Cerca de 70 mil pessoas ‘desaparecem’ por ano no Brasil

O desaparecimento de pessoas atinge milhares de famílias no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 70 mil notificações de desaparecimentos são feitas à Polícia por ano. Em dez anos, esse número ultrapassa 693 mil pessoas. Além de consequências emocionais para os mais próximos, o sumiço repentino de um indivíduo afeta os parentes e o círculo social dele, deixando angústia e muitas perguntas sem respostas. 

Quando a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas foi instituída em 2019, o Ministério da Justiça e Segurança Pública estabeleceu distinções de áreas de atuação para a gestão compartilhada da Política entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania – e, posso afirmar, este foi um dos projetos mais desafiadores de que participei no governo Executivo. 

Segundo a Comissão Internacional de Pessoas Desaparecidas (ICMP), “subjetivamente, uma pessoa desaparecida é alguém cujo paradeiro não é conhecido e que está sendo procurado por outra pessoa ou outras pessoas. O termo ‘pessoa desaparecida’ adquire um significado objetivo quando uma pessoa é formalmente relatada como desaparecida”. 

Para a Organização das Nações Unidas (ONU), ainda que o desaparecimento provoque danos no entorno, a pessoa que desaparece é a primeira vítima. Quanto mais tempo ela permanece sem paradeiro conhecido, mais vulnerável se torna, correndo riscos de exploração ou de abusos. E isso se agrava no caso de crianças ou adolescentes, que podem se enquadrar em contextos como tráfico de órgãos; prostituição; adoção ilegal no exterior; envolvimento com drogas; e trabalho escravo. Nessas situações, o risco de morte é alto. 

As circunstâncias do sumiço de pessoas são inúmeras: abuso doméstico, mudança para outro lugar sob nova identidade, sequestro, rapto por um parente sem custódia, suicídio em local remoto ou sob outro nome, assassinato e ocultação do corpo, perda de memória ou desorientação provocadas por doenças mentais, morte por acidente longe de casa e sem identificação, fuga da punição por crime, fuga da fome ou desastre natural, entre outros. 

Do ponto de vista prático, a contribuição da mídia com a veiculação de imagem de pessoas desaparecidas é valiosa. Cumpre ressaltar, também, a obrigação do poder público de manter as investigações ativas e o cadastro atualizado, mesmo quando o caso se estende por muito tempo. Um exemplo de busca prolongada, e bastante noticiado, é a história do advogado brasiliense Pedro Júnior Pinto, o Pedrinho, sequestrado em 1986, ainda na maternidade, e encontrado 16 anos depois, em Goiânia (GO), graças a circunstâncias favoráveis, mas só possíveis pela insistência dos pais em manter o caso no ar. 

O Brasil precisa avançar na compreensão das causas de desaparecimentos de cidadãos brasileiros. O caráter apenas indicativo dos números preocupa por funcionar como vislumbre de uma situação real ainda mais grave: a fragilidade dos registros e a falta de informação dos familiares sobre quem devem procurar para relatar os desaparecimentos. Deve-se prever uma atuação em rede de todos os agentes públicos de alguma maneira afetos à questão do desaparecimento de pessoas até a sua localização, sendo os órgãos de segurança o eixo do sistema. 

Nesse sentido, a Igreja Católica não é indiferente à dor das milhares de famílias que, da noite para o dia, passam a viver na angústia do não saber. A própria Igreja, em diversos países do mundo, também sofre aumento nos casos de padres, religiosos e freiras que são raptados e, muitas vezes, achados mortos. 

Comentários

  1. Atualmente as pessoas estão perdidas de muitas formas, mas este tipo de pessoa perdida pode ser um dos mais perversos da nossa sociedade. O texto traz uma reflexão importante sobre a condição humana em nossa sociedade e como o relacionamento com Deus podem ser acabados todos os tipos de perdidos. Parabéns ao autor.

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  2. Parabéns Rô !
    Muito pertinente, sua abordagem, sobre o desaparecimento das pessoas.
    É um verdadeiro absurdo, o descaso, das autoridades, principalmente agora, com esse desgoverno ptralha, atuando na contra mão! Acoberta o bandido, descoberta a vítima!
    Deveria haver, uma rede, de Segurança Nacional, com o cadastro, das pessoas desaparecidas.
    Tatiana Bandeira de Melo

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