A prática da educação afetivo-sexual

Falei no artigo anterior que a educação sexual começa na educação afetiva desde o início da vida da criança. Hoje, pretendo esclarecer de modo mais prático como isso pode ser feito. 

Em primeiro lugar, é importantíssimo que os pais identifiquem com clareza seus valores a respeito do assunto. Para que a educação seja efetiva é preciso definir a concepção de ser humano que os pais têm, ou seja: quem somos nós, seres humanos? Quais são nossa dignidade e nosso valor? Somos semelhantes aos animais ou nos diferenciamos em essência e dignidade?

Nós, cristãos, concebemos o ser humano como feito à imagem e semelhança de Deus. Filhos adotivos Dele e, portanto, seres dotados de grande dignidade e constituídos de diferentes dimensões – racional, biológica, transcendente, afetiva e social. 

Partindo dessa concepção de homem, pensar na educação afetiva significa pensar em acompanhar a criança desde muito cedo, para que caminhe na direção de aprender a integrar afetos, sentimentos e emoções. Quando bem pequenas, as crianças vivem as emoções e sentimentos com muita intensidade e, até mesmo por possibilidades neurológicas ainda restritas, suas manifestações podem ser bastante desmedidas quando expostas a situações que despertam determinados sentimentos e emoções. A educação afetiva pressupõe acompanhar a criança no caminho de integrar os sentimentos com a inteligência (racionalidade), com a vontade, a liberdade e a dimensão social, ou seja, a percepção do outro. Assim, ela poderá crescer na capacidade de reagir de modo mais adequado diante dos diferentes sentimentos. 

Para que os filhos sejam educados na afetividade e sexualidade, é importante:

  1. Que os pais se preparem para isso, estudando o assunto, buscando informações e formação segura e coerente com seus valores.
  2. Que ajudem os filhos a crescer no conhecimento do bem para fazer escolhas adequadas ao longo da vida. Esse crescimento acontece quando os pais os ajudam a perceber seus sentimentos, emoções e reações; quando é uma “ajuda externa” (firme e amorosa) para que os filhos pequenos consigam controlar as reações inadequadas e possam, com o tempo, ganhar habilidade de escolher as reações e comportamentos que terão diante das situações; quando aprendem a escolher pelo comportamento adequado em situações cotidianas familiares, os filhos estão exercitando a capacidade de escolher o bem e poderão fazê-lo também na adolescência, época em que os apelos sexuais se apresentam de modo mais evidente. 
  3. Que vivam de modo coerente com o que querem transmitir aos filhos, lutando muito para isso. A luta por viver a coerência conquista a admiração e atribui autoridade.
  4. Cuidar dos programas que os pequenos assistem na TV ou mesmo do acesso que têm à internet, onde podem estar em contato com conteúdos muito ruins no que diz respeito à sexualidade. 
  5. Escolher com critérios as músicas que escutam, se as letras estão coerentes com os valores que pretendem transmitir. 
  6. Tomar cuidado com a sensualização no modo de se vestir, nas brincadeiras que fazem… É importante ajudar os filhos a serem discretos e entenderem o sentido do belo. Hoje, a moda coloca os pequenos como miniadultos e, muitas vezes, as roupas são demasiadamente sensuais, despertando um olhar para o corpo, no qual faltam o cuidado, o amor e o respeito que eles merecem. 
  7. Viver o amor e o vínculo bem formado nas relações familiares – que os filhos percebam o amor e o cuidado dos pais entre si e em relação a eles. Que sejam corrigidos com firmeza, amor e respeito para que percebam que assim se faz o relacionamento saudável. 

O ideal é que a família seja sempre a primeira e principal envolvida na educação afetiva e sexual dos filhos. Afinal, é ela que estabelece os valores a serem vividos e transmitidos. Quando se delega esse âmbito a outros, o resultado pode ser desastroso. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga, educadora e palestrante. Site www.simonefuzaro.com.br e Instagram @sifuzaro

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