Outubro é dedicado às missões no calendário da Igreja Católica. Quando nos chega aos ouvidos “missionários”, de imediato vem à memória a era dos descobrimentos, quando jesuítas foram enviados aos quatro cantos do mundo para catequizar os povos. Missionários estão ligados a tarefas em lugares distantes, onde é preciso anunciar Cristo àqueles que não O conhecem. Assim, na África ainda há muitos missionários, assim como no Extremo Oriente. A eles também atribuímos a coragem de permanecer em trabalho em lugares difíceis, como a Amazônia, nos quais somente pela fé sobrevivem às constantes dificuldades da região. Podemos, porém, ser missionários nas grandes metrópoles, já cristianizadas? Seremos missionários em lugares em que as dificuldades não estão nos acidentes da região, mas no comportamento das pessoas? É possível ser missionário sem se deslocar para lugares longínquos, mas permanecendo na própria casa, e quem sabe com vizinhos e a própria família?
Quando São João Paulo II afirmou que seria necessário “recristianizar” a Europa, ele não estava fazendo uso de uma figura de linguagem. Pelo contrário, era a simples constatação do que já vinha ocorrendo no Velho Continente que cristianizou o mundo, e agora caminha, a passos gigantes, para um ateísmo proselitista. Não é preciso ir à Europa: a Terra de Santa Cruz (Brasil), cristianizada pelos jesuítas, e que 50 anos atrás contava com quase 90% de católicos, hoje alcança pouco mais de 50% em algumas regiões. É preciso recristianizar o Brasil!
Pode parecer que falte aqui o respeito às demais manifestações religiosas, com as quais se deve conviver. Por que teríamos que desejar ampliar a recristianização? Isso não é uma questão político-partidária, mas o cumprimento de uma ordem de Cristo: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20). Não é difícil perceber o que está acontecendo nos lugares do mundo onde estas palavras foram esquecidas ou desdenhadas. Fanatismo? Não. É uma decisão pessoal cumprir o que você diz acreditar, ou fazer o “politicamente correto”.
E a missão inicia-se em casa, na família. As pessoas estão se tornando “órfãos de fé” pelo despreparo e falta de comportamento condizente de seus pais. “Órfãos de fé”, que saem como qualquer criança órfã em busca de um lar que as acolha. Vão em busca de alguém que se interesse por elas. Querem saber quem são, como chegaram ao mundo, que caminho devem seguir, que sentido devem dar à própria vida. E, diante da omissão dos pais, “comem” o que aparece pela frente. O risco de “intoxicações alimentares” é grande, principalmente quando, em virtude da boa aparência enganosa, se come muito, sem imaginar os efeitos tardios. “Vou deixar meu filho crescer e escolher o que quer seguir, a religião deve ser livre, não forçada.” Então, espere pelo seu filho decidir o que quer comer, se vai se agasalhar no frio, se deseja ir à escola, tomar pinga em vez de suco, e usar drogas ao invés de evitá-las. Caso sobreviva, poderá, quem sabe, fazer uma escolha. Os “órfãos de fé” crescem porque os pais deixaram de assumir a sua responsabilidade de educadores religiosos (tema do artigo de 10/09/20 deste jornal, pág. 7). Infelizmente, mesmo em vários colégios de origem católica, muitos professores educam para uma formação de igualdade religiosa, que, além de confundir a criança, foge totalmente aos fundamentos do Cristianismo, abrindo as portas para uma aceitação de que “tudo é válido”.
O papel missionário em nossos lares já é mais do que urgente! Os pais devem se empenhar ao máximo, a partir de seus exemplos pessoais, em passar aos filhos o catecismo vivo da fé. Isso não significa oferecer uma hora de aula por dia falando de religião em casa. O missionário na família educa em Cristo pelo seu interesse pelos filhos e os demais. No esforço por crescer nas virtudes da fé, da paciência, da laboriosidade, da perseverança, da alegria acolhedora, da compreensão porque ama; e manter a esperança, mesmo quando tudo parece não ir como o esperado. E conforme a idade de cada filho, oferecerá progressivamente meios de desenvolver esta intimidade com Aquele que tudo nos ensinou: Jesus Cristo. Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora da Igreja, tem o título de padroeira das missões, sem nunca ter saído da vida de clausura carmelita. Devem também os pais, pelo comportamento em seus lares, se tornar missionários para a recristianização do mundo. Santa Teresinha, rogai por nós.