Da ‘Economia de Francisco’ à política melhor

Sergio Ricciuto Conte

No último dia 23 de junho, aconteceu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) uma audiência pública sobre a “Economia de Francisco” (frequentemente chamada no Brasil de “Economia de Francisco e Clara”).

A iniciativa faz parte de um grande processo internacional, iniciado pelo Papa Francisco, que tem por objetivo incentivar os jovens a criar, na teoria e na prática, novos modelos econômicos, mais humanos, solidários, inclusivos e com impactos socioambientais positivos – sob a luz do santo de Assis, que inspirou o nome do Papa.

Por terem um caráter prático e concreto, as iniciativas iluminadas pela “Economia de Francisco” frequentemente surgem como atividades do Terceiro Setor, onde a sociedade civil se organiza para resolver seus problemas.

Seguindo as diretrizes sugeridas pelo próprio Pontífice, “Economia de Francisco” se autoidentifica como um processo, não como projeto, organização ou mesmo movimento. A ideia é ter uma realidade aberta, inspiradora e capaz de incluir as mais diferentes posições conceituais e propostas práticas.

Sendo assim, trata-se evidentemente de um processo que deseja se afastar de qualquer perspectiva partidária, procurando agregar e incentivar todos aqueles que se comprometem com a proposta original. Isso não retira a sua dimensão política, inerente a qualquer experiência de mudança socioeconômica, nem sua meta clara de trabalhar por uma economia voltada aos mais pobres e à conservação do meio ambiente.

Na audiência pública na Alesp, além da apresentação da proposta e dos comentários feitos pelos deputados que apoiaram a iniciativa, houve mesas com a presença de organizações do Terceiro Setor comprometidas em gerar impactos socioambientais positivos e de organizações de diferentes religiões que realizam atividades de promoção humana (além dos católicos, estavam presentes metodistas e muçulmanos).

Significativamente, os deputados e deputadas que apoiaram a iniciativa são todos relativamente jovens e/ou estão no primeiro ou segundo mandato – sinal do espírito de renovação que caracteriza a “Economia de Francisco”. Contudo, o mais notável no evento foi o amplo espectro programático representado pelos políticos envolvidos na audiência: Marcos Damasio (PL); Marcia Lia (PT); Marina Helou (Rede); Janaina Paschoal (PRTB) e Daniel José (Podemos).

O Papa Francisco, sempre que toca no tema da política, insiste na necessidade da construção de uma “política melhor”, atenta às necessidades dos mais frágeis e dos excluídos, mas que se realiza no diálogo, no encontro e na formação de consensos. Sendo assim, nada mais significativo que deputados de diferentes tendências se encontrassem sob a inspiração de suas ideias.

No momento atual, de grande polarização política, quando ressentimentos e ideologias exacerbadas dificultam a construção do bem comum, uma das maiores contribuições que a Igreja pode dar é justamente ajudar a desarmar os espíritos, criando diálogos e encontros que levem à construção do bem comum.

Aqueles que estão mais interessados no poder de seus partidos do que no bem comum querem nos convencer de que a hegemonia daqueles que compartilham as suas ideologias é a condição para a edificação de uma sociedade melhor. Mas essa é uma postura enganosa.

Hegemonias partidárias não são eternas e tendem a se corromper com o tempo.  Numa democracia, o mais importante é a construção de boas políticas de Estado, que se mantêm ao longo de governos de diferentes partidos. Por isso é tão importante criar consensos que levem ao bem comum, unindo políticos diferentes.

O evento da “Economia de Francisco” na Alesp é um exemplo valioso para todos os que desejam realmente construir o bem comum.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

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