Na vida, muitos são os caminhos e possibilidades, e nem sempre acontece de formarmos nossa própria família. Alguns por se dedicarem a uma vocação específica (sacerdócio, vida contemplativa); outros por não encontrarem ninguém com quem valha a pena compartilhar a existência; outros por empreenderem um caminho profissional mais árduo, exigente, e, por isso, acabam não constituindo família. Apesar disso, há uma realidade inegável: todos nascemos em uma família e levamos para a vida experiências, memórias e aprendizagens que fizemos dentro dela.
Nossa história pessoal se inicia no seio de uma família e tem seus primeiros marcos exatamente nela. Os valores e princípios que aprendemos de nossos pais, levamos para a vida e eles nos ajudam a balizar decisões, moldar posturas e encontrar sentido. Somos todos frutos de uma família e, sem ela, não estaríamos aqui.
Grande tem sido, ao longo das últimas décadas, a luta para a destruição da família. Muitíssimas correntes de pensamento e ideologias acabam contaminando gerações e pregando o rompimento com as tradições, com os princípios, com a “escravidão” que a família proporciona quando oferece valores sólidos aos seus, e indica caminhos que considera seguros para a conquista de uma vida feliz.
O mais interessante é que mesmo os que valorizam a família estão tomados por ideologias que contaminam o convívio familiar e não se dão conta disso. As relações entre os cônjuges estão marcadas por uma igualdade destorcida, em vez de se buscar uma unidade complementar. As relações com os filhos são regidas por dificuldade de exercer o papel de formadores dos pequenos e, geralmente, encontramos pais obedecendo aos filhos, filhos sem orientações claras a seguir em nome da liberdade (também entendida de modo equivocado). Pais que confundem afetividade com permissividade e acabam por não oferecer uma educação moral e intelectual integradas à afetividade geram pessoas sentimentalistas e enfraquecidas.
A depressão na infância e adolescência tem crescido nas últimas décadas no mundo inteiro. Embora não se tenha dados estatísticos precisos “estima-se que a incidência do distúrbio gire em torno de 1 a 3% da população brasileira entre 0 e 17 anos, o que significa, mais ou menos, 8 milhões de jovens”, como noticiado pelo site Escola da Inteligência.
Além dos quadros depressivos, encontramos muitos casos de ansiedade, transtornos de comportamento, enfim, estamos diante de crianças, adolescentes e jovens “infelizes”. Ao contrário do que dizem as teorias, os resultados não se mostram inspiradores – precisamos rever a rota.
Claro que existem tendências genéticas, mas são potencializadas por ambientes familiares inadequados ao bom desenvolvimento da criança. Existem fatores que protegem a criança de desenvolver essas doenças, mesmo quando há precedentes genéticos: um ambiente familiar equilibrado e rotinas claras. Pais amorosos, que mantenham um vínculo seguro e amável com os pequenos, que estejam atentos e ofereçam orientações seguras e limites claros podem, certamente, ser fatores que protejam os pequenos de todos esses transtornos. Se mesmo assim acontecerem, essa família estará mais apta a ajudar na superação deles.
Evidentemente, precisamos empreender um movimento de nadar contra a corrente. De olhar com sabedoria para dentro de nós mesmos e identificarmos como estamos sendo contaminados por essa imensidão de informações que nos chegam e como elas estão impactando nossa vida e a vida de nossa família.
Estamos conseguindo nos doar ou estamos nos sentindo injustiçados com essa possibilidade? Tomamos a rédea da educação dos nossos filhos ou terceirizamos em nome de falta de tempo, excesso de trabalho etc.? Optamos pelo melhor ou pelo mais fácil na hora de colocar limites ou fazer escolhas no cotidiano familiar?
Sim, formar família é uma grande aventura: iniciamos com o sim de uma vida a dois e não sabemos ao certo quantos seremos, como viveremos, quais circunstâncias se apresentarão. Somente uma coisa nos compete, com toda a certeza: o empenho em oferecer o nosso melhor nessa aventura. O propósito de sermos o(a) melhor marido/esposa/pai/mãe que pudermos. É importante sabermos que dessa nossa postura depende a construção de uma sociedade mais justa e a felicidade de muitos (inclusive a nossa própria); afinal, essa felicidade verdadeira, perene, grande, só alcançamos quando nos determinamos e nos doamos por algo que nos transcende – quando empreendemos o caminho de crescer em virtudes e de levar os nossos a alcançarem o máximo do seu potencial.