Quando não se sabe o verdadeiro sentido de formar uma pessoa

Infelizmente, estamos vivendo tempos em que se perdeu a noção do significado de formar uma pessoa. É muito comum termos conceitos confusos e deturpados sobre a formação humana, uma vez que acabamos por acreditar que o mais importante na formação de uma pessoa é cuidar de seus sentimentos e, o pior: entendemos que cuidar deles é acolhê-los e validá-los. Ou seja, cuidar dos sentimentos é aprisionar a pessoa neles, ignorando o fato que ser pessoa significa ampliar esse horizonte e abrir a possibilidade de reelaborar sentimentos a partir de uma vida racional rica, que integra as diferentes potências humanas. 

Muitas dessas confusões se devem às teorias modernas de educação amplamente divulgadas pelas redes sociais: aquelas que chamo, de modo genérico, “positivas”. E aqui faço um adendo: ser positivo no ato educativo é muito importante, ou seja, ao invés de apontar para os filhos suas dificuldades e rotulá-los a partir delas, podemos e devemos atraí-los para o quanto podem melhorar, crescer. Por exemplo: em vez de dizer “Não adianta falar com você. Você não muda”, podemos dizer “Tenho certeza de que é capaz de agir melhor, confio em sua capacidade”; ou substituir um “Você é muito egoísta” por “Sei que conseguirá ser mais generoso. Empreste esse brinquedo”. Mas isso não é o que pregam tais teorias. 

Algumas mães, felizmente, estão percebendo na prática os maus frutos dessas teorias (vide artigo “Mães apontam frutos negativos da educação positiva e especialistas explicam riscos” – 24/09/2024). Crianças que crescem em tamanho, mas não em maturidade, em capacidade de dominar melhor seus impulsos e de comportarem-se de modo mais adequado, como seria esperado. Hoje, temos crianças na segunda infância (de 7 a 12 anos) comportando-se como crianças pequenas – fazendo birras, sendo desrespeitosas com os pais e mais velhos, ignorando os limites que são absolutamente necessários para uma vida mais harmoniosa. O pior: crianças e adolescentes incontentáveis – nada é o suficiente, ninguém os entende como gostariam, são ingratos, não conseguem perceber o esforço e entrega de seus pais no cotidiano. É como se tivessem somente direitos e tudo o que se faça por eles não é mais do que a obrigação. 

Esses resultados não me surpreendem, afinal, tais teorias foram criadas sobre uma concepção de pessoa muito restrita (diria equivocada) e, sem um estudo longitudinal que colocasse à prova os resultados reais. Elas ganharam corpo e vulto em um momento sócio-histórico marcado pelo sentimentalismo e pela polarização generalizada: pais autoritários – filhos traumatizados; pais que determinam limites – filhos pouco criativos; pais que não dão poder de escolha – filhos sem liberdade. Esqueceu-se de considerar que o processo educativo do homem é longo e gradativo, que há de se ensinar tudo, inclusive a ser pessoa, e a ter capacidade e habilidade para escolher. Esqueceu-se de que, na vida humana, a frustração e o sofrimento, mais do que causar traumas, forjam o caráter, ampliam horizontes. Mas, para que isso aconteça, é preciso que os pais – maduros e convictos de seus valores – deem sentido aos pequenos sofrimentos do cotidiano em vez de evitá-los. Ajudem os filhos a descobrirem a força que têm para superarem os “pequenos traumas e frustrações”, já que na vida eles são e serão inevitáveis.

Não poderemos almejar que as crianças se tornem pessoas maduras se os pais estiverem perdidos, seguindo técnicas que visam a evitar frustrações e pequenos “traumas”, sem entender, de fato, o que significa ser criança e do que ela precisa para se tornar um adulto forte, capaz de superar pequenos traumas, suportar frustrações e criar diante dos obstáculos. 

Queridos pais, acordem para a importância de educar seus pequenos filhos para a vida real, para aquela que de fato eles encontrarão. Entendam a beleza que envolve formar uma pessoa. Lapidar tão precioso diamante exige força, rijeza e determinação. Exige coragem de enfrentar as birras e insatisfações, sabendo que o reconhecimento e a compreensão virão somente com o tempo. Não tem importância. Educar não é sobre ser querido e sim sobre forjar uma pessoa, ajudando-a a ser o que foi criada para ser. 

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