Em artigo anterior, tratamos da questão da dificuldade de equacionar o trabalho profissional e o trabalho familiar, especialmente neste momento de home-office constante. Pensando em resgatar o aspecto dignificante do trabalho, em que ele tem o status de possibilidade criativa e transformadora do homem e da sociedade, em que o serviço aos demais ganha importância e significado, e o valor material que ele gera recebe o status de resultado e não de objetivo, vamos analisar as pequenas atitudes do dia a dia que podem colaborar com esse propósito.
1. É importante identificar o motivo que nos leva ao trabalho profissional. O que nos leva a dividir o tempo entre o trabalho familiar e o profissional? Qual o propósito, o que aprendemos e ensinamos, o quanto crescemos com isso? Diante dessa clareza, é bom revermos aquele discurso tão presente nas relações entre pais e filhos: “O papai e/ou a mamãe precisa trabalhar para comprar roupinha e brinquedo para você”. Com essa fala, estamos exatamente mostrando à criança que o objetivo do trabalho é o salário, quando na verdade isso deveria ser o resultado.
2. Cuidar de delimitar com clareza para a criança quando o trabalho profissional que está sendo realizado em casa comporta a presença dela e quando não – por exemplo, em uma reunião on-line. Nesse momento, a criança pode ser orientada a não interromper, e outro recurso deve ser oferecido em caso de necessidade: um adulto ou irmão mais velho que possa atendê-la ou, em caso de muita necessidade, uma batida na porta para que o adulto identifique a urgência. É importante “treinarmos” com os filhos a percepção de que existem momentos em que só podemos ser interrompidos se houver extrema necessidade. Lembre-se: treinar. Sim, a aprendizagem se faz com treino, a atitude de aprender a esperar precisa ser treinada. Não podemos esperar que a criança “saiba” que se trata de um momento importante no trabalho. É preciso deixar isso claro usando os recursos necessários à compreensão, de acordo com a idade. Por exemplo: fechar a porta e colocar um desenho que lembre o combinado de não entrar; avisar sempre antes de iniciar e logo quando a reunião terminar, dar uma tarefa para que a criança realize enquanto você está ocupado(a). Enfim, muitos podem ser os recursos – o importante é o combinado estar claro e bem delimitado.
3. Quando se trata do trabalho familiar, que envolve os cuidados com a casa, deve-se atribuir tarefas aos filhos, estimulando-os a realizá-las com dedicação. O exemplo é fundamental: se fazemos nossas atividades reclamando, sem capricho, com tom de obrigação, certamente não estimularemos os filhos a fazê-las bem e perceberem que são importantes. É preciso que percebam que o resultado delas, embora não seja financeiro, é afetivo e extremamente importante para o ambiente familiar sadio. Crianças adoram desafios e tendem a se alegrar quando incluídas nas atividades de casa: tirar o pó enquanto um adulto varre, esfregar uma bacia de meias enquanto o adulto coloca a roupa para lavar, ajudar a esticar o lençol da própria cama ou arrumá-la sozinha, dependendo da idade, ou ajudar numa receita culinária. Desse modo, vamos despertando-os para a importância de servir, de contribuir com a casa e com os pais.
4. Vivemos um momento de estresse, e, portanto, vamos ser complacentes conosco mesmos. Refletir sobre esses aspectos tão importantes da vida e que fazem parte da formação de nossos filhos é um passo muito positivo, mas nem sempre conseguiremos agir adequadamente, de acordo com nosso propósito. Estaremos cansados, irritados, ocupando nossa mente com problemas, e certamente algumas vezes nossa conduta não será como tínhamos planejado. Sem problema: a tranquilidade é fundamental. Afinal, essa é a vida – nem sempre agimos como pretendíamos. O importante é que, quando temos clareza do objetivo, sabemos para onde voltar depois do erro, e recomeçamos. A aprendizagem é um processo, e ensinar aos filhos que todos erramos também é uma riqueza para a vida! Em caso de erro, sorria e recomece!