. No início, o Cristianismo ainda não era conhecido por esse nome, mas como “o caminho”, como lemos, sobretudo, nos Atos dos Apóstolos. A Igreja, nos seus inícios, entendeu-se como “povo a caminho com Jesus para a casa do Pai”. Povo de missionários e testemunhas de Jesus, também hoje.

A Arquidiocese de São Paulo também é uma grande comunidade de discípulos missionários a caminho com Jesus Cristo nesta imensa metrópole paulistana. É comunidade de muitas comunidades, pequenas e grandes, de diversos perfis, inserida em todo o tecido urbano. Ela se reúne, sobretudo, aos Domingos, “no Dia do Senhor”, para fazer a memória de Jesus e do seu Evangelho, para alimentar e testemunhar sua fé e esperança e para animar-se na caridade. Nela, todos podem entrar, basta ter fé e acolher o convite de Jesus à constante conversão ao Evangelho.

Neste novo ano pastoral, que estamos a iniciar, todos somos chamados mais uma vez a nos colocarmos a caminho com Jesus, com renovada disposição interior. Ainda não chegamos ao lugar do descanso e precisamos dar passos cada dia. No caminho de Jesus, sempre se acrescentavam mais alguns e eram acolhidos, na medida em que aceitavam o convite a seguir o Mestre. Não eram perfeitos e precisavam fazer muita estrada para crescer na vida segundo o Evangelho. E eram amados por Jesus, todos eles; até mesmo Judas, até o fim.

No caminho de Jesus, nem sempre é fácil e se engana quem o quer seguir para obter vantagens e comodidades. As pedradas, xingamentos e ofensas que Jesus levou, também as levaram os que estavam com ele a caminho. Ninguém devia estranhar, pois “o discípulo não é maior que o mestre”. Mas nunca se arrependeram aqueles que seguiram Jesus de reto coração. Mesmo tendo o mesmo fim que ele teve: o martírio. Vamos ser “Igreja-a-caminho”, Igreja sinodal em comunhão, conversão e renovação missionária também neste ano?

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