Educar é respeitar a criança

Uma rápida olhada nas redes sociais já é suficiente para nos depararmos com inúmeras teorias e técnicas para a educação dos filhos.

O que chama a atenção, no entanto, é perceber que existe uma grande maioria delas absolutamente tomada pela preocupação de que o processo educativo seja respeitoso, acolhedor, afetivo… enfim, elas associam ao substantivo “educação” uma série de adjetivos que, de algum modo, abrem a possibilidade de que existam processos educativos desrespeitosos, agressivos, repulsivos a priori.

Muitos dos “problemas” de autoestima, insegurança etc. vão sendo associados a esses processos educativos inadequados, segundo essas modernas teorias. É comum encontrarmos, por exemplo: “Se você não acolhe sempre o choro da sua criança, ela crescerá se sentindo abandonada”; “Se você não permite que a criança escolha desde pequena, ela se tornará um adulto submisso, que tem dificuldades em tomar iniciativas”; “Se você forçar seu filho a comer, ele se tornará obeso”. Cheguei a ver, com surpresa, um vídeo que comparava o ato de respirar com o de comer e orientava as mães a nunca “obrigar” as crianças a comerem, assim como nunca as obrigam a respirar. Dizia o especialista: “Nenhuma mãe controla a quantidade de movimentos respiratórios das crianças, por que decidem controlar a quantidade de alimentos?” Ocorre que respirar se trata, exclusivamente, de um ato motor controlado pelo sistema nervoso neurovegetativo e que responde à manutenção da vida de modo automático. A alimentação, no entanto, acontece prioritariamente quando o hipotálamo recebe informações por meio de um hormônio (grelina) que é liberado pelo estômago quando se encontra vazio e, na sequência, ativa a sensação de fome. Porém, alimentar-se, além de suprir a necessidade gerada pela fome, é também um ato relacionado ao prazer, um ato que respondemos de modo voluntário e não involuntário como a respiração. Temos crianças seletivas, crianças com intolerância, crianças que precisam de mais ou menos ajuda para regular sua percepção de fome e saciedade. Nunca ouvi falar de crianças que deixassem de respirar para chamar a atenção dos pais, porém, é comum termos crianças que percebem o quanto afetam as mães quando deixam de comer, não é mesmo? Por isso “sempre” e “nunca” tanto me preocupam nessas orientações sobre a educação dos filhos.

Muitas dessas orientações, embora se digam científicas, nada ou quase nada refletem o que nos mostra a realidade sobre a formação do caráter e da personalidade das pessoas. Seres humanos não são assim, tão simples. Basta que o choro não seja atendido para que se sinta abandonado, basta que a mãe grite que não se sente amado e provavelmente crescerá inseguro… seres humanos são complexos, se formam num processo longo que se dá a partir de um vínculo dinâmico e perfectível.

Claro que, nas mais diferentes épocas históricas que a humanidade viveu, muitas estratégias foram usadas e hoje, se olhadas a partir de nossa atual circunstância, podem parecer extremamente agressivas ou desrespeitosas. No entanto, a intenção educativa, provavelmente era a melhor possível, salvo raras exceções que sempre aconteceram e continuarão acontecendo.

Sim, precisamos estudar, nos aperfeiçoar, compreender como funcionam as crianças nas diferentes etapas da vida e procurar orientá-las de modo adequado (sem excessos), para que se tornem pessoas de bem. No entanto, cuidado com a polarização que se coloca nessas diversas técnicas educativas modernas: o que mais vejo são mães absolutamente inseguras, sem voz e sem ação diante de atitudes absolutamente inconvenientes dos filhos, por medo de não serem acolhedoras, respeitosas e afetivas.

É respeito, afeto e acolhimento compreender as manifestações do seu filho e orientá-lo para que cresça nas virtudes. É respeito, afeto e acolhimento salvar as crianças de seus impulsos imaturos, colocando limites claros com amor e firmeza. É respeito, afeto e acolhimento dizer não quando necessário e suportar manifestações de frustração sem mudar de posição. Sua criança não se sentirá abandonada, garanto: se sentirá amada. Quem ama quer fazer o outro melhor, aposta em seu potencial e mal-entendidos acontecerão, não se engane. No entanto, o vínculo, a presença, o tempo os ressignificará. Educar é um ato para a vida, nem sempre os filhos reconhecerão durante o processo o valor do que os pais estão fazendo, mas, quando adultos, certamente colherão os frutos das sementes que foram plantadas.

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