Cuidados proporcionais e desproporcionais com os pacientes

Com o avanço da Medicina, as famílias têm se sentido cada vez mais desorientadas com o que deve ser feito com pacientes em fim de vida. Para esses doentes, existe hoje todo um campo das ciências médicas, que se dedica aos cuidados paliativos, os quais consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais. 

O Papa Pio XII falava que esses cuidados funcionam como categoria ética e não clínica, como critérios para uma decisão moralmente boa ou ruim, para ajudar a determinar a suspensão ou o não início de uma determinada terapia. Em várias ocasiões, ele estabeleceu claramente os fundamentos do ensino católico sobre o cuidado no fim da vida. Seu ensino se baseava na dignidade da pessoa humana, na sacralidade de toda vida humana e no dever de usar bem e sabiamente o conhecimento médico, dentro de certas restrições éticas. Ele acrescentou que, sob certas circunstâncias, quando os tratamentos eram considerados extraordinários, eles poderiam ser retirados de forma legal.

Para Pio XII são considerados extraordinários os tratamentos excessivamente onerosos, perigosos, dolorosos, difíceis ou incomuns. Este ensinamento foi notavelmente reafirmado na Declaração sobre a Eutanásia, de 1980, e na Encíclica Evangelium Vitae.

Grande parte da dificuldade em aplicar os conceitos de ordinário e extraordinário se relaciona à determinação dos benefícios e encargos em uma situação clínica real. No passado, os moralistas respondiam que nunca se é obrigado a usar meios extraordinários. Essa resposta, que, como princípio, ainda é válida, talvez seja menos clara hoje em razão da imprecisão do termo e do rápido progresso feito no tratamento da doença.

Portanto, uma visão correta e aceitável confia ao julgamento do médico, juntamente com o paciente e/ou os seus responsáveis, a decisão a ser tomada de acordo com o critério da proporcionalidade do cuidado: eticamente, é correto fazer o que é considerado proporcional à situação em questão. Por outro lado, oferecer tratamentos extraordinários muitas vezes viola o dever do profissional de saúde de não causar mal aos pacientes, uma vez que esses tratamentos podem ser invasivos, onerosos, apenas adicionando dor e sofrimento ao paciente.

O “não” ao cuidado desproporcional não pode nem ser considerado uma renúncia ao tratamento, uma vez que esse cuidado não é um “bem” para o paciente, mas uma terapia que não é apropriada. Nesse caso, a vida não é em si um valor em jogo: o limite já foi alcançado, é apenas uma questão de aceitá-lo. Isso decorre de uma crença que sempre inspirou a ética médica tradicional em traçar o limite do tratamento, exigindo que o médico reconcilie dois imperativos: “não dar a morte” e, ao mesmo tempo, “não insistir em cuidados fúteis”.

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários