Com o Domingo de Ramos, inicia-se a Semana mais importante do ano. O ramo que receberemos na procissão deve ser colocado em um lugar visível de nossas casas. Além de abençoar o lar, ele nos recordará de que continuamos, ao longo de todo o ano, unidos ao mistério da Paixão e Morte de Cristo.
Entraremos com Jesus em Jerusalém para passar a Semana Santa ao seu lado, como em um retiro espiritual. Faremos o propósito de consolá-Lo espiritualmente em meio às polêmicas com os judeus, diante da traição de Judas, no Getsêmani, em sua prisão, flagelação, coroação de espinhos, humilhação pública e crucifixão. Faremos isso com a certeza de que, quando buscamos consolá-Lo, é Ele, na verdade, quem nos consola, assim como fez às filhas de Jerusalém (cf. Lc 23,28).
São Lucas mostra que, mesmo durante a Paixão, Jesus não pensou em Si mesmo. Em meio à angústia mortal, pensou primeiramente em seu Pai. Orou para Ele de joelhos e, em troca, foi consolado por um Anjo (cf. 22,43). Assim, confirmaram-se as palavras do Apóstolo: “O Deus de toda consolação nos consola em nossas aflições para que possamos consolar os que se encontram em qualquer aflição por meio da consolação que nós mesmos recebemos” (cf. 2 Cor 1,3s).
A partir daí, Cristo passou a Paixão fazendo o bem! Tentou pela última vez advertir a consciência do traidor, para que se arrependesse e fosse salvo: “Judas, com um beijo tu entregas o Filho do homem?” (Lc 22,48). Curou a orelha de um dos que O prendiam (cf. 22,51). Olhou para Pedro profundamente, levando-o a se arrepender da negação (cf. 22,61). Ironicamente, levou até mesmo Herodes e Pilatos, os responsáveis por sua condenação, que eram outrora inimigos, a se reconciliarem (cf. 23,12). A simpatia que causou no último serviu até mesmo para salvar a vida a Barrabás (cf. 23,25), um criminoso.
Enquanto caminhava para o Calvário, encorajou e advertiu aqueles que, compungidos, se lamentavam (cf. 23,27). Sob intensa dor, ao ser crucificado, orou pelos algozes e por todos: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (23,34). Em meio à agonia atroz, já suspenso na Cruz, moveu um criminoso à fé e à conversão, prometendo-lhe ali mesmo a salvação eterna: “Em verdade, eu te digo: ainda hoje, estarás comigo no Paraíso” (23,43).
Até o modo sereno e confiante como aceitou a morte por meio da oração – “Pai, em Tuas mãos entrego o meu espírito” (23,46) – levou muitos dos presentes à conversão e à fé. O soldado, que era até então implacável na condenação, reconheceu: “De fato, este homem era justo!” (23,47). E muitos dos que assistiam a tudo como a um espetáculo voltaram para casa batendo no peito, arrependidos (cf. 23,48).
Mais eficaz do que qualquer pregação, a Paixão de Cristo deixou um perfume de bondade no ar e espalhou consolação, conversão e arrependimento. Meditar a Paixão do Senhor com amor e com devoção nos levará a receber tal consolação. Assim, já não olharemos tanto para nossa própria dor e, com Ele, consolaremos também os outros.