‘Dar a vida em resgate por muitos’

29º Domingo do Tempo Comum – 17/10/2021

Jesus subia a Jerusalém, consciente de que se aproximava o momento de sua Paixão e Morte. Sabendo do conluio que O aguardava na Cidade Santa, anunciou novamente aos discípulos que deveria morrer e ressuscitar. João e Tiago pediram-lhe, então, que permitisse que se sentassem um à sua direita e outro à sua esquerda quando estivesse na glória. O Senhor corrigiu esse pensamento e acalmou a indignação suscitada entre os Apóstolos por tal pretensão. Declarou que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos” (Mc 10,45). 

Com essas palavras, revelava que a finalidade de sua morte de Cruz era oferecer o resgate (lytron), isto é, “a redenção ou expiação dos pecados”. No Judaísmo antigo, uma vez por ano, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, invocava o Nome do Senhor e aspergia o propiciatório – local da presença de Deus – com o sangue do sacrifício. Acreditava-se que, quando o sangue “tocava” o lugar santo, as transgressões da Lei, que haviam sido transferidas para o animal oferecido como vítima, eram purificadas e canceladas. 

Essa era uma figura do verdadeiro perdão dos pecados, que seria realizado pelo próprio Deus feito homem. Jesus Cristo é o “Sumo Sacerdote eminente que entrou no Céu” (Hb 4,14). Ele – e não meros animais – assumiu em seu próprio Corpo nossas culpas. No sacrifício que ofereceu de si mesmo sobre a Cruz – que se torna presente na Eucaristia –, Ele reconciliou com o Pai todos aqueles que são aspergidos pelo seu Sangue. Esse é o sentido da morte de Cruz: Jesus resgatou, redimiu, expiou as nossas culpas! Por isso, diz São João: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e nos enviou seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados” (1Jo 4,10).

Todo pecado é uma ofensa a Deus. Como o Senhor tem uma dignidade infinita, os pecados constituem uma injustiça infinita à sua Majestade, que jamais seríamos capazes de reparar. Quando Jesus, “provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15), assumiu nossas culpas como se fossem suas, Ele mesmo pagou pessoalmente um preço que não teríamos como pagar e restabeleceu a justiça diante do Pai eterno. Ele é, portanto, o Cordeiro de Deus que carrega o pecado do mundo! Por isso, a Igreja ensina que Ele nos justificou: “Agora, justificados pelo seu Sangue, seremos salvos da ira por meio Dele” (Rm 5,9).   

Em Jesus Cristo, que “oferece sua vida em expiação” (Is 53,10), cumpriu-se o que Deus dissera por meio de Isaías: “Meu servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas” (Is 53,11). Esse é o “serviço” de Jesus feito no Calvário; e é esse o “serviço” litúrgico que se torna presente em cada Santa Missa: “Este é o Cálice do meu Sangue, da nova e eterna Aliança, derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados”. Portanto, “aproximemo-nos, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia” (Hb 4,16)!

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