Castigo funciona?

Essa pergunta está sempre presente no cotidiano das famílias que enfrentam o desafio de educar os filhos. Quando pensamos em crescimento, evidentemente, a perspectiva é de um crescimento integral, em todas as dimensões.

Tornar os filhos aptos à vida significa ensinar-lhes desde aspectos muito mate- riais e concretos – andar, comer, cuidar da higiene – até aspectos relativos ao juízo moral – identificar o certo, o errado, agir com prudência e sabedoria. Enfim, trata-se de receber no mundo alguém pequeno, inapto, frágil e transformá-lo em uma pessoa com competências, habilidades e virtudes para uma vida feliz.

Como fazer isso? Como ensinar aos filhos os comportamentos adequados, os valores pelos quais vale viver e vale morrer?

Ao longo da história, fez-se comum a ação dos adultos por meio de castigos e punições que, de algum modo, marcavam na alma dos pequenos o que não valia a pena fazer; afinal, viriam os castigos. Esses castigos muitas vezes eram extremamente agressivos, desproporcionais ao mau comportamento infantil e não alcançavam os resultados esperados. Ao contrário, chegavam, em alguns casos, a gerar uma relação difícil entre pais e filhos ou mesmo a formação de pessoas com dificuldade de autonomia na vida adulta. Outras vezes, eram adequados e traziam ganhos educativos.

Hoje, com um modelo familiar e educativo bem diferente, em que a autoridade dos pais se encontra cada vez mais fragilizada, esse é um assunto que aflige muitos daqueles que enfrentam cotidianamente os comportamentos impulsivos e imaturos dos pequenos e têm a preocupação de transformá-los. Passamos de pais que tinham a certeza de que os castigos precisavam ser duros e bem aplicados, a pais que estão inseguros sobre se são um bom instrumento educativo e o modo de aplicá-los.

Bem, vamos, então, a algumas considerações:

  1. As crianças não aprenderão sozinhas o modo adequado de se comportar. Quando pequenas, elas são corporais e, portanto, as informações precisam passar por esse canal da vivência física, afetiva, e não o da experiência racional (complexa para eles até o fim da primeira infância). A ação dos pais é fundamental: assim, deixar que façam as coisas conforme suas possibilidades, na confiança de que, quando entenderem racionalmente, agirão melhor, beira à negligência. É preciso oferecer experiências e intervir no sentido de orientá-las na ação ao correto.
  2. Quando as crianças chegam à idade da razão e são capazes de perceber racionalmente que um determinado com- portamento não está adequado, não significa que conseguirão modificá-lo, se não forem educadas nas virtudes, mesmo antes de compreendê-las, por hábito. Exemplo: falar a verdade mesmo que custe, guardar os brinque- dos mesmo cansadas. Isso se faz com ações firmes e carinhosas desde cedo.
  3. Os “castigos” devem ser, preferencialmente, as consequências das atitudes erradas que tiveram: se bateram no ir- mão, vão lhe pedir desculpas e cuidar dele. Quando estão brincando e batem nas outras crianças por brinquedos, vão brincar sozinhas, separadas das outras, mas num local onde observem as demais crianças brincando adequadamente. Essas punições são muito educativas, pois mostram com clareza o mal que está presente no comporta- mento que está sendo corrigido; afinal, estão relacionadas a evitá-lo ou a criar um arrependimento por ter se comportado mal.
  4. As punições precisam ser bem medidas: quando exageradas, podem ter efeito contrário. É preciso sabedoria e lembrar sempre: o objetivo das punições é o crescimento dos filhos e não o aplacar de nossos afetos alterados no momento do mau comportamento deles. Portanto, vamos identificar como aplicá-las com esse objetivo.
  5. Os castigos devem ser proporcionais ao mau comportamento e à idade da criança. Se forem exagerados, você acabará reconsiderando e será pior do que se não os tivesse aplicado.
  6. O objetivo é que as crianças aprendam, com o tempo, a controlar seus impulsos e agir de modo mais adequado, e não simplesmente agir para não serem castigadas.

Portanto, ensinar valores e critérios pressupõe possibilitar que as crianças percebam as consequências das más ações e sintam o arrependimento e as perdas que elas trazem. Aqui está o sentido da punição: se aplicada com sabedoria e meta clara, funcionará bem como instrumento educativo em situações pontuais.

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