Crianças, adolescentes e eletrônicos em tempos de pandemia

Eis que esta realidade de isolamento social, de suspensão de atividades presenciais em escolas, cursos livres etc., trouxe para todos nós um grande desafio: a internet se tornou, ao mesmo tempo, nossa maior aliada e nossa maior adversária!

Explico: o que seria de nós nesta pandemia sem a internet? Não conseguiríamos ter contato com as pessoas, não conseguiríamos ver nossos entes queridos que estão distantes neste momento, as empresas e o comércio teriam paralisado completamente, as aulas seriam impossíveis, enfim, a dificuldade seria ainda maior do que a que estamos vivendo.

Por outro lado, nós, pais e mães de crianças e adolescentes, vínhamos num movimento de busca de equilíbrio no uso dos eletrônicos – e especialmente da internet – pelos nossos filhos. Já era muito comum casais buscando não oferecer telas aos seus filhos antes dos 3 anos de idade, ou fazê-lo por tempo bem restrito. Também muitos artigos e estudos vinham sendo publicados, conscientizando os pais de adolescentes a respeito do perigo da dependência dos eletrônicos, causando quadros de ansiedade, depressão e até mesmo de alterações neurológicas semelhantes às encontradas nos dependentes químicos. A busca por informações e estratégias para usar a rede com equilíbrio estava numa linha crescente e, da noite para o dia, a realidade mudou completamente e, quase tudo o que se faz, especialmente em termos de estudos, acontece on-line ou, no mínimo, diante de uma tela!

Crianças de 1 a 5 anos, ainda na Educação Infantil, foram expostas a uma grande rotina de atividades on-line para sua faixa etária. Os alunos de Fundamental 1 e 2 chegam a ter períodos semelhantes aos presenciais, diante dos computadores. Tornou-se quase essencial nas casas um número maior de aparelhos conectados à rede, para que os pais pudessem trabalhar; e os filhos, estudar. As casas se transformaram em espaços multifuncionais: além de lares, escolas, escritórios… Não é exagero dizer que crianças e adolescentes estão expostos, a maior parte do tempo, a situações de “conectividade” intensa.

Não é por isso que vamos perder de vista tudo aquilo que sabemos sobre os problemas que o excesso de exposição aos eletrônicos pode gerar, não é mesmo? Por isso, vamos encarar esta realidade com o olhar crítico que ela merece: sim, precisamos da internet e dos eletrônicos mais do que em nossas rotinas anteriores, mas não iremos permitir, por isso, que os nossos filhos sejam ou venham a ser prejudicados. Lembrem-se: o mesmo remédio que cura, mata. Tudo é uma questão de dosagem.

Vamos nos dedicar a criar momentos de brincadeiras e passatempos que não estejam relacionados ao mundo digital, vamos resgatar jogos de tabuleiros, de cartas, leituras em família, músicas, enfim, vamos proporcionar aos nossos filhos experiências diferentes das quais estão imersos por necessidade. Vamos ficar atentos ao volume de atividades e de aulas virtuais propostas pelas escolas: será que estão sendo efetivas ou somente estão cumprindo o papel de entregar aquilo que foi contratado em tempos anteriores à pandemia?

Não esqueçam que há um limite saudável para a exposição às telas: o excesso pode causar nas crianças e adolescentes distúrbios do sono, de humor e cognitivos (sobrecarga sensorial, falta de sono restaurador, hiperestimulação do sistema nervoso, estados depressivos, níveis de atividade física reduzidos, atenção dispersa, esgotamento de reservas mentais, desenvolvimento emocional atrofiado).

Estamos todos cansados, é verdade. O amor a nossos filhos, nossas maiores riquezas, porém, com certeza servirá de combustível para encontrarmos saídas criativas para essa “sinuca de bico” em que fomos colocados. Lembrem se: quanto maior o obstáculo, maior o crescimento que nos traz e muito, muito maior, a alegria de o superarmos. Nossos filhos, mesmo que não saibam, contam com isso.

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