Lendo as notícias diárias nos mais diferentes noticiários, atendendo famílias, observando as pessoas nos mais variados lugares e circunstâncias, eu me pergunto: podemos, de fato, considerar essas últimas gerações bem preparadas? Estariam bem preparadas para quê? Tiveram uma enorme gama de estímulos, aprenderam desde cedo a identificar sentimentos, foram expostas a experiências ricas ao estímulo cognitivo, mas, no entanto, foram protegidas de todas as pequenas frustrações.
Gerações que aprenderam a nomear sentimentos, a falar sobre eles, mas não aprenderam a sublimá-los, a dominá-los e, portanto, vitimizam-se diante de toda e qualquer adversidade. Acreditam piamente que precisam ser compreendidos, aceitos e validados. Porém, não aprenderam a ser recíprocos – a compreenderem, a perdoarem, a enfrentarem a frustração real e intransponível: na vida, a injustiça, os limites e frustrações se apresentam, queiramos ou não.
Pessoas que foram acostumadas a receber com facilidade, a viajar e experimentar do bom e do melhor, fruto das condições alcançadas com a luta dos pais e que não foram ensinadas a perceber o esforço que possibilitou tudo isso, não aprenderam a valorizar o empenho, agradecer, amar a conquista. Afinal, como amar a conquista que exige esforço, quando estão habituados a ganhar mais do que sonham sem esforço algum?
Pessoas que falam diversas línguas, vivenciaram experiências culturais ricas, viveram em ambientes familiares fartos (mesmo que com muito sacrifício dos pais) e permissivos (afinal, frustração pode traumatizar), mas, no entanto, entram na vida adulta iludidas: acreditam que a felicidade é um direito recebido ao nascer, que o espaço profissional precisa ser harmônico, acolhedor, justo por princípio e não por uma construção da qual fazem parte integrante.
Volto à reflexão principal: o que é uma pessoa bem preparada?
Estará bem preparada se tiver habilidades e competências intelectuais, mas não tiver uma boa formação moral e da vontade? Saberá enfrentar a vida e entender que ela é feita de esforços, frustrações e enfrentamentos, se não tiver vivido em família a experiência de ser estimulado a esforços constantes para servir melhor aos outros, contribuir com a ordem na casa, ajudar em tudo o que já for capaz?
Entenderá que o sabor da conquista pessoal em que há empenho, mérito e aprendizagem leva a uma felicidade que realmente edifica. Felicidade que é fruto de crescimento pessoal, de autoeficácia crescente, da possibilidade de se perceber alguém que pode deixar marcas no mundo, que pode fazer diferença nos ambientes onde estiver?
Em março, foi divulgada uma pesquisa que aponta para sinais preocupantes sobre o preparo dessa geração, no que diz respeito ao mercado de trabalho. “O estudo afirma que os jovens da geração Z têm sido alvo de reclamações pelo comportamento no ambiente de trabalho: a lista inclui o uso de roupas inadequadas para a situação, dificuldades em cumprir horários e de lidar com a rotina estabelecida, falta de habilidades de comunicação – tanto na redação de e-mails quanto na participação em reuniões –, desafios em gerenciar a carga de trabalho e uma tendência a se ofenderem ‘facilmente’”, consta em uma notícia, publicada em 6 de março no site do jornal O Estado de S. Paulo, sobre a pesquisa. Nesse estudo, aparecem dados surpreendentes tais como pais que questionam a demissão dos filhos, que acompanham os filhos na entrevista de trabalho, enfim…
Pais, olhemos para tudo isso de modo muito crítico e profundo: que tipo de pessoas queremos colocar no mundo? Estamos preparando essas pessoas para a vida ou, na verdade, abandonando-as iludidas a uma realidade que não encontrarão? Coragem, sempre é tempo de realinhar a rota.