Formar filhos num mundo contaminado pela cultura woke

Entre tantos desafios que a vida moderna apresenta no processo formativo das crianças, acredito que este seja um dos mais nocivos.

Em sua tradução literal, a palavra woke significa “acordado”, no entanto, vem sendo usada para se referir a pessoas “acordadas, atentas, a questões relativas à justiça social”. No dicionário de Cambridge, a palavra aparece como “luta contra a desigualdade”. E, ao longo do tempo, essas ideias de desigualdade nociva, que começou por colocar uma classe contra a outra, evoluiu para colocar uma raça contra a outra, um sexo contra o outro, acaba por gerar um clima tão tenso nos relacionamentos, que impossibilita qualquer manifestação que não seja “politicamente correta”.

Obviamente, como todo mal, esse também se apresenta a nós com uma roupagem maravilhosa – quem em sã consciência não acha maravilhoso que as pessoas vivam de modo harmonioso, respeitando-se mutuamente, tendo oportunidades e possibilidades iguais? Mas, obviamente, basta um olhar um pouco mais atento à realidade e à história para saber que tal modelo de convivência social é absolutamente utópico e irrealizável.

Completamente movida pelo relativismo moral, essa cultura se impregna no cotidiano de modo sutil e vai avançando a extremos e, quando menos percebemos, estamos sendo levados por uma maré de ideologias que simplesmente negam realidades universais, naturais e objetivas próprias da pessoa: masculinidade, família, liberdade de expressão, noção de beleza, enfim, vamos nos tornando pessoas absolutamente engessadas, impedidas de falar o que desagrada a alguém (mesmo que esse alguém nem saiba exatamente o que o desagrada). Pior do que isso: somos levados a acreditar que não podemos falar com nossos filhos desta ou daquela maneira, afinal isso os influenciaria a serem o que “podem não querer ser”.

Na Inglaterra, por exemplo: “A Bright Horizons, gestora de creches e pré-escolas do Reino Unido, enviou um manual de ‘boas práticas’ aos pais das crianças matriculadas. Segundo a cartilha, as famílias não podem chamar as filhas de ‘bonitas’ e ‘princesas’. A responsável da empresa, Laura Linn Knight, disse que as pessoas precisam ‘ter cuidado’ com a forma como estão ‘estereotipando’ meninas que gostam do que é feminino: ‘Não vamos prender as meninas em um papel específico apenas por causa de seu sexo’”, lê-se na reportagem “A nova da cultura woke: pais não podem chamar filhas de ‘princesas’”, publicada no site https://mundoconservador.com.br. Também faz parte desse movimento no Reino Unido a proposta de reescrever obras clássicas como “A fantástica fábrica de chocolate” e “Matilda”.

Na perspectiva da cultura woke, há uma onda de “é proibido proibir” e, assim, vamos sendo acuados cada vez que nos percebemos: caucasianos, homens ou mulheres, bonitas, já estamos automaticamente fazendo parte de uma maioria tóxica, dominadora e injusta: uma verdadeira loucura.

Filmes clássicos estão sendo produzidos de modo a incluir personagens descontextualizados e inusitados – Cinderela (2021) teve a fada madrinha substituída por um homem homoafetivo; Branca de Neve (que será lançado em 2024) terá como personagem principal uma latina e não contará com os anões nem com a clássica fala da rainha: “Espelho, espelho meu, existe mulher mais bela do que eu?”. Serão introduzidos conceitos de “igualdade, justiça”, enfim, se reescreve as histórias naturalizando o que não é natural e introduzindo no imaginário de nossas crianças ideologias que as arrastam ao longo do tempo, para uma vida absolutamente vazia de sentido e infeliz.

Na cultura woke, torna-se injusto perder, todos precisam ganhar. As diferenças precisam ser apagadas, higienizadas e não vividas com a beleza e dificuldade que podem trazer. Sim, viver é difícil, exige fortaleza, exige “criar casca” e enfrentar os desafios. No entanto, nessa perspectiva ideológica, vamos tornando nossas crianças fracas – são criadas para receber, não se frustrar, não perder, não sentirem a dor das diferenças, para ganharem o que quiserem e, evidentemente, para se tornarem fadadas ao insucesso, à incapacidade de pensar profundamente sobre a realidade, de lidar com frustrações e fracassos vendo-os como oportunidade de crescimento, de superação.

Por isso, queridos pais, abram os olhos, não tratem com naturalidade a desconstrução dos clássicos, a linguagem neutra, a ideologia de gênero, a desmoralização da família. Fiquem atentos, formem-se bem e formem bem seus filhos. Que sejam pessoas virtuosas, que saibam tratar com respeito e caridade os que precisam – porém sem apagar as peculiaridades e características próprias de cada um. A verdadeira virtude dá conta de formar pessoas que sabem amar, mas amar de modo verdadeiro e transcendente, e o amor tira de cada um o melhor.

E quanto ao sofrimento e à injustiça? Sempre acontecerão, fazem parte da vida. Formemos pessoas que diante deles saibam se doar, saibam amar, saibam ser fortes, generosas e, assim, pessoas cada vez melhores e que, por isso mesmo, tornam os que estão ao seu entorno também melhores.

guest
1 Comentário
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Natália
Natália
22 dias atrás

Texto perfeito!